Um dos nomes mais influentes da direita brasileira, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), critica em entrevista a Andreza Matais e Leonencio Nossa, do Estadão, a ofensiva dos partidos no Congresso por cargos no Executivo. Em entrevista ao Estadão, ele não poupa nem sua legenda. No momento em que o Centrão avança em postos-chave no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o médico ortopedista de 74 anos defende a indicação de técnicos especialmente na cobiçada área da saúde. “Cabe ao presidente e cabe ao governador fazer indicações”, observa. “Se o governante abrir mão (de nomear), ele não está governando”, afirma. “Com todo respeito aos poderes, isso é prerrogativa do governante.”
Em seu segundo mandato, Caiado está na lista dos presidenciáveis. Ele sai em defesa dos estados do Centro-Oeste e do Nordeste nas disputas orçamentárias e tributárias. Ao mesmo tempo, critica tentativas de colegas do Sul e Sudeste de alianças fechadas entre lideranças dos mesmos campos políticos. “É ingênuo, é bobagem, é besteira que não tem pé nem cabeça, de que a direita tem que estar unida e a esquerda tem que estar unida.” Para ele, há questões mais complexas para resolver, como a segurança pública, a desindustrialização e o ensino.
Como o senhor avalia os primeiros meses do governo Lula?
Minha vida toda foi dentro do Legislativo. Tenho cinco mandatos de deputado federal e um de senador e, agora, pela primeira vez, estou tendo experiência de Executivo. O Parlamento é uma grande escola. O legislador é uma pessoa que deve ter uma habilidade de articulação política para poder formar maioria nos seus projetos ou naquilo que ele deseja. Quando cheguei no governo, eu me aproveitei da minha experiência de vida, buscando todos os presidentes de poderes: Ministério Público, Defensoria Pública, Tribunal de Contas, Assembleia Legislativa e Tribunal de Justiça. Sentei com todos eles e disse: “Olha o problema não é do governador, o problema é do Estado de Goiás o qual todos nós fazemos parte. Então, essa foi, talvez, a melhor decisão que eu tomei. Superei toda uma situação trágica, como seca, folha atrasada e falta de emprego e empréstimos, a ponto de conseguir que os poderes abrissem mão de parcela do duodécimo.
O senhor quer dizer que a campanha ficou para trás?
É preciso cada vez mais fincar os pés, buscar todos os poderes e decidir conjuntamente, para que as soluções sejam as mais pacificadas o possível e as mais eficientes. Os poderes são independentes, tudo bem, mas é como se fosse um acordo. Como é que é a situação do País? Como é que vamos resolver isso aqui? Quais são as medidas que nós temos que tomar? A decisão conjunta te respalda, te avaliza. O que eu sugeriria neste momento? Seria exatamente isso.
O senhor vê falta de diálogo do presidente?
Estou falando que, nessa hora, quando você busca uma presença de todos os poderes e órgãos independentes transmite para a sociedade que não está governando sozinho. Então, acho que, primeiro, eu me preocuparia em poder pacificar ao máximo a distribuição de funções e de poder nas minhas decisões. Cada situação exige uma discussão. Outra coisa, eu reconheço a importância do cenário internacional. Lógico, eu tenho noção disso. Mas, durante quatro anos, não saí de Goiás, era Goiás-Brasília-interior de Goiás. É importante que as pessoas sintam que você está presente, na perspectiva da melhoria da saúde, da estrada, da obra do colégio, do hospital.
O presidente viaja demais para fora?
Cada um tem o seu estilo. Eu priorizaria primeiro arrefecer o País, acalmar o País. Preferia agir mais. Agora, eu não estou aqui dando conselho ao presidente. Estou dizendo como o Ronaldo Caiado se comportaria. Não quero aqui ser professor de ninguém, de maneira alguma. Agora, cada um tem a sua experiência de vida. Ele já está num terceiro mandato, não sou eu que vou aconselhar. Eu acho que você precisa de ter, neste momento, uma atenção com todas as demandas que existem. Num primeiro momento, você tem as dificuldades de todo governante. Você tem a oscilação, tem momentos em que sua pesquisa está lá em cima e daqui a pouco a sua pesquisa está lá embaixo. Mas já dizia Marco Maciel, na vida política você não deve se preocupar com essas oscilações. Você deve se preocupar com o norte que você elegeu e definiu. Não pode ficar igual uma biruta para lá e para cá.
