Dom Pedro II foi o primeiro governante brasileiro a ser considerado “o cara” nos Estados Unidos. O imperador fez uma longa visita ao país em 1876, causando boa impressão entre a população. De modo inusitado, ele teria até recebido “votos” na eleição presidencial daquele ano.
Um dos motivos de sua visita ter chamado tanto a atenção foi o fato de ele ter sido o primeiro monarca a colocar os pés nos Estados Unidos. Sua viagem ganhou grande cobertura da imprensa de lá, desde que embarcou em um navio no Rio de Janeiro. Ao todo, Dom Pedro II ficou três meses no país, percorrendo vinte e dois estados.
Apesar de não ter sido uma visita oficial, Dom Pedro teve uma rotina agitada nos Estados Unidos. Lá, ele conheceu escolas, fábricas, prisões, hospitais, bibliotecas e instituições religiosas, provocando fascínio por onde andava. Sua passagem mais marcante aconteceu na abertura da Exposição Universal, na Filadélfia. O evento de divulgação científica, que celebrava o centenário da independência dos EUA, foi aberto por ele e pelo então presidente Ulysses S. Grant.
Um dos episódios mais peculiares da viagem foi a “candidatura” de Dom Pedro II à presidência dos EUA. Segundo o livro Dom Pedro the Magnanimous, Second Emperor of Brazil, publicado pela historiadora Mary Wilhelmine Williams, em 1937, um admirador escreveu ao jornal The New York Herald lançando de forma bem-humorada uma chapa presidencial encabeçada pelo imperador para as eleições de 1876. “De nossa parte, nomeamos Dom Pedro e Charles Francis Adams (descendente de John Adams, um dos “pais fundadores” dos EUA) para nossa chapa do Centenário para presidente e vice-presidente. Estamos cansados de pessoas comuns e temos a disposição de seguir em frente com estilo”, opinou o colaborador da publicação.
Há até quem diga que Dom Pedro II teria realmente recebido votos durante as eleições. Pelo menos é o que conta Sebastião Pagano, jornalista, professor e entusiasta da monarquia, em seu livro Eduardo Prado e sua Época (1960). “Tão grande era a admiração dos americanos pelo nosso Imperador, que nas eleições presidenciais de 1877 (sic) ele recebeu, só em Filadélfia, mais de 4.000 votos espontâneos!”, escreveu. Caso a informação seja verídica, Dom Pedro teria alcançando o quarto lugar entre os candidatos presidenciais mais votados no estado da Pensilvânia, onde fica a Filadélfia.
Segundo Teresa Cribelli, professora-assistente de História na Universidade do Alabama, a visita de Dom Pedro II rapidamente caiu no esquecimento nos Estados Unidos. Apesar disso, a passagem do imperador pela América do Norte teria resultado em alguns benefícios para o Brasil. A primeira linha telefônica do país foi instalada por iniciativa dele, em 1877. Apreciador de novidades tecnológicas, Dom Pedro conheceu o inventor do telefone, Alexander Graham Bell, na Exposição da Filadélfia. De acordo com a professora, o imperador também se inspirou no sistema educacional público dos Estados Unidos para implementar no Brasil a educação gratuita a todas as crianças, independentemente da renda.
Dom Pedro II e Ulysses S. Grant na Exposição Universal da Filadélfia
Fontes: G1; Dom Pedro the Magnanimous, Second Emperor of Brazil, Mary Wilhelmine Williams, (1937); Eduardo Prado e sua Época, Sebastião Pagano (1960); A Modern Monarch: Dom Pedro II’s Visit to the United States in 1876, Teresa Cribelli (2009)
Imagens: Mathew Brady/Domínio Público, via Wikimedia Commons e Autor Desconhecido/Domínio Público, via Wikimedia Commons