Os policiais federais envolvidos na investigação da trama golpista, que apura de acordo com a colunista Malu Gaspar, do O Globo, a elaboração de um plano para dar um golpe de estado no Brasil após a eleição presidencial de 2022, já não consideram mais viável concluir o inquérito e indiciar os responsáveis ainda em setembro.
Na previsão de policiais a par dos trabalhos segundo a coluna, nada acontecerá antes do primeiro turno das eleições municipais, que será no próximo dia 6, por duas razões principais.
A primeira é que ainda estão em curso algumas análises que podem ajudar a fechar o vínculo entre iniciativas como a redação de uma minuta golpista por auxiliares do então presidente Jair Bolsonaro ( PL) e a invasão das sedes dos três poderes no dia 8 de janeiro de 2023.
A minuta é um rascunho de decreto prevendo a decretação de uma intervenção no Tribunal Superior Eleitoral para o “restabelecimento da lisura e correção do processo eleitoral do ano de 2022”. A tese de fraude nas eleições vinha sendo empunhada por Bolsonaro durante toda a campanha para tentar justificar uma eventual derrota para Lula.
Os policiais querem evitar abrir margem para novos pedidos de informação e diligências por parte do Ministério Público, como já foi feito em agosto passado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, no caso das joias sauditas, que até agora também aguarda uma definição.
De acordo com essas fontes ligadas ao inquérito, após a análise, alguns novos depoimentos serão tomados – o que vai empurrar a conclusão do inquérito para meados de outubro.
A segunda razão é política. Mesmo que corresse para encerrar a investigação antes do final do mês, a Polícia Federal muito provavelmente teria que sustentar sozinha uma série de indiciamentos, incluindo o do próprio Bolsonaro, em pleno período eleitoral.
Isso porque a Procuradoria-Geral da República (PGR) já sinalizou nos bastidores não só à PF, mas também ao próprio Supremo, que não vai denunciar nenhum dos alvos dos inquéritos que miram Bolsonaro e seus seguidores antes da eleição.
O objetivo é evitar acusações de instrumentalização política ou partidarismo do MP, que teve a imagem bastante abalada por esse tipo de crítica na gestão de Augusto Aras, indicado para o cargo por Bolsonaro.
A PF não vê razão para correr risco de sofrer um prejuízo político e institucional, se a própria PGR não vai dar andamento ao caso em uma velocidade normal.
O cálculo dos policiais federais é de que é melhor esperar um pouco para fazer o indiciamento com provas mais robustas do que apressar os trabalhos e correr o risco de ter que refazer alguma etapa ou de ser acusado de tentar criar um fato político contra opositores de Lula na véspera da eleição municipal.
A apuração já mostrou que o ex-presidente conhecia a minuta golpista e até encomendou mudanças na redação, retirando do texto a previsão de prisão do ministro do STF Gilmar Mendes e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) – mas mantendo o encarceramento de Moraes, considerado inimigo público número 1 pela militância bolsonarista.