Em 1989, o senhor e o presidente Lula se lançaram candidatos pela primeira vez ao Planalto. Ali, era possível enxergar com certa clareza a conjuntura do País. Havia o campo e as cidades em expansão. Hoje, temos um País mais multifacetado. Agora, por exemplo, há as facções, o mundo maior das drogas atingindo o interior. Olhando em retrospectiva, o Poder Público não caminhou na velocidade que deveria?
Lógico que não. Totalmente defasado, ficou anos luz atrás naquilo que a sociedade esperava. Como é que você pode definir Estado Democrático de Direito e, no entanto, não tem direito a circular em vários bairros do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e outras cidades? Amanhã, saindo do seu GPS e entrando em uma área, você leva um tiro na cabeça. Todo mundo hoje lava as mãos, dá uma de Poncio Pilatos. É uma grande realidade que as pessoas preferem fazer cara de paisagem e fazer de conta que não estão ouvindo. Esse é um processo ascendente, com a capacidade hoje de arregimentação de pessoas, um poder bélico superior, muitas vezes, às forças de segurança dos Estados e que, no entanto, você não vê uma iniciativa no sentido de poder resgatar aquelas áreas e plantar o Estado Democrático de Direito, ser o Estado como o benfeitor ali ou o responsável pela gestão daquelas pessoas que vivem naqueles locais. Isso é um ponto muito sério. Nós estamos perdendo um espaço enorme. Será que esse processo vai avançar de uma forma silenciosa e amanhã responder por todos os poderes constituídos do Brasil?
Bolsonaro não fez esse debate…
Não me cabe aqui achar responsáveis por situações como essa. Não tem nada pior. E o debate não avança. Eu estou vendo o que é a deterioração, o que isso tem causado principalmente em jovens, crianças em faixa etária ainda próxima de 10 anos. É algo que me deixa totalmente inquieto, ansioso, porque aquele jovem e aquela criança sequelada jamais vão ter chance como as outras, é irreversível. Quando você vê aquela situação da Cracolândia, quando você vê a situação como se proliferam hoje na maioria dos Estados, você pensa: “Cadê o Estado?”
Três estados governados por partidos diferentes: Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro chocaram setores da opinião pública por conta de chacinas policiais que envolveram a morte, inclusive, de inocentes. Como que o senhor enxergou essas chacinas pela polícia?
Bom, isso aí eu não posso responder pelos meus colegas. O que o meu Estado fez foi cada vez mais especializar a polícia para combater aquelas pessoas que estão destruindo a nossa sociedade. Antigamente você não andava no entorno de Brasília. Hoje, você pode chegar lá meia-noite, uma hora da manhã, ir em uma padaria comer um pão, ir em um restaurante, sair, andar e voltar, pegar um ônibus e ninguém vai roubar o seu celular. Você pode andar porque tem um sistema de inteligência e você tem ações duras do governo.
Mas é uma polícia que tem licença para matar?
Eu não tenho polícia para matar, eu tenho polícia para defender a população.
Então, nesse caso dessas chacinas nos outros Estados o senhor acha que falta trabalho de inteligência?
Eu não saberia analisar o fato específico. Mas você tem que entender que todas as ações podem ter algumas falhas e alguns incidentes. Agora, por acaso, essa mesma chacina foi analisada de quantas crianças eles destruíram no nosso País? Isso foi contabilizado?
As pessoas que foram mortas pela polícia?
Não, falo das que foram mortas pelo tráfico. Cada um responde pelas suas ações. Agora, eu me preocupo em fazer com que a minha polícia seja a mais especializada. O que tem de mais sofisticado em armamento, o que tem de mais sofisticado em aparelhagem no mundo, eu importo para aqui. Então eu dou garantia para a minha polícia agir.
O CNJ publicou um relatório mostrando casos de tortura nos presídios de Goiás. Como que o senhor responde a isso?
