A deputada federal Lídice da Mata (PSB) avaliou em entrevista à Guilherme Reis, Henrique Brinco e Paulo Roberto Sampaio , do jornal Tribuna, de maneira positiva o retorno do Carnaval de Salvador. Contudo, reforçou que alguns ajustes ainda precisam ser feitos.
Tribuna – Qual é a sua avaliação do retorno do Carnaval após a pandemia? Sobretudo o de Salvador, que foi cancelado por dois anos consecutivos?
Lídice da Mata – Acho que o retorno do Carnaval foi muito importante para Salvador. A economia gerada no Carnaval tem um impacto no desempenho econômico geral da cidade. Eu diria que foi um reencontro da cidade com ela própria, com a sua atividade econômica mais importante. O Carnaval é um ícone das atividades do verão e para a geração de renda da cidade. Foi uma belíssima festa, com ações harmônicas entre o Governo do Estado e o governo municipal. Por outro lado, é preciso continuar debatendo o Carnaval, que demonstrou necessidades de mudanças rápidas e imediatas em algumas ações. Sobre o Carnaval do Campo Grande, por exemplo, a gente terminou o ano passado com uma polêmica de encontrar um novo circuito. Tirar da Barra e do Campo Grande e colocar na Boca do Rio. Nenhuma administração pode fazer uma mudança brusca como essa sem produzir um debate cuidadoso. O Carnaval tem um impacto grande na vida da cidade. O Carnaval do Campo Grande está fraco, ruim, sem decoração e sem valorização, mas é um importante carnaval para a cidade. Por outro lado, a Barra demonstra excesso de atrações, de gente… O bairro vem sofrendo, os moradores, os trabalhadores e os comerciantes que têm negócios sofrem na Barra – tanto na preparação, quanto na desmontagem. Além disso, os trabalhadores precisam ganhar com o Carnaval – não apenas os donos de camarotes. Repensar os espaços. Além disso, a Bahia precisa reviver algumas coisas, como o samba. São imensos os blocos de samba, mas eles estão mal colocados dentro do contexto do Carnaval. O processo de organização do Carnaval acontece o ano inteiro.
Tribuna – A senhora teve reunião com o PSD e Edvaldo Brito, além de outras lideranças. Qual foi o teor da reunião? Já há uma discussão para a eleição do próximo ano?
Lídice – Edvaldo Brito, vereador e ex-prefeito, é meu amigo pessoal. Silvio Humberto, do PSB, é seu colega. Nos encontramos ocasionalmente e discutimos assuntos da bancada. Teve um site aí que falou que não tem nenhuma novidade em eu ser candidata. Não tem candidatura nenhuma. Nem eu e nem Edvaldo falamos sobre ser candidato a nata. Nem Silvio. Há uma inquietação em torno desse assunto. O que não quer dizer que não podemos ser. Todos nós podemos ser. Não é assunto proibido. Eu não sou dona de loja de sapato ou de roupa para mudar com as estações. Tem 30 anos que fui prefeita da cidade, tem 40 anos de vida pública. Não tenho que apresentar novidades para a cidade. Eu tenho que apresentar a minha história, a minha reflexão, a minha experiência e o meu aprendizado. É isso que acrescenta na cidade.
Tribuna – O PSB considera ter candidatura?
Lídice - Pode ter, como pode não ter. Nós estamos iniciando uma conversa sobre Salvador. O meu partido tem vereador pelo partido, participa do processo eleitoral há anos na cidade de Salvador. Sempre mantemos candidatura a prefeito, uma chapa competitiva de vereadores. Temos quadros respeitáveis. Tem eu que fui prefeita da cidade e a deputada mais votada no nosso campo de governo em Salvador. Tem vereador como Silvio Humberto que teve 15 mil votos, sendo o mais votado do partido estadual e com toda a sua ligação com o movimento negro. Tem o ex-vereador Zé Trindade que pode ser um nome a ser debatido no partido. Tem a deputada Fabíola Mansur, que é ex-vereadora. Tem quadros que podem sentar numa mesa e levar a discussão.
Tribuna – Há duas semanas a senhora defendeu ter uma representatividade negra maior. O PSB vai seguir com a defesa de representatividade na eleição que vem?
Lídice – Mulheres e negros são a urgência da sociedade para aumentar a sua participação. Quanto mais tivermos mulheres e negros representados na estrutura de governo, mais democrático será o Brasil.
Tribuna – O vice-governador Geraldo Júnior também se colocou como pré-candidato a prefeito pelo MDB. Como vê essa articulação? O PSB poderia apoiá-lo?
