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sábado 4 de julho de 2020 às 16:07h

O dia em que Warren Buffett foi passado para trás; entenda

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Dono de uma fortuna estimada em US$ 70,4 bilhões, Warren Buffett alcançou o status de ícone no mundo dos investimentos

Subsidiária da Berkshire Hathaway, a Precision Castparts desembolsou € 800 milhões para comprar a fabricante alemã Wilhelm Schulz, em 2017. Três anos depois, um relatório de arbitragem descortina a estratégia empregada pela empresa europeia para inflar seus lucros e o preço da aquisição

Dono de uma fortuna estimada em US$ 70,4 bilhões, Warren Buffett alcançou o status de ícone no mundo dos investimentos com o seu dom de fazer análises e projeções minuciosas e precisas. Não à toa, essas e outras características lhe renderam a alcunha de Oráculo de Omaha.

Conforme o Neofeed, isso não significa que os “poderes” de Buffett são infalíveis. De acordo com um painel de arbitragem americano, a Berkshire Hathaway, comandada pelo megainvestidor, pagou € 800 milhões por uma empresa que valia apenas 20% desse montante. E que, mais grave ainda, estava à beira da falência, segundo o jornal The New York Times.

A tal companhia é a Wilhelm Schulz, fabricante alemã de tubos especializados para a indústria de petróleo e gás. A bolada pelo ativo foi desembolsada via Precision Castparts, uma subsidiária da Berkshire Hathaway, com sede em Portland, Oregon.

O caso chega em uma fase nada favorável da Berkshire Hathaway que, afetada pela Covid-19, reportou um prejuízo recorde de US$ 49,7 bilhões no primeiro trimestre. E, segundo o relato do painel de arbitragem, envolveu uma trama protagonizada pelos executivos da Wilhelm Schulz para esconder a crítica situação da empresa.

Fundada em 1945, pouco tempo depois do fim da Segunda Guerra Mundial, a Wilhelm Schulz parecia uma ótima oportunidade para a Precision Casparts em 2016, ano em que a empresa foi abordada por um intermediário sugerindo o negócio.

Meses antes, a Precision Casparts havia sido comprada pela Berkshire Hathaway, por US$ 37 bilhões, na maior aquisição já realizada pelo grupo. E, sob o guarda-chuva de Buffet e companhia, a empresa, mais conhecida por fabricar peças de aeronaves, decidiu dar fôlego ao plano de ampliar sua presença no exterior e também no segmento de petróleo e gás.

Diante dessa perspectiva e da rara oportunidade de incorporar uma representante da sólida indústria alemã, a companhia não hesitou em mandar funcionários para Krefeld, cidade-sede da Wilhelm Schulz, para avaliar a operação. Foram seis meses de análises das listas de clientes, entrevistas com funcionários e visitas às instalações da empresa.

Um dado que escapou desse pente fino, porém, foi a informação de que a Wilhelm Schulz acabara de evitar sua falência. Semanas antes, a empresa estava obrigada, pela lei alemã, a pedir insolvência por conta da falta de pagamentos referentes a uma linha de crédito de € 325 milhões com o Commerzbank.

A companhia contornou a questão ao convencer o banco a lhe emprestar mais € 8 milhões, sob o argumento de que estava esperando o pagamento de um grande cliente. O Commerzbank aceitou a proposta sob uma condição: assumiria o controle da empresa caso o novo acordo fosse descumprido.

Na mesma época, a Wilhelm Schulz estava captando recursos com a antecipação de duplicatas em factorings. Com um detalhe: para isso, a empresa criou uma série de faturas e notas falsas, com o uso do software de imagens Photoshop.

Um trecho do relatório de arbitragem ajuda a explicar como os funcionários da Wilhelm Schulz conseguiram ludibriar a Precision Castparts e esconder essas irregularidades com o objetivo de mostrar que a empresa era extremamente saudável.

Em outubro de 2016, enquanto os representantes da Precision Castparts analisavam os registros financeiros da empresa, um funcionário da Wilhelm Schulz fez com que o sistema do computador usado para rastrear vendas e pedidos ficasse indisponível por cinco dias.

Nesse intervalo, outros profissionais da companhia aproveitaram para fabricar quase 50 pedidos, no valor de dezenas de milhões de euros. Esses pedidos foram forjados para parecer que haviam sido realizados entre 2014 e 2015. E mais, envolviam empresas com as quais a Wilhelm Schulz não fazia mais negócios.

Mensagem anônima

A compra da empresa pela Precision Castparts foi fechada em fevereiro de 2017. Logo depois, um diretor da companhia recebeu um e-mail que acabou por descortinar a estratégia orquestrada pela Wilhelm Schulz. “Eu tenho que me livrar de algo que testemunhei nos últimos meses”, escreveu o autor anônimo da mensagem. “Há uma falsificação de dados em andamento.”

Mais tarde identificado pelo relatório de arbitragem como um funcionário de tecnologia da Wilhelm Schulz, o profissional contou no e-mail que parte de seus colegas estava fazendo o tal trabalho sujo dos pedidos falsos de clientes. “Considero isso um ato criminoso e não quero trabalhar para uma empresa que usa esses métodos por mais tempo”, escreveu.

Com o alerta, a Precision Casparts montou um batalhão de investigação formado por profissionais da sua própria equipe e também por consultores externos especializados em fraudes contábeis. Já em 2018, depois de reunir uma série de evidências, a empresa foi atrás do prejuízo e recorreu a uma cláusula do contrato de venda que levou o caso à arbitragem.

Os desdobramentos das investigações e da arbitragem trouxe à tona alguns dados da maquiagem feita pela companhia alemã. Segundo um especialista, com a estratégia empregada, a empresa inflou seus lucros em € 160 milhões.

À frente dos negócios antes da aquisição, os membros da família que dá nome ao grupo alemão rebatem as acusações. Entre outros argumentos, dizem que qualquer perda causada na operação foi gerada posteriormente, pela má gestão dos novos proprietários do ativo.

A Precision Castparts tem conquistado algumas vitórias nesse imbróglio judicial, como a decisão que lhe dá o direito de receber uma indenização de € 643 milhões. O valor em questão reflete o preço de compra menos o valor real estimado da Wilhelm Schulz.

É pouco provável, no entanto, que a empresa receba essa bolada. Depois da aquisição, as três holdings que venderam suas ações na Wilhelm Schulz pediram falência. Ao que tudo indica, Warren Buffett e companhia terão que engolir esse prejuízo.

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