Eu assumi o governo, Carmem Lúcia, presidente do Supremo, chegou em Goiás e ficou encurralada porque não podia chegar nem perto do presídio. Ali, todo mundo tinha telefone de celular. O Fantástico gravou lá dentro do presídio gente cheirando cocaína, alugando quarto a R$ 150 por hora para ter relação sexual e também fazendo churrasco. Quando as facções estão mandando nos presídios, você não vê nenhuma queixa. Eles conseguem mobilizar um batalhão de advogados. Esse caso, onde é que teve tortura? Uma cela que era uma cela para ter tratamento de pessoas com covid. Como que eu, médico, vou admitir na minha vida que tenha tortura dentro de presídio?
O senhor não reconhece então aquele relatório?
Não. Até porque não saiu. Aquilo foi uma ação preliminar e eu fui lá levar todos os dados. “Ah, mas uma pessoa sofreu uma agressão”. E quem detectou a agressão? A câmera de dentro do presídio colocada pelo governo. Hoje, dentro de todas as dificuldades de governo… eu, sem caixa, coloquei R$ 114 milhões de reais, construí dois presídios de segurança máxima no Estado, estou cumprindo o terceiro e estou investindo alto nessa área de presídios e de prisões provisórias.
Então o senhor garante que não há tortura nos presídios?
Lógico. Garanto que não tem. Eu não admito, isso nunca vai ter, jamais. Eu treino uma Polícia Penal muito bem. Agora, eu tenho que enfrentar uma equipe de bons advogados que são muito bem mantidos pelas facções. Aonde você leva um chefe de facção você leva junto 60, 80 advogados, com um poder de mobilização ímpar. Então essa é a realidade dos presídios.
O senhor acha que entidades como a OAB, por exemplo, faltam participar desse debate?
Eu já disse isso para o presidente da OAB de Goiás, sobre o porquê que não tem a cassação do direito da OAB dessas pessoas. Por que são dois pesos e duas medidas.
O senhor fala de advogados que advogam para o tráfico? Ou que se envolvem?
Minha filha, aí não tem bonzinho nisso. Hoje, a vida como ela é não quer ser encarada pelas autoridades. Ele fala: “Bom, meu mandato são quatro anos. Depois de quatro anos eu vou sair daqui e vou ficar na mão dos bandidos. Então, ninguém quer. Essa é uma realidade que as pessoas hoje ficam. Então, se essa situação não for assumida com muita responsabilidade e muita competência, o Brasil vai se deteriorar como o resto da América Latina e América Central.
Como avalia a capacidade do ministro da Justiça, Flávio Dino, de conduzir esse debate nacional?
É uma pessoa preparada, culta. Foi meu colega como deputado federal. Mas na questão da política que ele vai implantar para fazer esse combate, eu não fui chamado para discutir.
Bolsonaro governou por meio de orçamento secreto e emenda Pix. O governo Lula agora segue a mesma receita. O poder presidencial na questão orçamentária acabou? Hoje o Congresso domina boa parte do orçamento que era do Executivo.
Eu acho que essa é uma outra indefinição que vive a política nacional. Nós temos que resolver. Ou é presidencialismo ou é parlamentarismo, não dá para ter essa condição híbrida. Como é que você vai governar? O cidadão vota no plano de governo do presidente ou do deputado federal? Ele vota no plano de governo do governador ou do deputado estadual? Quem tem plano de governo é o candidato majoritário. Fui deputado e senador por 24 anos. Emenda minha devia ser R$ 2 milhões, R$ 1 milhão? Não comprava três tratores. Agora, se for para o parlamentar indicar o primeiro-ministro, tudo bem. Assuma o custeio, assuma a arrecadação, assuma gasto, assuma despesas que são discricionárias, e tudo bem. Eu acho que as coisas têm que ser assim, cada um no seu quadrado e cada um sabendo o que é a sua prerrogativa de poder. No fim do governo, você não vai dar conta de cumprir o seu plano. O desgaste não vai ficar na figura de parlamentares, vai ficar na figura do Executivo. Agora, o Executivo também não pode se beneficiar da prerrogativa em período de votações polêmicas. Então, você cria uma situação onde você deteriora essa prerrogativa. Tem que ter limite dos dois lados.
