Entre aliados palacianos, a ausência do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na cerimônia que marcou um ano dos ataques do 8 de janeiro foi recebida como um recado de que as coisas não vão bem e uma espécie de boicote ao ato que ganhou ares de palanque do presidente Lula da Silva (PT).
Já do lado de Lira, o que diz Marcela Mattos, da revista Veja, é que o boicote, na verdade, partiu do Palácio do Planalto. Quem acompanhou de perto toda a organização do evento afirma que a primeira-dama Janja encabeçou as principais definições da cerimônia – do convite à composição do palco, passando também pelas autoridades que discursariam ao microfone.
Teria sido Janja, inclusive, que batizou inicialmente o evento como “Democracia Restaurada”. No entanto, ponderou-se que não houve quebra do regime democrático para ser “restaurado”. Ao fim, o ato foi nomeado como “Democracia Inabalada”.
Cadê o Lira?
Como a política mora nos detalhes, chamou atenção o fato de no convite para o evento constar apenas os nomes do presidente Lula e do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Além disso, causou espécie o fato de o vídeo divulgado durante a cerimônia também não trazer qualquer referência a Lira – o material registra os pronunciamentos de Lula, Pacheco e da então presidente do STF, Rosa Weber.
A Câmara foi acionada para ceder as imagens dos ataques, mas em nenhum momento aventou-se colocar qualquer declaração feita por Lira, que também repudiou do plenário os ataques “criminosos” no dia seguinte à destruição.
Ato político
Conforme mostra reportagem da revista Veja desta semana, o presidente Lula pegou carona no 8 de janeiro para atacar seus inimigos – em especial o ex-presidente Jair Bolsonaro – e fazer elogios a seu governo.
Na véspera do ato, e em mais um sinal de que seria um evento de governo, e não de Estado, Janja também escolheu a governadora Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte, para abrir os discursos. Fiel aliada de Lula, a petista cobrou a “devida punição” a quem tentou “destruir” a democracia e, ao fim, puxou o bordão “Sem anistia”, comumente repetido após a vitória de Lula em 2022, em referência a uma eventual prisão de Bolsonaro.
Lira era aliado do ex-presidente e, na Câmara, tenta manter os laços com partidos independentes e de oposição ao governo, que somam maioria na Casa. Ele iria discursar no evento, ao lado de figuras que não representam chefes de poderes, como o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes.
No entanto, na noite anterior ao evento, o deputado alagoano telefonou para Lula para informar que um familiar estava doente e, assim, não iria mais comparecer. O problema de saúde é real, mas, como se vê, não o único motivo para a ausência de Lira.