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quinta-feira 3 de fevereiro de 2022 às 11:06h

“O governo federal não se preocupa com o Brasil”, diz deputado baiano

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Os municípios baianos precisam ser provocados a se comprometer com a educação básica. A advertência é do deputado estadual Osni Cardoso (PT), em entrevista para Jefferson Beltrão, do grupo A Tarde. Em seu primeiro mandato, Osni também defende segundo publicação, a expansão da política de consórcios municipais, “o sonho da facilidade da gestão pública”. Autor do projeto de lei que institui o Dia Estadual da Etnia dos Povos Ciganos, o deputado também é categórico: “é preciso garantir segurança alimentar aos mais pobres”.

Quais são suas principais bandeiras?

Sou oriundo da área rural. Vivi até os 27 anos com meu pai no povoado de Bela Vista, em Serrinha, e, por conta disso, atuo com grande debate sobre a questão da alimentação. Isso é de crença, de berço, da necessidade das pessoas terem alimento.

Agricultura familiar?

Agricultura familiar, desde a segurança alimentar à qualidade do produto. Hoje a gente vive comprando qualquer coisa e não avalia ou não tem oportunidade de comprar algo melhor. E esse algo melhor ainda está mais caro do que o normal. A gente precisa estar debatendo isso, porque podemos gerar mais emprego no campo, facilitar as relações de trabalho e evitar que a gente fique doente. Também sou oriundo da educação, debato isso nos nossos bastidores. E por ter feito militância no Movimento Estudantil e Movimento [dos Trabalhadores Rurais] Sem Terra, a gente também recepciona lutas, como a dos papiloscopistas. Recentemente, teve uma pessoa pedindo que os detetives particulares virassem lei da Bahia, porque a profissão não é regulamentada. Também recentemente, estava apoiando o Movimento Vai Ter Gorda, que tem tratado a questão da gordofobia. O mandato, de alguma forma, vai ouvindo e debatendo aquilo que vai recebendo.

O senhor é autor de um projeto de lei que institui o Dia da Etnia dos Povos Ciganos na Bahia na mesma data em que já é comemorado o Dia Nacional do Cigano, 24 de maio. Por que a criação de um dia estadual se já existe o dia nacional para celebrar os ciganos?

Pra chamar atenção, mostrar pra comunidade de ciganos que eles vão ter mais um lugar de debate, pra o Estado começar a promover isso, dialogar, pra que eles percebam qual é a crítica que é salutar à vida deles. Eles também precisam mostrar a cultura, como vivem, consomem, a importância deles na economia. Tem cidades que acham que o importante é – e há quem bate no peito, acha que é vantagem – “ah, nós expulsamos os ciganos daqui”. Cigano é um cidadão igual a mim e você. É a média do que é a sociedade brasileira. Se envolvem ou resolvem problemas na mesma média de todo mundo. Mas se acontece com o cigano, é olhado de um jeito diferenciado. Está errado. O Dia do Cigano é pra ajudar a refletir e valorizar principalmente seu jeito e sua cultura e mostrar que eles são muito mais do que o que falam deles.

Também são de sua autoria indicações feitas ao Governo do Estado para a implantação de um Complexo Poliesportivo e Educacional em Seabra e outro em Serrinha, sua cidade natal. Em que pé estão as obras?

Bastante avançadas. Visitei Seabra recentemente, a empresa tocando bem, um projeto muito lindo esperando a licitação de uma segunda etapa. Nosso governador vai colocar de tudo um pouquinho, piscina, toda uma estrutura, acho que pode ajudar a revolucionar a educação baiana. Imagine que até outro dia a gente tinha uma piscina olímpica em Salvador e pronto. Daqui a pouquinho vamos ter piscina semiolímpica em 100, 200 municípios baianos e iniciar, por exemplo, a prática esportiva que a gente não tem. Tive a oportunidade de indicar pra Seabra e Serrinha e vou continuar fazendo indicações para os municípios que me procuram.

Em relação a Serrinha, quais demandas do município e região que ainda precisam da atenção do governo e do seu mandato?

No Território do Sisal, onde são 20 municípios e tive quase 40% da minha votação, a principal demanda é estrada. Toda vez que chove aumentam os problemas, os buracos e a demanda não para. A gente fica tratando com o governo, pedindo e tem avançado. Mas se fosse do meu coração, apostaria mais na entrega de alimento. É triste as pessoas passando fome. É um alimento por dia quando não mandam uma foto da geladeira que não tem absolutamente nada. Ou quando não têm nem mais a geladeira e o fogão, porque cozinham numa vasilha de manteiga a álcool. O Governo do Estado ainda tem o PAA [Programa de Aquisição de Alimentos], de quando Lula se elegeu e montou o Programa Fome Zero. Você precisa ver a alegria daquelas pessoas enxergando alguma coisa pra comer. Segurança alimentar e um lugar bom pra viver. As casas estão ficando insalubres. Falta água, energia, não tem um gás de botijão e isso está assolando milhões de pessoas na Bahia, principalmente nesse momento em que o governo federal não se preocupa com o Brasil por inteiro.

O senhor que é formado em pedagogia, como avalia as políticas públicas voltadas para a educação na Bahia?