O Brasil tem uma tecnologia de aplicação de dinheiro público de governos tucanos e petistas. Mas, hoje, os critérios de distribuição de renda são eleitoreiros. A gente está fadado a ser sempre um País que convive com escola sem energia, problema de esgoto, problema de rua sem asfalto?
Minha geração conviveu com um Brasil com melhores condições do que a China, a Coréia do Sul, Singapura, Vietnã. No entanto, esses países todos já nos superaram. Semana passada, eu estava lendo que o Vietnã produziu um carro que é mais eficiente que os carros da General Motors e da Ford. Você vê a Índia chegando do outro lado da Lua. Você vê esses países todos chegando a uma condição em que deixa cada vez mais o Brasil para trás. Por que que o Brasil de hoje não consegue isso que você está colocando? Por que temos Estados hoje em que 52% da população vive com problemas sociais? Por que que você tem, por exemplo, municípios vizinhos em que uns tem uma performance e uns tem outra? A primeira coisa que eu fiz quando eu cheguei ao governo foi nos sábados e domingos ir visitar os colégios. Quando eu cheguei, os meus colégios eram os mais sujos, as minhas cantinas eram as mais desqualificadas, os banheiros eram algo que você não tinha coragem de entrar. As salas de aula você não tinha como conviver, e os professores também não tinham a menor formação para poder transmitir quase nada.
Mas o que não falta é dinheiro para educação, por que há um percentual fixo…
Mas só que você nunca priorizou isso. Se não tiver a mudança na cultura, você não vai mudar o País. Não tinha nada que me irritava mais do que eu chegar em uma escola e ver um cidadão encostado na parede, com o pé na parede. “Meu amigo, por favor, retire o pé daí. Como é que você está sujando a parede da escola?” Quando mataram uma professora aqui em Valparaíso, eu fui fazer a visita à escola e coloquei todos os alunos ali. Eu vi uma coisa que me irritava profundamente, todo mundo reunido com os professores, ninguém estava vendo o que estava acontecendo. Gente, não tem como educar um jovem desse jeito. Não é possível.
Ninguém olhava para o senhor?
Eu virei para o diretor e disse: “E aquele rapaz ali, como é que é nota dele?” “A das piores do mundo, governador. Péssimo aluno”. “Quem é aquela fila ali, com esses rapazes tão quietos”. “Ali, governador, é um povo humilde e aqueles meninos são a maior nota que eu tenho daqui de matemática”. A partir daí falei, tá bom, então ninguém aqui vai entrar sem uniforme. Não vai ter nenhum que vai entrar aqui com a blusa mais bonita que a outra. Acabou, não tem esse negócio de se escolher, todo mundo aqui vai entrar de tênis, calça, camiseta, o blazer, a mochila, todo o material didático, tudo eu vou dar. Não vai ter um caderno mais bonito que o outro. Desse jeito, com autoridade, isso é interessante. Respeito só existe onde tem democracia. Agora, esculhambação tem para tudo quanto é lugar. Se você não puser hierarquia nas coisas e se você não souber a liturgia do cargo, você não está preparado para ele. Se governa com a liturgia do cargo. Eu não sou Ronaldo Caiado pessoa física, eu sou Ronaldo Caiado governador de Goiás. Eu tenho que responder pelo cargo com a liturgia do cargo de governador me impõe para que eu represente 7 milhões de goianos.
Governador, até mesmo por questões políticas, o País caminha numa dicotomia entre campo e cidade?
Sem dúvida. Isso é indiscutível, nós estamos vivendo isso, está aos olhos de todo mundo. Qual é o líder nacional que nós temos? Qual é a figura que nós construímos para que pudesse ser uma referência? Minha família era da UDN. Juscelino Kubitschek, que era do PSD, foi um homem que teve a coragem de enfrentar toda uma estrutura da mídia, mais os políticos e mudar a capital para Brasília. Onde é que estão essas figuras políticas que foram habilidosas, conciliadoras, desenvolvimentistas, idealizadoras? Juscelino criou uma cultura desenvolvimentista para o interior do Brasil, que hoje é essa explosão que nós temos hoje. O Brasil só é competitivo hoje no campo. Você conhece alguma indústria brasileira competitiva que não seja a Embraer? Cita uma no Brasil? No Brasil, você só tem duas coisas competitivas, a pecuária e a Embraer.
