A população da Bahia está envelhecendo mais rápido que as de outros estados. É o que mostra reportagem de Gil Santos, do jornal Correio, em um cálculo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) revelou que nos próximos anos os idosos vão duplicar no estado. Até 2070, serão mais 2,8 milhões de pessoas com 60 anos ou mais. Especialistas atribuem a mudança a queda no número de nascimento de bebês, ao crescimento da migração da população jovem para outros estados e ao aumento da longevidade e da esperança de vida.
Os cálculos apontam que, entre 2024 e 2070, haverá diminuição no número de pessoas em todas as idades até 53 anos. Atualmente, existe 2.310.505 idosos na Bahia. A projeção do IBGE é de que ocorra crescimento de 123,8% e que o estado chegue, em 2070, com 5.171.132 pessoas com 60 anos ou mais (40,3% da população). Será o segundo maior contingente de idosos por proporção do país, atrás apenas do Distrito Federal. Já a quantidade de crianças e de adolescentes deve cair pela metade.
O Brasil tem uma legislação específica para proteger os direitos da população idosa, mas o Estatuto do Idoso esbarra em dificuldades do dia a dia. A costureira Nilzete Souza, 66 anos, questiona se a sociedade está preparada para essa mudança no perfil etário da população e citou o exemplo da mãe dela, uma senhora de 89 anos, que frequentemente encontra barreiras para ter acesso a direitos básicos.
“A gente sabe que a lei diz que temos direito a prioridade nas filas e assentos reservados no transporte público, por exemplo, mas nem sempre isso é respeitado. Há uns dois meses tive que discutir com uma jovem para minha mãe poder sentar no metrô. As pessoas não entendem que o idoso tem o tempo dele. Ele é mais lento, sim, porque ele é uma pessoa idosa. A sociedade precisa se educar”, disse.
A dificuldade de acesso aos serviços de saúde, a falta de acessibilidade, de atividades de lazer e de oportunidades no mercado de trabalho são outros problemas citados. A supervisora do IBGE na Bahia, Mariana Viveiros, explica que os cálculos foram baseados nos números de nascimentos, de migração e de mortes. Foram usados dados do Censo Demográfico de 2022, de cartórios, do Ministério da Saúde e de imigração. Os especialistas fazem as projeções a partir do cruzamento dessas informações.
“Demograficamente temos nascimentos, mortes e migração contribuindo para que a população da Bahia se torne mais envelhecida. Temos, por exemplo, o aumento da esperança de vida ao nascer e da esperança de vida dos idosos. A esperança de vida ao nascer terá um ganho de 8 anos, entre 2024 e 2070, e para os homens será ainda maior, de 9 anos”, explicou.
Hoje, a projeção é de que quem tem 60 anos tem esperança de viver mais 22,9 anos, ou seja, pode chegar quase aos 83 anos. Entre 2024 e 2070 essa esperança de vida vai aumentar. Alguém que tenha 60 anos, em 2070, terá a esperança de viver mais 26,6 anos, ou seja, ir até quase os 87 anos.
Outros dois pontos levantados pela supervisora que contribuem para o envelhecimento é que, desde 2010, a Bahia tem registrado queda no número de nascimento. A projeção é que a partir de 2035 a população comece a encolher e reduza em 13,7% até 2070. A segunda questão é a migração. Historicamente, a população jovem deixa a Bahia e vai buscar oportunidades de trabalho e de estudo em outros estados ou países.
Impactos
Para o economista, doutor em Ciências Sociais e professor do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano (PPDRU) da Unifacs, Laumar Neves, o envelhecimento da população terá impactos diretos sobre a economia, a organização social e os serviços públicos.
“Estamos passando por um processo de transição demográfica e perdendo o status de ser um país de jovens. A questão da Previdência é o primeiro ponto a ser observado. Teremos mais pessoas dependendo dos benefícios previdenciários [aposentadorias e pensões] e menos pessoas contribuindo. O segundo ponto é que idosos precisam de mais cuidados médicos, o que vai gerar uma pressão maior sobre o sistema de saúde”, explicou o professor.
Ele frisou que o mercado de trabalho também será afetado por essa mudança demográfica, já que a idade média da população vai aumentar, e disse que as empresas terão que rever critérios que hoje excluem profissionais do mercado por conta da idade. Por fim, o professor destacou que o envelhecimento vai exigir também um reposicionamento social quanto ao papel da pessoa idosa na sociedade. “Vivemos em uma sociedade onde o bom e o belo é apenas o novo. Vamos ter que repensar”, disse.