O problema da educação na Bahia e no Brasil não é, necessariamente, o dinheiro como muita gente acha. Se debate muito essa coisa do dinheiro, aumento do salário do professor, mais estrutura, isso é importante. Mas vou dar um exemplo do que é o público na escola e quem é que está na escola quando só o pobre está na escola. Não adianta fazer tudo isso que se debate por aí, porque se não houver cobrança começa o relaxamento. Coloquei meu filho mais velho pra estudar na escola pública quando eu era professor. E um dia fui pegar ele pra levar pra escola. Estava na função de prefeito. E me atrasei em torno de meia hora pra chegar com meu filho na escola. Quando cheguei, tinha três mães me xingando, porque o porteiro não chegou pra abrir no horário. Elas estavam sendo prejudicadas pra chegar no trabalho e não tinha quem olhasse o filho delas. O porteiro é concursado. Quando estava sendo xingado pelas mães com uma certa razão, não tive coragem de deixar meu filho e fui dar uma volta pra aquele tumultozinho passar. Mudei o porteiro de lugar e depois passei a acompanhar a escola mais de perto. No final do meu mandato, era o melhor Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica]. Mais gente começou a olhar a escola com outro carinho e mais responsabilidade. A gente precisa de um envolvimento muito forte. Se não houver envolvimento, o dinheiro só não resolve.

Durante a pandemia, a Bahia ficou em último lugar no ranking de educação pública à distância da Fundação Getúlio Vargas. No Ideb aparece entre os últimos colocados.

Nós temos uma herança gigantesca e antiga sobre isso. Inclusive, o estado contabiliza o resultado dos municípios, mesmo não pegando o aluno desde a creche. E quando o aluno chega no ensino médio, aí você mede o estado a partir de uma base que não foi boa. Se não houver diálogo com o conjunto dos municípios, o estado vai continuar amargando números iguais a esse. Avançamos em várias práticas. A [falta de] alfabetização quando o governo do PT entrou aqui era quase 18%. Agora deve estar em três, quatro por cento. Tínhamos quatro mil matrículas do ensino profissionalizante e agora perto de 150, 200 mil matrículas no ano. Mas essa medição do Ideb ainda tem muito a ver com a base dos alunos. Enquanto a base não melhorar, o estado não vai conseguir avançar. É uma tarefa de todos. O Estado precisa provocar os municípios e a gente aumentar a quantidade de prefeitos comprometidos com a educação.

O senhor é integrante da Frente Parlamentar de Defesa da Política de Consórcios Públicos da Bahia, criada em 2019 com o objetivo de fortalecer as políticas públicas voltadas para os municípios. O que avançou de lá pra cá nesse sentido?

A gente precisa melhorar. Já avançarmos na mudança da lei, mas a lei ainda é incipiente. Estava também prefeito quando iniciamos a política de consórcio. Tive a experiência de ter sido o primeiro presidente da Federação Baiana de Consórcio Público, e ainda naquele período não tinha o respeito necessário do conjunto dos secretários sobre a política de consórcio. O governador bastante interessado, mas na ponta muita dificuldade. Muita gente não querendo a atuação do consórcio em determinadas políticas públicas. E fomos trabalhando aos pouquinhos, o governador apostando. Hoje é muito maior do que era, mas a legislação é frágil. As pessoas precisam conhecer o que é essa política, que é o sonho da facilidade da gestão pública. O município pequeno de dez mil habitantes não consegue exercer uma política pública sozinho, nem tem dinheiro. O consórcio facilita isso.

Como avalia o cenário pré-eleitoral na Bahia e o sentimento antipetista que ainda é grande em comparação com a época em que o PT estava à frente do governo federal?

Em todas as eleições do PT sempre tivemos o antipetismo. Em 89 eu tinha 15 anos de idade e no meu povoado só eu e um amigo faziam campanha. Os outros tinham medo e diziam que petista era comunista e comia criancinha. A gente não era aceito nem na urna pra fiscalizar, sempre tinha muita gente contra. Era necessário muito debate e convencimento. Tivemos problemas do mensalão na reeleição do Lula que tinha antipetismo, e nunca experimentando uma eleição com antipetismo tão forte como em 2018, quando entraram outros elementos como do homofóbico que se identificou com Bolsonaro, do racista que também se identificou com ele, e acabaram incorporando um certo tom de violência no processo eleitoral. Só que o povo também compara. O antipetismo depois de tudo isso, de tudo de mentira sobre nós, o que está acontecendo hoje? O movimento inverso. O antipetismo caiu bastante, as pessoas perceberam muita mentira, o que foi montado por parte do Judiciário. Estou percebendo um movimento grande como foi em 2002. A gente pode estar se repetindo de novo nesse retorno do Lula. E antes de qualquer debate, as pessoas querem ter o básico dentro de casa. E as pessoas não têm esse básico. Está negado a elas a dignidade. É isso que, de alguma forma, a população vai esperar do Lula, com toda a experiência que já passamos de gestão, porque tudo ajuda a refletir os erros que cometemos tentando acertar. Ou o erro que alguémcometeu. Às vezes, foi um CPF que cometeue quer se colocar isso pra o partido, o que não é verdade. Lula vem muito forte. A primeira vez, na minha opinião, que vai ganhar no primeiro turno. E vai se repetir na Bahia. O grupo não vai se dissolver. Amplia. Jaques Wagner é um maestro na política. Rui [Costa] é mais técnico, mais de gestão. Wagner é mais político, tem uma leveza muito boa, mantém esse time com PP, PSD e PT, que são os três principais partidos. E ganharemos mais uma eleição.

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