O núcleo político da campanha do presidente da República à reeleição planeja apresentar segundo a coluna de Malu Gaspar, do O Globo, um “Bolsonaro light” na convenção do PL que vai ratificar sua candidatura no próximo domingo, no Rio de Janeiro.
A ideia dos marqueteiros é usar o evento, que vai reunir cerca de 10 mil pessoas no ginásio do Maracanãzinho, para tentar projetar uma imagem de Jair Bolsonaro menos radical e mais palatável – especialmente para o eleitorado feminino.
No discurso que os auxiliares estão escrevendo para Bolsonaro, não haverá menções a suspeitas de fraude em urnas eletrônicas e nem sobre a segurança do sistema de votação.
Se decidir seguir de fato o conselho dos marqueteiros, Bolsonaro também não fará provocações ao Supremo ou ao TSE. A ideia é que ele fale apenas de realizações do governo, com ênfase em programas sociais, citando também os motes da campanha, família e liberdade.
A formação do palanque também está sendo pensada para melhorar o apelo ao público femino: ministros, autoridades e políticos que vão subir ao palco devem levar as esposas.
O objetivo é que Bolsonaro apareça cercado de mulheres nas fotos do evento, ao contrário do que costuma acontecer nas imagens do presidente – seja em motociatas, eventos de rua e palanques em geral.
Há um esforço nos bastidores para que Michelle Bolsonaro também fale no evento.
A ex-ministra Damares Alves, que é amiga da primeira-dama, foi acionada para convencê-la a se engajar mais na campanha, e disse aos integrantes do núcleo político que ela está disposta a colaborar. Ainda assim, não foi confirmado o discurso de Michelle.
Outra iniciativa dos organizadores da convenção diz respeito à cobertura de imprensa.
Ao contrário do que ocorreu em 2018, quando os jornalistas ficaram misturados ao público na convenção do PSL que confirmou a candidatura de Bolsonaro à presidência, desta vez haverá uma área específica para a imprensa, com entrada à parte. A segurança também será orientada a não permitir agressões a repórteres, como chegou a acontecer há quatro anos.
A coordenação de campanha considera que a convenção será a primeira grande oportunidade da campanha de ter um espaço garantido no noticiário da TV aberta e sonha com uma “virada” na imagem de Jair Bolsonaro a partir de então.
Nas últimas semanas, a equipe de marketing e o núcleo político amargaram vários revezes – da escolha do general Braga Netto ao invés da ex-ministra Tereza Cristina para candidato à vice, passando pela prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e pela reunião ministerial repleta de provocações ao TSE e ao Supremo.
Em todas essas ocasiões, o presidente da República não seguiu a orientação dos marqueteiros, tomando iniciativas e dando declarações que o prejudicavam diante de eleitores que ele precisa conquistar, diz Malu Gaspar.
Na semana passada, porém, o time da campanha comemorou o que considerou uma vitória: o fato de que, durante a promulgação da PEC dos auxílios, o presidente se concentrou na leitura do discurso preparado pelos marqueteiros e não avançou o sinal para temas polêmicos.
Eles agora torcem para que nenhum fato novo tire o presidente do prumo e o faça voltar a desobedecê-los.