Segue a insatisfação com as pesquisas. Há mais números, mas não necessariamente maior clareza, diz o Estadão. Para além das críticas rasas e oportunistas, há os que genuinamente se frustram com os resultados divergentes entre institutos respeitados – ou os que se frustram por elas não revelarem movimentos de última hora do eleitorado. Há um instrumento melhor para antecipar o resultado das eleições? Alguns economistas defendem que sim, mas ele é ilegal: o mercado de previsões.
Primeiro, vale esclarecer o que não é mercado de previsões. Não se confunde com “previsões do mercado”, como quando sondagens são feitas com porta-vozes do mercado financeiro sobre suas visões. O mercado de previsões seria um mercado de eventos. Evento não do tipo “Farofa da Gkay”, mas evento na acepção estatística da palavra.
“O homem vai pousar na lua antes de 2025?” é um exemplo do mercado de eventos disponível na Kalshi, espécie de bolsa de previsões. A startup, fundada por uma brasileira, ganhou recentemente permissão para operar de uma equivalente americana da Comissão de Valores Mobiliários. Nesta e em outras perguntas, o investidor pode comprar o sim ou o não.
Nas eleições, então, as apostas seriam sobre qual candidato iria ganhar. Se o investidor acha que vê o que outros não estão vendo, tem oportunidade de ganhar dinheiro apostando – e esse movimento por sua vez ajusta o preço da aposta.
O mercado de previsões absorveria, assim, informações dispersas reunidas por milhares de pessoas. Naturalmente, isso inclui as próprias pesquisas eleitorais, mas sem se limitar a elas. A previsão “coletiva” se consolida no preço.
O economista Robin Hanson, da Universidade George Mason, elenca algumas vantagens desse mercado. Ele tenderia a resultar em prognósticos mais acertados, atualizaria informações com maior frequência e seria menos manipulável do que as alternativas. Por envolver dinheiro, haveria incentivo para opiniões efetivamente embasadas – a la “coloque seu dinheiro onde sua boca está”. Errar custa.
A permissão inédita dada a Kalshi faz com que ela não se sujeite aos limites de sites de aposta – em tese, ao reunir mais dinheiro e mais agentes, mais informação se refletiria nos preços. A startup, porém, ainda não pode atuar com eleições.
No Brasil, uma eventual “loteria de prognósticos eleitorais” poderia ser legalizada? O País não é exatamente vanguarda nesse tipo de mercado, mas, se a tendência seguir em países como os Estados Unidos, quem sabe a inovação venha parar aqui.