Além de servir como laboratório para tecnologias de inteligência artificial, as eleições municipais de outubro serão as primeiras com recursos recém-implementados por grandes plataformas, como WhatsApp e X, cujos efeitos sobre a circulação de desinformação, embora ainda incertos, preocupam especialistas e Justiça Eleitoral. A disputa também ocorre após decisões do YouTube e do antigo Twitter dificultarem o acesso de pesquisadores a seus dados, gargalo que se soma à já conhecida resistência das empresas do setor à transparência sobre moderação de conteúdo e anúncios políticos.
O jornal O Globo mapeou as principais mudanças nas plataformas desde as últimas eleições. As mais recentes ocorreram no WhatsApp e têm potencial para ampliar a viralização. O aplicativo lançou as comunidades, em janeiro de 2023, e os canais, em setembro. A primeira ampliou o alcance dos grupos, antes limitados a 256 usuários, ao permitir agrupar até 50 deles em uma espécie de “guarda-chuva” para envios a até 5 mil membros, mantendo a criptografia.
Já os canais reúnem usuários inscritos, semelhante ao formato do Telegram. No último dia 17, a empresa ampliou o número de administradores que enviam, unilateralmente, informações à base ilimitada de usuários e passou a permitir disparar áudios.
— Novos recursos trazem consequências na forma como usuários são expostos a fake news e são visados por campanhas de desinformação — afirma a pesquisadora do Instituto Democracia em Xeque Tatiana Dourado.
Ao GLOBO, o WhastApp apontou que, no caso dos canais, usa ferramentas automáticas, análise manual e denúncias de usuários para detectar abusos. Sobre comunidades, diz que as mensagens recebidas só podem ser encaminhadas depois a um grupo de cada vez: “Esse limite adicional ajuda a reduzir a disseminação de conteúdo viral”.
Pesquisador da FGV-Rio, o advogado Filipe Medon avalia que as comunidades do WhatsApp, junto ao crescimento do uso de IA, ampliam riscos:
— A plataforma consegue limitar quem é atingido ou sinalizar que aquele é um conteúdo encaminhado com frequência, mas não identificar, de maneira efetiva, o teor daquela mensagem. A desinformação é um dos maiores problemas desta eleição e, com a inteligência artificial, temos um combo explosivo.