sexta-feira 22 de novembro de 2024
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), no Palácio da Alvorada. - Adriano Machado -6.out.2022/Reuters
Home / NOTÍCIAS / O apelido que Lira ganhou dos aliados de Lula e o que busca o presidente da Câmara
segunda-feira 19 de dezembro de 2022 às 14:57h

O apelido que Lira ganhou dos aliados de Lula e o que busca o presidente da Câmara

NOTÍCIAS, POLÍTICA


Apontado como responsável pelas agruras que Lula tem enfrentado para aprovar no Congresso a PEC da Transição, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), ganhou segundo a coluna de Malu Gaspar, do O Globo, um apelido entre os aliados do presidente eleito: motorista de Uber.

“Lira é como um motorista de Uber: cobra por corrida”, diz um parlamentar lulista que passou o final de semana elaborando mapas de votos. Nos bastidores, alguns deputados e senadores da base do presidente eleito só se referem a Lira assim.

Segundo dois parlamentares com quem conversei, o apelido tem a ver com o fato de que, cada vez que aparece um obstáculo ao projeto de Lula no parlamento, o presidente da Câmara o procura para dizer que está tendo dificuldades com os líderes partidários, faz um pedido, obtém uma promessa e consegue um avanço.

Só que aí surgem novos problemas, Lira volta e faz um novo pedido. De acordo com o que me contaram esses parlamentares que estiveram com Lula no final de semana, foi o que aconteceu neste domingo.

Os dois se reuniram à tarde, antes de o ministro Gilmar Mendes conceder uma liminar que autorizou o relator do orçamento a incluir na peça o valor destinado às despesas com o Bolsa Família de R$ 600, fora dos limites do teto de gastos.

A decisão de Gilmar alivia a pressão do Congresso sobre Lula e dá ao presidente eleito um plano B para garantir o pagamento do benefício, mas em tese só libera R$ 80 bilhões e só para 2023.

Não abrange os R$ 145 bilhões para outros programas sociais, mais R$ 23 bilhões em investimentos a serem gastos fora do teto pelos próximos dois anos.

Esse foi o texto que passou no Senado, mas Lira disse a Lula que está com dificuldades em convencer os líderes da Câmara a aprovar todo esse valor por dois anos. Para uma PEC passar na Câmara, são necessários 308 votos.

Os dois mais resistentes, segundo o presidente da Câmara, são Ciro Nogueira, que comanda o mesmo PP de Lira, e Marcos Pereira, chefe do Republicanos. Juntos, os dois partidos tem 99 dos 513 deputados desta legislatura.

Embora o primeiro seja ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro e o segundo tenha apoiado o atual presidente durante todo o mandato, os dois são figuras proeminentes do Centrão, bloco fisiológico que tem a maioria do Congresso.

Segundo Lira, eles até votam a favor da licença para gastar, mas apenas por um ano e não por dois, como o governo quer.

Lira, principal figura do Centrão, é tão forte na Câmara que até agora não apareceram adversários para desafiar sua candidatura à reeleição, em fevereiro de 2023.

Mesmo assim, ele teria dito a Lula que não está conseguindo convencer os líderes e que, para isso, vai precisar oferecer a seus aliados cargos no governo.

Na “corrida de Uber”, além do ministério da Saúde, que vem reivindicando há alguns dias, o pedido de Lira incluiu o controle do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE), da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e da Companhia para o Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf).

Se conseguir o que quer, na prática o presidente da Câmara estará mantendo o espaço que já conquistou no governo Bolsonaro e estendendo seus domínios para a Funasa, que hoje está com o PSD de Gilberto Kassab.

A questão é que, da mesma forma que Lira pede, Lula enrola, e tenta não se comprometer com nada antes de ver a PEC aprovada. Mas o prazo está se esgotando. Para que os gastos extras sejam incluídos no orçamento do ano que vem, precisam ser chancelados pelo Congresso no máximo até quinta-feira.

Lira, de seu lado, não fará nada antes de saber o resultado do julgamento do orçamento secreto no Supremo Tribunal Federal (STF), previsto para ser retomado nesta segunda-feira.

O julgamento foi suspenso na última sexta a pedido do ministro Ricardo Lewandowski, quando o placar estava em 5 votos pela extinção do orçamento secreto contra 4 por sua manutenção. Estão faltando apenas dois votos – o do próprio Lewandowski e de Gilmar Mendes.

Como Mendes já sinalizou que deve votar pela manutenção das emendas, o voto que decidirá mesmo o assunto deve ser dado por Lewandowski.

Na tarde de sexta-feira, o ministro se reuniu com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e discutiu a resolução aprovada na própria sexta modificando a forma de distribuição das emendas do orçamento secreto, para tentar convencer o Supremo a liberá-las.

Ao sair da conversa, Lewandowski disse que iria considerar a resolução na decisão sobre seu voto. A expectativa no Congresso é de que ele permita a continuidade do orçamento secreto, que passaria a ter uma cota de 7,5% administrada pelo presidente da Câmara e outra, do mesmo tamanho, controlada pelo presidente do Senado.

Em valores de hoje, Lira ficaria com R$ 1,5 bilhão para distribuir e Pacheco, com outro R$ 1,5 bilhão. É bastante dinheiro, mas ainda não dá para dizer que vai ser suficiente para pagar a corrida de Uber mais cara da República.

Veja também

Corte de geração de energia pode escalar para nova crise no setor

Os cortes de geração de energia por questões operativas do Sistema Interligado Nacional (SIN) ameaçam …

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: Content is protected !!