Para quem vive no Nordeste, a saúde parece ser um problema de maior importância do que quem mora no Sudeste. A conclusão é de uma pesquisa presencial feita pelo Ipec, a pedido do jornal O Globo. O levantamento ouviu 2 mil pessoas com 16 anos ou mais, entre 1 e 5 de julho em 126 municípios, para identificar a percepção dos brasileiros acerca dos principais problemas do país.
Os resultados revelaram que a saúde é considerada o terceiro maior problema do Brasil, apesar da pandemia e suas consequências. O tema fica atrás de outras duas grandes preocupações dos brasileiros: desemprego e corrupção. A nova pesquisa revela uma mudança da percepção nos últimos quatro anos, visto que, em 2018, a saúde estava no topo das preocupações, segundo pesquisa feita pela CNI com mesma metodologia.
Desafios específicos da região
Entre as regiões quem mais percebe saúde como um problema para o Brasil é quem vive no Nordeste. Por lá, esse tema foi mencionado por 41% das pessoas, em comparação com 28% no Sudeste, 30% no Sul, e 34% no Norte/Centro-Oeste. Para fator de comparação, em 2018, a população do Nordeste era a que menos se preocupada com o tema, em comparação com as demais.
Para o economista Arthur Aguilar, diretor de políticas públicas do IEPS, o Nordeste tem alguns desafios particulares nessa área.
— O Atlas da demografia médica mostra uma relação médico-cidadão muito menor no Nordeste do que no Sudeste. E isso é menor ainda nos interiores do Nordeste, por exemplo. Se olharmos para o indicador de internações por condições sensíveis à atenção primária, que mede quão bem a atenção básica está funcionando, também vemos resultados um pouco piores no Nordeste do Brasil —diz Aguilar.
Uma das razões para isso incluem é a transição epidemiológica vivida pelo Brasil. O aumento da longevidade leva a um aumento das doenças crônicas. Por outro lado, o Brasil ainda apresenta uma importante prevalência de doenças infecciosas. Segundo Aguilar, as arboviroses (normalmente transmitidas por mosquitos) foram um desafio grande esse ano no Nordeste.
— Temos também um nível gritante de homicídios e acidentes de trânsito, que são uma preocupação importante de saúde pública porque matam muita gente ainda no Brasil. Então, o sistema de saúde de um país como o Brasil tem desafios muito maiores do que o sistema da Islândia, por exemplo, que tem majoritariamente doenças crônicas — completa o economista.
Dados de 2019 do IBGE mostram que nas regiões Norte e Nordeste, cerca de 90% da população depende exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) para atendimento. Em uma segunda etapa da pesquisa O GLOBO/Ipec, realizada com 2 mil internautas, a tendência se manteve. No Nordeste, 79% dos participantes disseram não ter plano de saúde. Esse índice foi de 76% no Norte/Centro-Oeste, 70% no Sul e 59% no Sudeste.
Outros dados revelados pela pesquisa O GLOBO/Ipec mostram que a percepção da saúde como um problema é semelhante entre quem vive no interior, capital e periferia. Entretanto, ela é maior para quem tem ensino fundamental e médio, do que para aqueles com ensino superior: 34% para os primeiros versus 29%. O mesmo vale para negros e pardos versus brancos: 34% ante 31%. Mulheres, os mais pobres (que ganham até dois salários mínimos) e adultos de 25 a 44 anos também consideram mais a saúde como um problema do país.
Leia aqui os outros temas da série Tem Solução, que investiga os principais problemas do país a partir de dois levantamentos inéditos do Ipec. A primeira pesquisa foi feita de forma presencial com 2 mil eleitores com 16 anos ou mais, entre 1 e 5 de julho em 128 cidades brasileiras. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos. A segunda, feita com 2 mil pessoas na internet com 16 anos ou mais das classes A, B e C, entre 20 e 27 de julho, com margem a mesma margem de erro em um intervalo de confiança de 95%.