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O primeiro-ministro do Catar, Khalid bin Khalifa bin Abdul Aziz Al Thani, assumiu em janeiro de 2020- GETTY IMAGES
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terça-feira 10 de maio de 2022 às 15:57h

O pequeno país que ficará ainda mais rico graças à guerra na Ucrânia

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Com menos de 3 milhões de habitantes, o Catar se tornou um país crucial para a Europa, que está em uma busca frenética para substituir as importações de energia russa.

Juntamente com a Austrália, este pequeno país do Oriente Médio é o maior exportador de gás natural liquefeito (GNL) do mundo e um potencial aliado comercial dos países da União Europeia, que até agora importam cerca de 40% do GNL do mercado russo.

Essa dependência energética entre a Europa e a Rússia não era um grande problema até fevereiro, quando o Kremlin decidiu invadir a Ucrânia, tornando a relação comercial cada vez mais insustentável.

A Europa já começou a assinar acordos de longo prazo para aumentar as importações de gás de outros países, mas isso não tem sido suficiente para compensar a perda das importações de gás russo.

Na Alemanha, por exemplo, 55% do gás consumido vem da Rússia. O ministro da Economia do país, Robert Habeck, recentemente disse que são necessárias medidas sem precedentes para reduzir a dependência e neutralizar o que ele vê como “chantagem energética do Kremlin”.

Não basta que a Alemanha receba navios com gás natural liquefeito (GNL) de outras latitudes, pois precisa construir as instalações para processá-lo, algo que pode levar de três a cinco anos, segundo cálculos do governo.

Apesar das dificuldades logísticas e dada a urgência das circunstâncias, Habeck disse: “Temos que tentar o impraticável”. E o país colocou o pé no acelerador com a aprovação de recursos para a criação de terminais flutuantes de GNL, que têm capacidade para receber o produto de lugares tão distantes como os Estados Unidos ou o Catar.

É assim que o Catar entra na mesa de negociações em boa posição após o início da guerra, justamente em um momento em que já havia feito investimentos significativos para aumentar a produção de gás e a infraestrutura.

“Certamente há uma oportunidade para o Catar”, diz à BBC Mundo Karen Young, pesquisadora sênior e diretora do Programa de Economia e Energia do think tank Middle East Institute, em Washington, nos EUA.

Navios cargueiros que transportam gás natural

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,O GNL pode ser exportado em navios

Planos de expansão

O Catar tinha planos de expandir a capacidade de exportação em cerca de 64% até 2027 antes do início da guerra, então a oportunidade de médio prazo para fornecer GNL para a Europa “será uma benção, tanto economicamente, se os negócios forem fixados a preços atuais, quanto politicamente”, diz Young.

Sendo uma monarquia semi constitucional com o emir como chefe de Estado e o primeiro-ministro como chefe de governo, o Catar não precisa passar por processos complexos de tomada de decisões ou obter apoio político de diferentes partidos.

O sistema político do país tem sido considerado por organizações ocidentais como um “regime autoritário”, uma descrição que o governo do Catar rejeita.

A Anistia Internacional denunciou práticas que considera “exploração e abuso” de trabalhadores migrantes.

Homem árabe com rouba branca e turbante está agachado e observa chaminés de onde saem chamas

CRÉDITO,GETTY IMAGES

As ambições do Catar

Refrigerado, o GNL tem a vantagem de que é mais fácil de transportar. Ele pode ser carregado em navios e não requer a construção de grandes gasodutos com investimentos de milhões de dólares a longo prazo.

O plano do Catar para aumentar suas exportações de GNL em 64% até 2027 foi anunciado em 2019.

Sob esse plano, a empresa estatal Qatargas fechou um acordo para expandir a exploração da reserva do Campo Norte, uma reserva gigante no mar que se estende até as águas iranianas e um dos maiores depósitos de gás natural do mundo.

A expansão permitiria ao país aumentar sua capacidade de produção de GNL de 77 milhões para 110 milhões de toneladas até 2025.

Vários países vizinhos da Alemanha estão conversando com o Catar para garantir importações adicionais de GNL.

A urgência de obter novas fontes de energia tornou-se mais aguda nas últimas semanas, depois que a Rússia cortou o fornecimento para a Polônia e a Bulgária em meio à ofensiva de guerra.

Plataforma de extração de gás em um mar azul e sob um céu azul

CRÉDITO,GETTY IMAGES

Legenda da foto,O Catar tem uma das maiores reservas de gás natural do mundo

Um país rico cada vez mais rico

Com mais riqueza per capita do que a Suíça ou os Estados Unidos, o Catar parece estar no caminho para se tornar ainda mais rico.

Isso porque a demanda também está crescendo em outras partes do planeta.

Atualmente, quase 80% das exportações de GNL do Catar vão para a Ásia, sendo Coreia do Sul, Índia, China e Japão os principais compradores.

E em volume de mercado, a China se tornou o maior importador de GNL do mundo após assinar um acordo com o Catar por um período de 15 anos.

Com a crescente demanda dos mercados asiático e europeu, especialistas afirmam que o Catar tem todas as condições para conquistar contratos rentáveis.

Embora nem tudo vá dar resultados imediatos, a gigante estatal Qatar Energy está funcionando a todo vapor.

A atual capacidade está comprometida sob contratos plurianuais que Doha diz que não cancelará para desviar suprimentos para a Europa.

Ainda assim, algumas empresas, como Morgan Stanley, esperam que a decisão da Europa de importar gás de outras nações impulsione um aumento de 60% no consumo global de GNL até 2030.

Enquanto esse cenário continuar tomando forma, a economia do Catar crescerá mais de 4% este ano, segundo o Citigroup – o maior crescimento desde 2015.

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