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segunda-feira 22 de agosto de 2022 às 06:24h

Nenhum estado brasileiro tem candidatos negros acima da proporção na população

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Nenhum estado brasileiro registrou um número de candidatos negros numa proporção acima daquela vista em sua população. Apenas o Rio Grande do Sul tem uma quantidade de negros disputando a eleição equivalente ao percentual dos moradores que se autodeclaram pretos e pardos, segundo critérios do IBGE. É o que mostra levantamento do jornal O Globo feito a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apesar de o país ter registrado, pela primeira vez em eleições gerais, mais candidatos negros que brancos. No estado, 18,9% das candidaturas são de pessoas negras, mesmo percentual que representam na demografia gaúcha, de acordo com dados anuais da Pesquisa Nacional por Amostra a Domicílios Contínua (Pnad) de 2021.

Depois do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Roraima foram os estados que mais se aproximaram de uma representação fiel da população negra nas urnas — com 16% das candidaturas no primeiro, onde 18,1% se identificam como pretos ou pardos, e 73,3% no segundo, onde esses grupos representam 74,4% dos moradores.

Os números não atestam uma mudança significativa ante 2018, quando apenas Roraima atingiu uma proporcionalidade condizente com sua demografia, com 69,6% de candidaturas de negros, que na época representavam 68,6% de sua população, e o Acre conseguiu se aproximar de uma representação equivalente, com 76,6% dos elegíveis se autodeclarando pretos ou pardos, grupos que eram 77,6% dos acrianos então.

Na avaliação da coordenadora política do movimento Mulheres Negras Decidem, Tainah Pereira, a subrepresentação nos estados está associada à falta de financiamento das campanhas, em comparação com candidatos brancos, e a um suposto ranking de prioridades nas disputas de poder em nichos de diversidade que, segundo ela, dão prioridade a mulheres na política, em detrimentos de negros e indígenas, que ficam em segundo plano.

Representação de candidatos negros por estados

UF Candidatos negros Percentual População negra no estado
RS 268 18,9% 18,90%
RR 441 73,3% 74,40%
SC 155 16,0% 18,10%
BA 1288 77,9% 80,40%
SP 1199 33,2% 40,00%
RJ 1274 46,5% 54,50%
MG 1255 49,5% 58,00%
PB 431 58,2% 67,10%
PR 374 23,9% 33,50%
RN 277 50,6% 60,60%
DF 431 50,3% 60,90%
AC 385 72,2% 83,00%
RO 359 57,9% 69,00%
AL 280 59,2% 70,80%
AP 396 72,9% 84,50%
PE 628 56,6% 68,80%
SE 340 65,4% 77,60%
MA 654 69,5% 82,10%
TO 346 66,8% 79,50%
ES 390 51,50% 64,30%
PA 678 67,7% 82,40%
CE 585 59,0% 73,70%
MS 242 41,0% 55,70%
GO 626 51,7% 67,00%
PI 268 63,4% 79,90%
AM 417 65,9% 83,10%
MT 254 50,3% 69,50%

Tainah analisa ainda que, como estratégia de resposta ao resultado das eleições em 2018, partidos progressistas estão apostando em “puxadores de voto” — candidatos capazes de agregar muitos eleitores e, consequentemente, ajudar a eleger uma bancada maior para a legenda — em vez de investir em novas candidaturas.

— Com esse corte, muitas candidaturas de pessoas negras, mulheres e integrantes da comunidade LGBTQIA+ acabam ficando de fora (do páreo e dos investimentos) por uma interpretação equivocada. Isso limita as possibilidades para esses grupos — explica a coordenadora, que destaca que os “cortes” a candidaturas negras começaram cedo este ano, e prejudicaram principalmente mulheres.

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