Segundo o ex-ministro Sergio Moro, gravação provaria a tentativa de interferência na Polícia Federal.
Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ouvidos pelo blog de Andréia Sadi nesta quinta-feira (7) avaliam que, se o presidente Jair Bolsonaro não entregar, por ordem judicial, o vídeo da reunião que, segundo o ex-ministro Sergio Moro, provaria a tentativa de interferência na Polícia Federal, poderá ser configurado como crime de desobediência, por exemplo.
O ministro do STF Celso de Mello, relator do caso, deu 72 horas para o governo entregar o vídeo citado por Moro. Bolsonaro chegou a dizer que divulgaria o vídeo, mas recuou depois. Nesta quarta-feira (6), a Advocacia-Geral da União (AGU) pediu ao relator do caso no STF que reconsidere o pedido pois, na reunião, teriam sido tratados tema de interesse nacional.
blog de Andréia Sadi informa que procurou a AGU para pedir mais detalhes e entender como assuntos de interesse nacional teriam sido tratados na frente de diversos ministros numa reunião gravada, em que o presidente chegou admitir divulgar. A AGU se limitou a dizer que as informações que tem estão no pedido enviado ao STF.
Nesta quinta-feira (7), o blog ouviu ministros do STF sobre o que pode acontecer se o governo não entregar o vídeo — e se existe a possibilidade de apartar só o teor que interessa para o inquérito e entregar ao STF.
Dois dos magistrados da corte ouvidos pela reportagem disseram que a entrega parcial é possível, mas seria ruim para a imagem do governo. Nas palavras de um dele, a “emenda sairia pior do que o soneto, gerando a presunção de que tem algo a esconder”.
Outro ministro admite a possibilidade, diante da alegação do governo de que há questões de Estado.
Na avaliam de aliados de Moro, o governo admitiu que o vídeo existe, pois havia a especulação de que a gravação podia ter sido apagada.
Nesta quarta-feira (6), nos bastidores, assessores presidenciais também admitiam a existência do vídeo e disseram ao blog que a gravação não trazia nada comprometedor e seria entregue ao STF. Horas depois, a AGU fez o pedido ao STF para não entregar o material alegando questão de interesse nacional.
Para aliados de Moro, ainda não está clara a estratégia do presidente, mas acreditam que o governo pode ter recuado da divulgação pois o vídeo seria “constrangedor” para Bolsonaro. Além disso, avaliam, se o governo admite que existe e não entrega o vídeo, enxergam a possibilidade de crime de responsabilidade e obstrução de justiça. Citam, inclusive, o caso Nixon como analogia para o que avaliam poder se enquadrar o caso do governo brasileiro: durante a investigação do caso Watergate (1974), a Suprema Corte americana decidiu que o governo Nixon entregasse a um procurador as gravações do gabinete do presidente.