Seja quem for o substituto do ministro Paulo Pimenta, cuja saída da Secom já foi definida pelo presidente Lula da Silva (PT), terá como missão prioritária resolver um problema segundo Malu Gaspar, do O Globo, que se arrasta desde o início do mandato, e que estava no centro das queixas de Lula sobre a comunicação do governo: fechar um contrato para a comunicação digital do governo petista.
Virtual candidato à reeleição em 2026, Lula chega à segunda metade de seu mandato em janeiro sem uma estratégia consolidada para as redes sociais, calcanhar de Aquiles da esquerda.
Isso porque a concorrência aberta pela Secom em janeiro para estruturar a comunicação digital, de R$ 197,7 milhões, foi revogada pelo próprio governo em julho após ser suspensa pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que alertou para fatos de “extrema gravidade” no processo de seleção de quatro empresas para a execução do contrato – considerado o mais caro da história do Palácio do Planalto para o setor.
O processo entrou na mira do TCU depois que a lista de vencedoras do certame foi antecipada na véspera da divulgação do resultado pelo Antagonista. Em abril, o site divulgou uma mensagem cifrada na rede social X dizendo que as agências Usina Digital, Area Comunicação, Moringa L2W3 e o consórcio BR e Tal, composto pela BRMais e a Digi&Tal, dividiram o contrato, o que se confirmou.
Em julho, o então ministro interino, Laércio Portela, suspendeu a concorrência e anunciou que faria outra licitação, mas até agora isso não ocorreu. Pimenta, à época, estava à frente da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, que depois da pior fase da crise na região se transformou em uma subdivisão da Casa Civil de Rui Costa
Em entrevista à GloboNews em março, Pimenta disse que o governo trabalhava com a previsão de que as agências selecionadas já estariam prestando os serviços em maio.
Sete meses depois, ainda não há previsão de quando isso acontecerá, uma vez que a nova concorrência sequer foi aberta pela Secom. Em sua fala durante um seminário do PT, na semana passada, Lula não escondeu sua frustração.
“E nós não conseguimos sequer usar a internet com o poder de alcance que ela possa ter. E eu quero assumir a minha culpa porque até hoje estamos há dois anos no governo e a gente não conseguiu ter uma imprensa digitalizada [sic] e competitiva”, disse Lula em referência ao contrato de comunicação digital.
“A gente não conseguiu. A gente não conseguiu, sequer, em dois anos de governo, fazer um estudo mais aprofundado sobre a questão digital e sequer conseguimos fazer uma licitação para ter uma imprensa digitalizada [sic], mais competitiva”.
Na sequência, o presidente afirmou ter como prioridade a abertura de uma nova licitação para a área.
“Nós não temos uma digitalização do PT que pensa e fale a mesma linguagem durante todo o dia nesse país. Isso é uma coisa que vamos ter que levar em conta nesses dois anos que faltam para terminar meu governo. Começar inclusive fazendo licitação para que a gente tenha a questão da digitalização levada muito a sério, tanto pelo governo, quanto pelo nosso partido”.
Bala de prata
Internamente, a concorrência da Secom vinha sendo tratada como uma espécie de “bala de prata” do governo diante da tendência de queda da popularidade de Lula refletida pelos principais institutos de pesquisa no primeiro semestre – revertida em outros levantamentos realizados em julho, mas postos à prova diante da alta histórica do dólar e das incertezas em torno de medidas populares anunciadas pelo governo, como a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil.
É ponto pacífico entre petistas que a comunicação nas redes, setor que também representou um dilema para o PT na corrida presidencial de Lula em 2022 e foi pivô de um racha na campanha, é um território muito mais bem explorado pelo bolsonarismo e representa uma lacuna no diálogo com as camadas mais populares da sociedade.
Candidato apoiado por Lula para suceder Gleisi Hoffmann na presidência do partido, o prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva, admitiu em entrevista à equipe do blog em novembro que a direita hoje conta com forte poder de mobilização e organização nas redes em comparação com a esquerda e que as classes médias e as juventudes nas periferias foram “cooptadas” pelo espírito antissistema.
Nas eleições municipais deste ano, o PT viu seu eleitorado cativo nas periferias de São Paulo migrar para o prefeito reeleito, Ricardo Nunes (MDB), e para o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), que dominou as redes durante o primeiro turno da corrida, apesar da indicação da ex-prefeita Marta Suplicy (PT) como vice na chapa de Guilherme Boulos (PSOL).
O partido só elegeu um prefeito entre as capitais, em Fortaleza (CE), na eleição mais disputada da história da cidade. A nível nacional, emplacou 252 prefeituras, um crescimento tímido em relação a 2020 (183), quando teve seu pior desempenho desde a chegada da legenda à presidência em 2003, mas ficou bem atrás do PL de Bolsonaro (517).
O desempenho acendeu um sinal de alerta no Palácio do Planalto. O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, declarou na ocasião que o resultado eleitoral demandava do PT uma “profunda avaliação” e, em uma metáfora futebolística, chegou a declarar que a sigla estava no grupo do Z-4 – que reúne clubes que tentam escapar do rebaixamento – o que provocou uma rusga pública com Gleisi e levantou discussões sobre os desafios do petismo para 2026.