E a Vale?
A Vale? Não deixa nada do Brasil. Nunca montaram uma siderurgia. São exportadores apenas. Se o cidadão chegar em Xangai, ele desiste de acreditar que o Brasil tem chance. Desacredita. Você gasta 30 anos para fazer uma ferrovia Norte-Sul, começou com o Sarney e foi inaugurada agora. Eles fazem uma ferrovia Norte-Sul por ano lá na China. Se não tem gestor, se você não tem qualificação das pessoas, você não tem nada. Então, o dinheiro chega lá (nos municípios), muitas vezes nem é usado e volta para o Tesouro.
A nossa indústria empacou, ao mesmo tempo temos um campo, agronegócio à parte, que ainda é pobre. O agro nem sempre agrega. O êxodo ainda é uma realidade em muitas regiões. Como o senhor vê essa situação?
Como é que você vai industrializar um país que não tem ferrovia, não tem rodovia de grande porte e não tem nem energia elétrica? Se você chegar no nordeste goiano qual é a tecnologia que foi implantada para chegar aqui? Você tem alguma estrada aqui? Você tem alguma rede elétrica aqui? Você tem alguma água tratada aqui? Bom. Então você também não pode cobrar que o cidadão vá para lá fazer investimentos se não tem as condições mínimas. Quando você tem a presença do Estado levando rodovia, energia, condições mínimas ali de saúde, você vê avançar.
O senhor evita críticas diretas ao governo Lula…
A minha posição ideológica para a do Lula é clara, é transparente e vem desde 1986 no inicio da luta da UDR, da Constituinte, da eleição de 1989. Se você colocar em termos de história de vida, não tem um político no Brasil que tenha o período de oposição ao governo Lula do que Ronaldo Caiado. Eu sou o mais antigo opositor ao PT. Mas ainda acho prematuro avaliar o governo. Agora, se você me perguntar, em relação à reforma tributária, a minha posição é 100% contra a posição do governo. Nenhum governador teve coragem de ser contra, só eu.
Numa entrevista recente, o senhor disse que o seu nome está à disposição para a disputa presidencial. Em uma campanha eleitoral, como que o senhor conseguiria entrar na Região Nordeste, uma região dominada pelo seu maior antagonista ideologicamente?
Juscelino Kubitschek teve a habilidade de entender que Goiás é exatamente o Estado onde você vê um elo entre essas duas regiões: o Nordeste e o Sudeste. A minha mulher é baiana. Se você chegar aqui no entorno, a festa dos nordestinos aqui na Cidade Ocidental é festa de semana inteira. Então, a presença do Nordeste e do sulista em Goiás é um negócio impressionante.
O jornal entrevistou o governador Romeu Zema, de Minas. Ele disse que o Sul e o Sudeste têm que sustentar a região Nordeste, que não consegue se desenvolver.
Esse discurso não se sustenta. É uma discussão boba, totalmente fora de conceito e de momento querer essa cizânia. Os bilhões do BNDES, 75% vão para o Sul e Sudeste; 25% vão para o Centro-Oeste, Norte e Nordeste. As obras de infraestrutura feitas pelo governo federal estão exatamente nesse eixo Sul-Sudeste. A industrialização feita no Brasil só atendeu essa região. A reforma tributária inviabiliza hoje o crescimento do Norte, Nordeste e Centro-Oeste e concentra no Sul e Sudeste. Essa é a realidade. Eu não sou contra o BNDES não, mas porque o BNDES só aplica lá? Por que lá tem indústria. Agora, para a siderurgia do Rio Grande do Sul existir, ela pode ter todo o protecionismo, agora, eu não posso ter minha indústria de medicamentos em Goiás? Então, o que vale no Sul e Sudeste não vale no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Zema também propôs uma candidatura única de centro-direita em 2026 para não haver uma competição entre os nomes. O senhor está nesse grupo do Zap do Sul e Sudeste como convidado?
