A Novonor, ex-Odebrecht, está pronta para dar a largada em um passo nada trivial em sua história. A companhia vai lançar em breve, nas próximas semanas, um teaser ao mercado em busca de um sócio para a construtora OEC — o negócio original do grupo baiano, fundado em 1944, e o único que o conglomerado, até então, nunca quis dividir. O teaser é um primeiro convite para que compradores interessados se manifestem e indiquem sua percepção de valor da empresa. Ele marca o lançamento de um processo formal de venda. A expectativa é que isso ocorra ainda no mês de fevereiro. No máximo, no começo de março.
Nas próximas semanas, serão discutidos os detalhes para esse passo. É preciso definir exatamente o público-alvo de interesse. De cara, a resposta ideal é simples: um investidor financeiro e minoritário. A vida real, porém, é diferente. O grupo sabe que não pode fechar as portas para quem quiser o controle ou formações de governança que sejam quase isso, na prática. Também não pode ignorar concorrentes que possam ter um bom fit de combinação. Mas não há dúvida, nesse momento, quanto à decisão da Novonor de se manter no negócio, ou seja, no mínimo como uma fatia minoritária importante.
O conglomerado aposta todas suas fichas na revitalização dessa operação de construção civil, desde que concluiu a recuperação judicial, no ano passado, para reorganizar aproximadamente R$ 100 bilhões em compromissos. Nesse processo, a Braskem, o maior negócio do grupo nos últimos anos, será vendida.
Além disso, é necessário estabelecer nessas próximas semanas se a busca por um sócio para a OEC será para tudo ou apenas para uma geografia específica — por exemplo, a operação no Brasil.
Muitos se questionam se há, no mercado, interessados em serem investidores minoritários da ex-Odebrecht. Mas é fato que o conhecimento para execução de grandes obras, de grande complexidade, ainda está no grupo. E que, ao longo dos últimos anos, a empresa viveu um processo de aprendizado de redução de custo e aumento da eficiência.
“No Brasil, ninguém ocupou esse lugar de liderança do mercado”, afirma Marco Siqueira, presidente da OEC desde meados do ano passado, em entrevista a revista Exame. “Algumas companhias médias cresceram, mas não teve ninguém que assumiu uma liderança inconteste no setor.” Nem na América Latina. O executivo prefere não comentar o tema da busca por um sócio. Limita-se a dizer que se trata de assunto da holding controladora e que a OEC vai participar dessa discussão, quando chegar o momento.
Há tempos o grupo planeja esse movimento. Contudo, apenas agora foram cumpridas todas as etapas consideradas necessárias para que o ativo ficasse em condições de ser apresentado a investidores potenciais. No fim de 2020, terminou a monitoria que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DoJ) fazia na empresa, para acompanhar seu sistema de controles. O Ministério Público Federal (MPF) também tinha seu próprio monitor. Eles ficaram próximos ao negócio desde a assinatura do acordo de leniência do grupo, no âmbito da Operação Lava-Jato.
Outra questão importante foi encerrada no dia 20 do mês passado. A OEC fechou a operação de troca da dívida dentro de seu próprio processo de reestruturação financeira, realizado por meio de uma recuperação extrajudicial. O plano teve aprovação de 73% dos credores. O total devido em títulos emitidos no exterior mais juros e multas acruados estava em quase US$ 3,6 bilhões. Desse montante, US$ 1,55 bilhão apenas ficaram dentro da empresa. Na prática, houve um corte de 55% no compromisso.
A diferença, pouco menos de US$ 2 bilhões, foram transferidos para uma holding que detém as ações da construtora. Essa companhia casca, entre a OEC e a Novonor, tem única e exclusivamente esse compromisso e as ações da OEC. Quando a operação estiver em uma situação que a permita pagar dividendos, os rendimentos serão divididos entre os credores que ficaram nessa holding e a Novonor. “Essa parcela da dívida virou um quase equity”, afirma Siqueira, explicando que esse compromisso é como se fosse uma participação acionária dos credores.
Esses marcos — fim das monitorias e conclusão da troca das dívidas — eram considerados essenciais para que a OEC possa ser apresentada publicamente. Enquanto a empresa se concentrava nessas questões, foram feitos os trabalhos para preparo de data-room e organização da estrutura societária. Ontem, os executivos da construtora divulgaram o plano de cinco anos da empresa aos credores.
A carteira de pedidos da construtora terminou dezembro em US$ 2,7 bilhões. A queda é de praticamente 20% em relação a 2019, fruto da desvalorização cambial. Mas não deixa de saltar aos olhos que o volume é inferior a 10% do que esse estoque já foi em 2013, quando superava US$ 30 bilhões.
No ano passado, a empresa teve receita de US$ 564 milhões e geração de caixa de US$ 172 milhões — um dos menores valores já registrados na história da empresa. Mas a previsão é de crescimento a partir de 2021. “Não vamos ter no Brasil, outra Belo Monte ou outra Santo Antônio. As obras serão menores, mas vemos oportunidades no segmento de energia limpa e de saneamento”, explica o presidente.
A covid-19 paralisou diversos empreendimentos no ano passado. Com isso, haverá um efeito de acúmulo para ser transferido para 2021, além da esperada retomada. Por isso, a receita projetada para o próximo ano é de US$ 1,06 bilhão. Desse total, 66% são de contratos já garantidos e financiados e o restante, ainda por definir financiamento e, portanto, assinatura.
Siqueira destaca ainda que o cliente final mudou. Enquanto antes havia preponderância de obras de infraestrutura no setor público, promovidas pelos governos federal e estadual, agora as oportunidades estão principalmente no setor privado. De acordo com o executivo, a OEC também deverá atuar em saneamento, mas principalmente em obras de captação e tratamento, não na canalização final.
A construtora espera alcançar uma carteira de pedidos que supere US$ 4 bilhões a partir de 2022. O plano da companhia apresentado aos credores é que, em 2025, a receita será de US$ 2,8 bilhões, com US$ 275 milhões de geração de caixa.
Das tarefas planejadas para a versão 2021 do grupo, antecipadas pela revista em outubro do ano passado, falta apenas a definição de um sucessor para Ruy Sampaio, o presidente da Novonor. A troca do nome já foi realizada e o início da venda da construtora vai para a rua em breve.
O processo formal para venda da Braskem também deve ter início em março. Contudo, a expectativa é que nenhuma transação deva ocorrer ainda em 2021, pois a empresa precisa melhorar sua situação financeira e dar por encerradas todas as indefinições relacionadas aos problemas com as minas de sal-gema em Alagoas (que já causaram um rombo de R$ 13 bilhões no balanço).
Novonor esclarece
A Novonor esclarece que não está vendendo a sua controlada OEC. Considera ter sócios ou investidores para determinados projetos, áreas de atuação ou geografias, sem que isso signifique de maneira alguma venda do controle do negócio de engenharia e construção. Esta foi a origem do Grupo Novonor, e é hoje um dos nossos principais pilares.