Deputado federal no primeiro mandato, Tiago Mitraud (Novo-MG), 35 anos, foi anunciado nesta última sexta-feira (1º) o candidato a vice na chapa presidencial do cientista político Luiz Felipe d’Avila. O Novo foi o segundo partido a anunciar a chapa completa – o primeiro foi o PT, com a dobradinha Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB); o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que deverá anunciar nos próximos dias o general Braga Netto (PL).
Líder do Novo na Câmara, Mitraud é presidente da Frente Parlamentar da Reforma Administrativa e entrou na política pelos movimentos de renovação Livres, Raps e RenovaBR. Nesta entrevista ao jornal Estadão, que abre uma série com os candidatos a vice, Mitraud afirmou que a candidatura de d’Avila é a única que representa a terceira via.
A chapa pura foi uma escolha ou o Novo não conseguiu se aliar a outra sigla?
O que temos visto nesses últimos meses é que aqueles que querem combater esse populismo e a polarização de Lula e Bolsonaro infelizmente ficaram pelo caminho: (Luiz Henrique) Mandetta, Eduardo Leite, Sérgio Moro e (João) Doria. No fim das contas, o Novo é o único que está verdadeiramente comprometido com a construção de uma terceira via para o Brasil.
Por que o Novo é o único?
Veja o MDB, que ainda tem uma pré-candidata. Os dois líderes do governo, no Senado e no Congresso, eram do MDB. Além de outros senadores importantes do MDB que apoiam abertamente Lula. Já no Novo 100% dos filiados e mandatários apoiam nossa candidatura.
Em Minas, o Romeu Zema, único governador do Novo, é apoiador do Bolsonaro…
Se você olhar todas as declarações públicas do Zema, é explícito o apoio dele à candidatura do Luiz Felipe. O Bolsonaro é que tenta colar na candidatura do Zema.
Mas o Novo não entrou de fato na articulação da terceira via. O partido lançou candidato à Presidência para marcar posição?
De forma alguma. Estamos entrando para dar uma opção real à população brasileira. Estivemos à mesa inúmeras vezes com os demais partidos, mas não sentimos a convicção necessária em nenhum deles.
Existe alguma chance de o Novo entrar em um projeto que unifique a terceira via?
Essa chance nunca é zero, mas agora somos os únicos que temos uma chapa colocada alternativa à polarização. O convite aos outros partidos continua aberto.
Por que o Novo não escolheu uma mulher como vice e montou uma chapa com dois homens brancos?
Entendemos a importância da representatividade na política brasileira. Em 2020 fomos o partido que mais elegeu mulheres proporcionalmente em todo o País nas eleições municipais. Mas a escolha por mim foi pelo que construí na Câmara, pelo fato de ser líder e pela experiência no Congresso.
Por que a reforma administrativa não deu certo?
Porque não houve interesse do governo em apoiar a reforma. O governo mandou a reforma após uma crise que eles tiveram em 2020, quando perderam dois secretários do Ministério da Economia. Não houve apoio do governo ao longo da tramitação da Câmara de verdade.
O presidente obstruiu a reforma administrativa?
Certamente. No mínimo não deu nenhum apoio. Foi como na reforma da Previdência, que, quando entrou, foi para atrapalhar pedindo privilégios a militares. Bolsonaro não é reformista. Usou esse discurso na campanha por conveniência. No governo ele mais atrapalha do que ajuda as reformas liberais.
Fundador do Novo, João Amôedo disse ao Estadão no ano passado que o partido precisa decidir se é oposição ou linha auxiliar ao governo. O Novo votou na maioria das vezes com a base de Bolsonaro na Câmara. Amôedo também afirmou que o partido tem um problema de identidade. Como avalia essa autocrítica?
Somos, segundo o (site) Congresso em Foco, o 11.º partido que mais vota com o governo. O que houve é que, no início, o governo mandou várias propostas com viés mais liberal. Mas, ao longo do tempo, o governo mudou. As pessoas ficaram com essa imagem que o Novo apoia o governo. Isso não é referenciado pelos dados. Mantivemos nossa coerência. Os demais mudaram.