Pouco depois das 14h desta sexta-feira (14), um enorme foguete carregando um módulo de pouso, um pequeno veículo e muitos sonhos decolará do leste da Índia para a Lua.
Se tudo correr conforme o planejado, a Índia se tornará o primeiro país a ter um “pouso suave” de um veículo rover em uma parte nunca explorada da Lua, o polo sul lunar.
Um pouso suave significa que o veículo não será destruído na aterrissagem.
A superfície polar da lua é um terreno traiçoeiro com grandes crateras e encostas íngremes. Algumas crateras não recebem luz solar há bilhões de anos, levando a temperaturas extremamente baixas, que chegam a -203°C, e tornando muito difícil operar os instrumentos.
É por isso que todas as missões lunares até agora pousaram mais perto do equador, onde o terreno e a temperatura são mais receptivos.
A agência espacial indiana diz que tomou medidas para reduzir as chances de falha da missão lunar, conhecida como Chandrayaan-3.
“Em vez de um projeto baseado no sucesso como no Chandrayaan-2, no Chandrayaan-3 estamos fazendo um projeto baseado nas falhas”, diz S. Somnath, presidente da Organização de Pesquisa Espacial Indiana (ISRO, na sigla em inglês).
“Tudo o que pode falhar e como protegê-lo (o projeto), esta é a abordagem que adotamos.”
Por que a Índia quer pousar no lado oculto da Lua
Realizada em 2008, a Chandrayaan-1, a primeira missão lunar da Índia, detectou a presença de água na superfície lunar e custou US$ 79 milhões.
“Ainda precisamos de muito mais detalhes sobre onde e quanta água existe, e saber se toda ela está congelada”, explica Akash Sinha, professor de robótica espacial na Universidade Shiv Nadar University, perto de Delhi.
“Entender a natureza e a localização dos depósitos de água pode ser muito útil para o sucesso de nossas futuras missões, e até mesmo a habitação pode ser planejada próxima aos depósitos de água.”
A exploração da superfície das regiões polares da Lua, compostas de rochas e solo, também pode dar respostas sobre a formação do Sistema Solar.
O custo quase dobrou na segunda missão lunar da Índia, a Chandrayaan 2, chegando a US$ 140 milhões. Ela foi lançada no início de 2019, mas não conseguiu pousar o veículo rover com sucesso.
A Índia está agora gastando cerca de US$ 80 milhões (aproximadamente R$ 385 milhões) no Chandrayaan-3.
Custos reduzidos
O programa espacial da Índia evoluiu nas últimas duas décadas, atraindo a atenção global por sua capacidade de reduzir custos.
“Em 2018, quando a Índia estabeleceu um recorde mundial ao lançar 104 satélites em um único lançamento pelo Veículo de Lançamento de Satélite Polar [um foguete], fizemos isso porque nossos cientistas e engenheiros conhecem a arte e a ciência de inserir cada uma dessas 104 peças em perfeita órbita com precisão”, diz Susmita Mohanty, diretora geral da Spaceport SARABHAI, um centro de pesquisa espacial independente na Índia.
“Nem todo mundo pode realizar esse tipo de coreografia delicada na órbita terrestre.”
O custo da Mangalyaan, a única missão indiana a Marte, foi de cerca de US$ 75 milhões — quase um décimo do orbitador Maven, da Nasa, que custou US$ 485 no desenvolvimento e outros US$ 187 milhões no lançamento.
O diferencial de todas as missões espaciais indianas é a reutilização e o fornecimento local de componentes.
Ao contrário da missão anterior, Chandrayaan-3 não inclui um novo orbitador — um satélite que fica em órbita.
Esta missão contará com o orbitador da missão Chandrayaan-2 para fornecer todas as comunicações entre o módulo de pouso, o rover e a sala de controle.
A Índia também mantém os custos baixos usando foguetes menos potentes, como o ex-presidente da Isro, K. Sivan, explicou anteriormente.
“Estamos usando a atração gravitacional da Lua para levar a nave à órbita lunar”, disse Sivan. “Embora estejamos levando 29 dias para alcançar a órbita lunar, esta é a maneira mais econômica de viajar para a Lua.”
Sivan apontou que Israel tinha uma estratégia semelhante.
“A missão Beresheet de Israel, lançada no início de 2019, usou a mesma rota econômica para a Lua.”
O programa espacial da Índia tem um orçamento de US$ 1,5 bilhão (R$ 7,2 bilhão).
Susmita Mohanty explica que a economia sempre foi fundamental nos projetos indianos.
“Entre as principais potências espaciais, a Índia sempre foi a pragmática”, aponta Mohanty. “Pegue o Chandrayaan-2, por exemplo, onde os cientistas usaram os princípios da mecânica orbital para minimizar o consumo de combustível e alcançaram a Lua em 48 dias, em vez de alguns poucos dias.”