O cancelamento do depoimento do general Walter Braga Netto à à CPI do 8 de Janeiro é fruto segundo a colunista Malu Gaspar, do O Globo, de um acordo de aliados de Lula com a oposição bolsonarista para blindar das investigações a Força Nacional de Segurança e, por tabela, o ministro da Justiça, Flávio Dino.
Braga Netto , ex-ministro da Defesa e ex-companheiro de chapa de Jair Bolsonaro nas últimas eleições presidenciais, deveria falar à CPI na próxima quinta-feira (5), mas a sua ida ao Congresso foi cancelada – e como a CPI está em sua última semana de atividades, não vai mais acontecer.
O presidente da CPI, Arthur Maia (União Brasil-BA), já disse que houve um “apagão” na segurança no dia dos atentados, que incluiu não apenas a Polícia Militar do Distrito Federal e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), mas também a Força Nacional de Segurança.
Por isso os bolsonaristas da CPI insistem em chamar o coronel que chefiava a Força no dia dos atentados, o coronel Sandro Augusto de Queiroz. Eles têm informações de que, se fosse depor, Queiroz diria que Dino demorou a convocar a tropa.
Já os governistas querem evitar esse depoimento a qualquer custo. Dizem que Queiroz é um bolsonarista radical que não hesitaria em mentir diante da CPI para prejudicar Dino e o governo. “Ele é uma granada sem pino”, diz um integrante da CPI, referindo-se a Queiroz.
Foi assim que, mesmo tendo a maioria dos votos na CPI, os governistas aceitaram ficar só com Heleno. Avaliou-se ali que o risco de comprar uma briga com a oposição era maior para o governo, uma vez que Queiroz poderia vir a público e causar estragos para a imagem de Dino, que está em plena campanha para se tornar ministro do STF.
Para os governistas, como havia mais declarações, gestos e indícios de golpismo claro envolvendo Heleno do que Braga Netto, por isso pensaram que seria mais fácil interrogá-lo.
Heleno, que foi ministro do Gabinete de Segurança Institucional de Bolsonaro, depôs no início da semana passada, numa sessão conturbada que acabou marcada por um palavrão dito por ele à relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA).
Ao final, integrantes governistas da CPI diziam que o depoimento de Heleno havia sido péssimo para ele, enquanto os bolsonaristas comemoravam o desempenho do general, que teria sido mais enfático e mais bem preparado do que os lulistas da comissão.
O mesmo cabo-de-guerra entre governo e oposição na CPI por causa do depoimento do coronel Queiroz ocorreu na semana passada, quando os parlamentares lulistas ensaiaram convocar o almirante Garnier Santos, comandante da Marinha.
De acordo com a colunista Bela Megale, do GLOBO, Cid relatou em sua delação ter participado de uma reunião com Bolsonaro e os três comandantes das Forças para avaliar uma minuta de intervenção militar. Cid teria dito que, na ocasião, só Garnier Santos manifestou apoio à tentativa de golpe.
Mas, diante da insistência dos governistas, mais uma vez o presidente da CPI aceitou que só pautaria os requerimentos de convocação dos militares citados na delação premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid se os governistas também aceitassem a realização do depoimento de Sandro Queiroz. E mais uma vez, para evitar o depoimento do coronel, os governistas desistiram de chamar o almirante.
Um dos temores do governo é o de que o coronel Sandro Queiroz arraste Flávio Dino para o centro das investigações. A oposição bolsonarista aposta na narrativa de que Dino demorou para agir no dia dos atentados para tentar emplacar a tese de que o governo Lula foi conivente com os atos golpistas.
Flávio Dino já disse que, na véspera dos ataques golpistas, chegou a editar uma portaria prevendo a atuação da Força Nacional em Brasília, mas, de acordo com ele, não houve resposta do governador Ibaneis Rocha (MDB).
Conforme informou a “Folha de S. Pauo”, um relatório da Força Nacional de 5 de janeiro – portanto três dias antes da invasão – alertou o Ministério da Justiça sobre risco de ações violentas e a depredação da sede dos três poderes
O documento foi encaminhado ao Ministério da Justiça, que alega tê-lo repassado para a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.
Reportagem do GLOBO em janeiro revelou que um dia antes da invasão golpista, no dia 7 de janeiro, a Polícia Federal também havia alertado Dino sobre os riscos de manifestantes acampados em frente ao QG do Exército em Brasília planejarem provocar “ações hostis e danos” ao “Congresso Nacional, o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal”, além de “confrontar as Forças de Segurança”.