Lídice - Vejo com muita simpatia o fato de termos um vice-governador, ex-presidente da Câmara, ex-vereador, que teve participação enorme na última eleição. Acho que ele tem toda a legitimidade para ser candidato e discutir Salvador. É um amigo pessoal, sou amiga do pai dele. Recebo com muita alegria a possibilidade dele ser candidato.
Tribuna – Como vê o embate do Governo com o Banco Central e essa polêmica em torno da taxa de juros em mais de 13%, que é considerada muito alta pelo Planalto?
Lídice - Não é o governo que a considera muito alta. É a maior taxa de juros do mundo. Então, é óbvio que é uma ameaça ao desenvolvimento do país. O presidente do Banco Central precisa fazer com que o BC tenha uma política que garanta a estabilidade da economia brasileira. Não pode ter uma posição como tínhamos com a contenção do investimento no país, no crescimento de empresas e na geração de renda. Isso estava impactando não apenas na inflação, mas no empobrecimento da população. É preciso que o BC aponte os caminhos para que os investimentos possam chegar para o setor produtivo, para gerar empregos e renda. Esse é o desejo do povo brasileiro. Economistas sérios defendem isso, que não pensam apenas na parcela mínima da população. Foi para isso que Lula foi eleito. Ele está sendo fiel ao seu eleitor.
Tribuna – A reoneração dos combustíveis dividiu opiniões, incluindo entre aliados do governo. O que a senhora pensa sobre essa questão?
Lídice – Quem desonerou os combustíveis provisoriamente foi o Governo Bolsonaro. Ele elevou a dívida dos municípios a altíssimos níveis. Nunca que se viu tanto o valor da gasolina subir tanto. Quando chegou perto da eleição, compreendendo que aquilo era negativo para a sua eleição, o presidente desonera todos os impostos que incidem sobre as receitas dos estados e dos municípios brasileiros – levando ao empobrecimento dos municípios e com data para acabar em 31 de dezembro de 2022. Nós denunciamos na época de que se tratava de uma medida eleitoreira. Sabíamos que era uma medida insustentável. O presidente Lula, quando assumiu, enfrentou um ataque ao Palácio do Planalto, Congresso Nacional e STF. Nós vivemos a expectativa de desestabilização de um presidente que acabava de ser empossado. Por essas ações e até para estabilizar o ambiente, ele manteve a política de desoneração. Era uma política que retirava a capacidade de investimento de estados e municípios. Agora, o presidente Lula apenas cumpriu o que prometeu. Realinhou o governo e agora fez uma reoneração, que era o que estava previsto antes, buscando desonerar aqueles preços que estavam incidindo mais sobre os trabalhadores – como é o caso do gás de cozinha, do diesel que cria um impacto maior na economia em geral e manteve aquilo que era impossível que não fosse mantido. Sempre minimizando danos. A contrapartida tem que vir agora do BC, que tem que baixar os juros e fazer diferente do que vinha fazendo no Governo Bolsonaro.
Tribuna – O PSB se sente satisfeito com os espaços atuais do Governo Jerônimo? Ou ainda há conversas?
Lídice – Não sei porque essa conversa sempre aparece nas últimas entrevistas. Todo partido quer mais. Se houver mais espaço… O PSB tem uma história política de fidelidade. O projeto do PSB tem a Bahia como a prioridade. Queremos continuar ajudando o governo Jerônimo, como ajudamos o Governo Rui e Wagner nessas conquistas que a Bahia realizou. E que a Bahia continue avançando no movimento para continuar na reorganização do país.
Tribuna – Existe a possibilidade da CPMI das Fake News voltar para concluir o seu relatório?
Lídice – Acho muito difícil. Já encaminhei o relatório justamente porque entendi as dificuldades políticas que se colocam. Tenho até a vontade de reapresentar o relatório no ambiente agora democrático.
Tribuna – Como vê a candidatura da ex-primeira-dama Aline Peixoto?
Lídice – Esse é outro assunto que não sei porque se transformou no centro da discussão política da Bahia. Tem uma questão que precisa ser discutida: o papel da mulher na política. As primeiras-damas não querem ser donas de casa. Elas querem ocupar espaços políticos objetivos. Acho que deveria deixar de existir o papel das primeiras-damas nos estados. Elas devem ter a sua vida profissional garantida, o seu salário. O que a primeira-dama pode fazer hoje é receber pessoas, acompanhar o marido em atividades diplomáticas. Mas não sei por que é obrigatório que ela trabalhe de graça. Isso é uma coisa machista.