Apuração do Pentágono aponta que unidade secreta russa teria usado arma sônica para inflingir sintomas graves a funcionários dos EUA em serviço no exterior, segundo reportagem de consórcio de mídia. Uma misteriosa doença sofrida nos últimos anos por funcionários dos setores diplomático, político e de segurança dos Estados Unidos, batizada como síndrome de Havana, teria sido causada por atividades secretas promovidas pela Rússia com o uso de uma arma sônica, aponta uma nova investigação realizada pelo Pentágono.
Os relatos começaram a levantar suspeitas em 2016, quando diplomatas e funcionários de embaixadas norte-americanas em alguns países sofreram episódios graves de enxaquecas, náuseas e lesões cerebrais. A síndrome foi assim chamada devido à sua incidência inicial na capital cubana.
Os Estados Unidos retiraram grande parte dos seus funcionários de Havana, mas logo começaram a surgir relatos similares em outros países como China, Alemanha, Rússia, Austrália e até em Washington.
Em 2020, um estudo concluiu que os sintomas da síndrome teriam sido provavelmente causados por exposição à radiação de micro-ondas, mas em março de 2023 um relatório divulgado pela Casa Branca concluiu ser “muito improvável” que os casos fossem obra de um Estado estrangeiro – embora nenhuma teoria alternativa tenha sido apresentada.
Agora, uma outra investigação, da qual um dos principais responsáveis é o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, e revelada nesta segunda-feira (1º) pela revista alemã Der Spiegel, o programa 60 Minutes da rede dos EUA CBS e o veículo investigativo letão The Insider, indica que a origem da doença estaria em ações de Moscou.
O relatório conclui que, ao contrário do que se pensava, os primeiros casos poderão não ter acontecido em Havana em 2016 mas, sim, antes. “Provavelmente houve ataques dois anos antes, como em Frankfurt, na Alemanha, quando um funcionário do governo dos EUA que trabalhava no consulado local perdeu os sentidos depois de ter sentido ser atingido por uma espécie de feixe de energia”, diz a investigação.
Desmaios e problemas de memória e concentração
Um dos autores da investigação, Greg Edgreen, tenente-coronel do Exército dos EUA, afirma que o “nexo russo” é o denominador comum em todos os casos, sendo que as autoridades russas teriam mesmo recompensado uma unidade militare, a 29155, pelo bom trabalho nessa questão. Membros desse grupo russo teriam estado em todos os locais onde foram relatados ataques, afirma a reportagem.
A unidade 29155 é responsável por operações no exteriores e já foi apontada como responsável por diversos incidentes, inclusive uma tentativa de morte por envenenamento do ex-agente duplo russo Serguei Skripal no Reino Unido.
De acordo com Edgreen, os investigadores norte-americanos haviam estabelecido um padrão demasiado exigente para poder apresentar uma acusação formal contra Moscou porque, entre outras razões, isso implicaria enfrentar algumas “verdades inconvenientes”, como a de que os Estados Unidos teriam falhado na proteção do seu pessoal.
Embora não tenha sido encontrada inicialmente nenhuma razão plausível para os incidentes, o Congresso dos EUA aprovou, em 2021, a chamada Lei de Havana, que autorizou o Departamento de Estado, a CIA e outras agências governamentais a indenizar funcionários afetados pela doença durante missões diplomáticas.
Uma das pessoas afetadas, identificada como Carrie, contou ao programa 60 Minutes, da CBS, como vivenciou o alegado ataque que inicialmente lhe causou desmaios e, depois, problemas de memória e concentração. A agente do FBI relatou que estava na sua casa, no estado da Flórida, quando, de repente, ouviu um som alto no ouvido direito e, ao mesmo tempo, a bateria do seu celular começou a inchar, a ponto de partir a carcaça do aparelho.
Outro incidente aconteceu em 2023, na Lituânia, durante a cúpula dos líderes da Otan. Segundo fontes consultadas pelos veículos de comunicação que revelaram a investigação, um alto funcionário do Departamento de Defesa dos EUA foi atacado.
O porta-voz do Kremlin, Dimitry Peskov, classificou as conclusões do relatório como “infundadas” e negou que a Rússia esteja por trás da chamada síndrome de Havana. “Esse assunto está em pauta na mídia já há muitos anos, e desde o início tem sido vinculado ao lado russo. Mas ninguém nunca publicou nenhuma prova convincente, então tudo isso não passa de uma acusação infundada”, disse.