Escolhido presidente do PSDB, em convenção realizada nesta quinta-feira, em eleição que consolidou o retorno do deputado federal Aécio Neves (MG) ao papel de protagonista entre os caciques tucanos, o ex-governador Marconi Perillo (GO) conversou com Lauriberto Pompeu, do jornal O Globo, e falou sobre suas prioridades no comando do partido, posicionamento em relação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e afirmou que Eduardo Leite (RS), seu antecessor à frente da legenda, é o “candidato natural” à presidência da República” pela sigla.
Qual será sua prioridade no comando do PSDB?
Vamos fortalecer o partido em estados em que nem existe direito, buscar mais musculatura na Câmara e no Senado, começar a definir um programa, um conceito em relação a vários temas para o futuro. A gente tem que trabalhar para sair desse dualismo, extremo de cá, extremo de lá, fazer um trabalho para que o eleitor compreenda a importância de a gente ter o equilíbrio.
Como avalia o governo Lula?
Tem muitas falhas, um gigantismo de ministérios. A questão da gastança precisa ser olhada com lupa. O gasto público está exagerado. Se o país não tomar providências do ponto de vista fiscal, poderá ter crises sérias.
Como o PSDB vai se posicionar em relação ao governo federal?
O partido é oposição por convicção. Claro que votando e apoiando aquilo que for importante para o país. Vai criticar, mas não de forma destrutiva, aquilo que não for bom. Vamos colocar o dedo na ferida quando for necessário.
O PSDB teve em 2022 um dos piores resultados eleitorais de sua história e adotou um discurso de renovação, com políticos jovens à frente. O senhor é ligado aos grupos que comandaram a sigla no passado. Não deu certo renovar o partido?
Deu muito certo. É porque o PSDB talvez seja um dos únicos partidos que renova sempre, a cada dois anos tem convenção e muda a direção. Essa prática quase não existe em outros (partidos). Às vezes tem pessoas mais novas, às vezes outras mais experientes, acho que o momento exige pessoas mais experientes.
Em quais capitais o partido já decidiu que terá candidatura própria em 2024?
A ideia é ter nas maiores cidades, especialmente as com mais de 100 mil habitantes e nas capitais. A gente vai começar a trabalhar imediatamente e definir uma estratégia que englobe o maior número de cidades de médio e grande porte.
Eduardo Leite será candidato a presidente em 2026?
Defendo 100% que o partido tenha candidato, e o nosso candidato natural é o Eduardo Leite. O partido nunca deixou de entrar em campo, de escalar time tanto no nível presidencial quanto nos estados mais importantes, salvo no ano passado, que foi um grande equívoco (apoiar Simone Tebet).
Qual é a avaliação do senhor em relação às prévias do PSDB para definir candidato a presidente em 2022?
Prévia é um instituto bonito no papel, o conceito, mas é muito danoso quando a disputa parte para um nível como aconteceu no PSDB. Isso deixa sequela muitas vezes difíceis de serem sanadas.
Há possibilidade de o PSDB se unir a bolsonaristas contra um nome do PT em 2026?
Nós do PSDB vamos trabalhar fortemente pela candidatura (à Presidência) do Eduardo Leite, para que ele vá para o segundo turno. Tenho certeza que o PSDB tem todas as condições de ir para o segundo turno.
Em São Paulo, o PSDB tem perdido filiados para o PSD. Como frear esse movimento?
Vamos apoiar fortemente o PSDB de São Paulo para que possa ter protagonismo. Um fato é certo, o PSDB teve o governo lá por sete mandatos e não tem mais. Boa parte dos prefeitos gravita em torno do poder, especialmente do poder estadual. Cabe a gente trabalhar para recuperar, para fazer prefeitos.
O senhor vai tentar impedir a saída da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, que também pode ir ao PSD?
Eu não falei com ela recentemente. Torço para que ela continue, é um quadro importantíssimo do partido. Nós daremos todo apoio a ela, para fazer o governo, com as alianças que ela precisar e viabilizar as condições para ser uma boa governadora. Tem o apoio e respaldo de todo o partido.
O senhor chegou a se reunir com Lula no fim de 2021, quando houve a aproximação de alguns nomes do PSDB à campanha petista. Como foi o encontro?
A gente teve uma conversa casual, falamos de democracia, de futuro, de respeito mútuo, das nossas disputas históricas, mas falando também fundamentalmente de respeito à democracia.
Votou em Lula ou Bolsonaro para presidente em 2022?
Não vou revelar meu voto.
O senhor foi preso por um dia em 2018 em desdobramento da Lava-Jato. Embora a investigação tenha sido anulada pelo STF, acredita que o caso possa atrapalhar a tarefa de comandar o PSDB?
Parafraseando o ex-presidente (Michel) Temer, fui sequestrado por algumas horas numa operação esdrúxula, ilegal, num ato de persecução à atividade política. Isso foi um engendramento tão cruel, desonesto, que resultou em nulidade total dos procedimentos. Depois de 30 anos em cargos públicos não há nada que possa macular o meu trabalho.