Isso é um tipo de acordo que qualquer político que tem o mínimo de sabedoria e experiência política não vai tratar agora. Ao menos que não seja do habitat político, né? Isso aí você tem que saber se ele é realmente da política ou se ele é calouro nela. Você perguntou se irei disputar. É lógico que você vai ter uma quantidade grande de candidatos em 2026. Eu estou em um partido que tem tempo de rádio e televisão, fundo partidário. Eu acho difícil você criar uma situação de convergência nesse momento. Alguns avanços pode ter, às vezes você consegue fazer uma aliança para o primeiro turno, às vezes você vai, mais ou menos, com um entendimento dos partidos para um segundo.
Esse discurso de que a direita tem que estar unida…
É ingênuo, é bobagem, é besteira que não tem pé e nem cabeça. De que a direita tem que estar unida, esquerda tem que estar unida. Então quer dizer que se for nesse tipo de polarização, quem unir o centro ganhou.
O Estadão mostrou que os salários dos juízes de seu Estado são os mais altos do Judiciário. O senhor colocou também um primo como desembargador…
Eu acolhi todos que chegaram em primeiro lugar. Poucos que foram nomeados por mim, foram cinco, e todos foram primeiro lugar na OAB e primeiro lugar no Tribunal de Justiça. A regra foi única. É o único (parente) que existe no Tribunal de Justiça, tenho hoje 76 desembargadores. Não sei porque vou quebrar uma regra. É primeiro lugar na OAB? É primeiro lugar no Tribunal de Justiça? Eu não me dei a posição de poder achar que eu escolheria melhor que os dois órgãos, até porque a OAB, essas pessoas que chegam a mim, são pelo quinto dos advogados e o quinto do Ministério Público.
Na questão de saúde, como o senhor avalia a cobiça dos partidos pelo Ministério da Saúde depois que o País enfrentou uma pandemia tão forte?
Eu apoio 100% a Nísia (Trindade). É inaceitável qualquer ingerência em um setor. Da mesma maneira que eu não admito discutir, no meu governo, quem deve ser indicado na Saúde, eu também não vou ficar opinando sobre outros governos. Por um motivo só: porque isso é aquilo que o governante se propôs a apresentar para a população no seu plano de governo.
Mas o seu partido está ali…
Mas essa posição minha é pública. Eu faço questão de reforçá-la aqui agora. Cabe ao presidente, cabe ao governador. São secretarias que devem ser definidas 100% de acordo com a decisão do governante. São secretarias que você não deve admitir ingerências sobre elas, porque o resultado final não é de quem indicou, é de quem é o presidente e de quem é o governador. Então, com todo o respeito aos poderes, mas isso é prerrogativa do governante. E a Nísia sempre foi uma pessoa que convivi muito com ela no período da pandemia. Não sei se até hoje, mas na última gestão eu era o único governador médico dos 27 governadores, tive a oportunidade de conversar muito com ela, com todo o interesse em realmente promover saúde, sem nenhum viés político e partidário. Pelo contrário, ela tem um viés de saúde pública. Se o governante abrir mão, ele não está governando. Se o governo de Goiás está dando certo, é porque eu acabei com a capitania hereditária em Goiás. Você chegava lá e a Saneago era de um, o Detran era do outro, a Secretaria de Educação era do outro, não sei quem era do outro.
Na pandemia, o senhor chegou a temer o isolamento pelo bolsonarismo quando se colocou a favor da vacina?
Rapaz, eu com a minha idade, tenho tempo para ter esse negócio mais não. Tenho medo mais não, já passei essa fase faz muito tempo. Sempre tive minha tranquilidade, sempre tive a minha posição com muita independência. Na minha vida eu escrevi uma coerência daquilo que eu penso, daquilo que eu defendo, com total independência. Se você me perguntar o que eu sou, eu sou um “caiadista”. Não sei se vai fazer bem para “A” e para “B”. Minhas convicções são essas. Por que você não pergunta, por exemplo, para todos os 26 governadores se eles estão de acordo com a reforma tributária? Me mostra por que você também não tem desenvolvimento no Brasil? Por causa da mediocridade.