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sexta-feira 20 de janeiro de 2023 às 07:17h

Nova direção do BNDES sinaliza captação de recursos externos para projetos sustentáveis

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Antes tarde do que nunca, diz um velho ditado popular. Indicado para assumir a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nos próximos dias, Aloizio Mercadante, sinalizou que a instituição de fomento deve captar recursos externos para financiar projetos da chamada Economia Verde. “O Brasil ser o G1 da biodiversidade no planeta é um ativo, é um instrumento para a gente ter acesso a recursos (internacionais), que pode compensar a restrição do Tesouro”, disse Mercadante, em entrevista concedida à jornalista Miriam Leitão no dia 12. Essa seria uma alternativa para o banco de investimento estatal não demandar capital da União, que já sustenta uma dívida bruta de R$ 7,3 trilhões, equivalente a 74,5% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo os dados do Banco Central.

Atrasado pelo pensamento negacionista ambiental da gestão anterior, o BNDES está chegando tarde em recursos que ficaram mais escassos e caros após o início da Guerra na Ucrânia e o aumento dos juros nos Estados Unidos. Desde a invasão dos russos no território ucraniano em 24 de fevereiro de 2022, os recursos de fundos globais ESG, sigla para carteiras que seguem critérios ambientais, sociais e de governança, passaram a se concentrar em projetos de energia renováveis na Europa para minimizar a dependência do gás e do petróleo da Rússia. Em outras palavras, havia maior volume de capital disponível de fundos verdes para países emergentes antes do conflito. “Nessa crise causada pela Guerra na Ucrânia, a Europa teve que voltar a utilizar combustíveis fósseis, mas também está investindo forte em fontes renováveis (eólica, solar). Carros novos saem de fábrica com painéis solares no teto para economizar energia”, afirmou o especialista em governança da iBluezone, Roberto Gonzalez.

AUSENTE Devido a restrições fiscais nos últimos anos (2019-2022), o BNDES devolveu R$ 540 bilhões à União, valor superior aos R$ 420 bilhões (nominais) que havia tomado do Tesouro nas gestões petistas (2003-2016). A última captação do BNDES — de US$ 1 bilhão no mercado de capitais externo — foi realizada em maio de 2017, e a própria República tem evitado a emissão de dívida internacional, ausente de operações com bonds desde julho de 2021 (veja quadro), segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Esta modalidade de captação no mercado de capitais é diferente da obtida com instituições multilaterais e agências governamentais, cuja captação representou 4,2% dos recursos do BNDES em 2022.

Na visão de Gonzalez, mesmo com o dinheiro mais escasso por causa da crise energética na Europa, ainda há oportunidades para atrair capitais para o Brasil. “Tinha muitos recursos lá fora. E o BNDES entra com o objetivo de desenvolver projetos de hidrogênio verde, energia eólica e solar”, disse. Mesmo com um cenário de recessão global, como pintam os economistas, na possibilidade do banco, por exemplo, repetir uma captação de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5 bilhões), a capacidade de investimento para esse segmento deve dar um salto em 2023. Em 2022, a instituição desembolsou R$ 12 bilhões até setembro, segundo o último boletim publicado. “São projetos sustentáveis que diminuem os riscos para os bancos. Os europeus foram os primeiros a aprender com isso. Não é projeto só para abraçar árvores, eles dão retorno para os financiadores”, afirmou o especialista.

Foto: Ton Molina

“O Brasil ser o G1 da biodiversidade no planeta é um ativo, é um instrumento para a gente ter acesso a recursos, que pode compensar a restrição do Tesouro” Aloizio Mercadante virtual presidente do BNDES.

Em entrevista coletiva na terça-feira (17), o vice-presidente da Anbima, José Eduardo Laloni, mostrou que o mercado externo está aberto para captações de empresas e instituições financeiras brasileiras. Em 2022, o Brasil captou US$ 5,6 bilhões, sendo US$ 4,5 bilhões por empresas e US$ 1,1 bilhão por instituições financeiras. “A taxa média de remuneração foi de 6,2% (ao ano)”, afirmou Laloni, em sua apresentação o mercado de capitais no último ano.

Mas com os juros dos Fed Funds, os títulos do Tesouro Americano, pagando entre 4,5% e 5% ao ano, os bonds soberanos e de bancos de outros países terão taxas ainda mais salgadas em 2023. Segundo o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, o risco País do Brasil está em 262 pontos, ou 2,62 pontos percentuais acima do risco norte-americano. Numa conta simples, uma captação do BNDES com risco semelhante aos bonds da República hoje não sairá com taxa inferior a 7,1% ao ano. “Muito provavelmente, o BNDES vai captar mais caro no exterior por causa da alta dos juros do Fed. Mas é possível que o BNDES tenha um risco menor que a República, pois está com seu balanço mais enxuto”, afirmou Agostini.

Quando considerada uma tarifa de intermediação direta de cerca de 1,5% ao ano, a remuneração do BNDES, o recurso poderá chegar aos tomadores finais a partir de 8,6% ao ano nas bases atuais. Apesar do risco cambial para o governo, os juros internacionais são mais baixos que os praticados no mercado local. A taxa praticada nos financiamentos do banco de fomento é composta pela Taxa de Longo Prazo mais tarifas de intermediação financeira direta ou indireta (a partir de 1,45% ao ano). A TLP tem uma componente fixa que em janeiro de 2023 está em 5,93% ao ano e uma componente variável indexada ao IPCA. Na base nominal atual, com a inflação embutida no cálculo (5,79% em 2022), uma linha de crédito nessa modalidade ficaria em torno de 12,2% ao ano, mas abaixo da Selic, que está em 13,75% ao ano.

O BNDES informou à revista IstoÉ Dinheiro, que os recursos são provenientes do caixa do banco e do retorno de empréstimos anteriores. Nos financiamentos, o prazo máximo de pagamento é de 24 anos. No último dia 4, o BNDES aprovou financiamentos de dois complexos eólicos na Bahia e um solar em Minas Gerais, num total de R$ 3,5 bilhões. Além de energia limpa, o segmento de Economia Verde no banco agrega outros setores: logística, mobilidade urbana, novos usos da terra e de florestas, agropecuária, saneamento e a indústria de baixo carbono.

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