Nenhum estado brasileiro registrou um número de candidatos negros numa proporção acima daquela vista em sua população. Apenas o Rio Grande do Sul tem uma quantidade de negros disputando a eleição equivalente ao percentual dos moradores que se autodeclaram pretos e pardos, segundo critérios do IBGE. É o que mostra levantamento do jornal O Globo feito a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apesar de o país ter registrado, pela primeira vez em eleições gerais, mais candidatos negros que brancos. No estado, 18,9% das candidaturas são de pessoas negras, mesmo percentual que representam na demografia gaúcha, de acordo com dados anuais da Pesquisa Nacional por Amostra a Domicílios Contínua (Pnad) de 2021.
Depois do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Roraima foram os estados que mais se aproximaram de uma representação fiel da população negra nas urnas — com 16% das candidaturas no primeiro, onde 18,1% se identificam como pretos ou pardos, e 73,3% no segundo, onde esses grupos representam 74,4% dos moradores.
Os números não atestam uma mudança significativa ante 2018, quando apenas Roraima atingiu uma proporcionalidade condizente com sua demografia, com 69,6% de candidaturas de negros, que na época representavam 68,6% de sua população, e o Acre conseguiu se aproximar de uma representação equivalente, com 76,6% dos elegíveis se autodeclarando pretos ou pardos, grupos que eram 77,6% dos acrianos então.
Na avaliação da coordenadora política do movimento Mulheres Negras Decidem, Tainah Pereira, a subrepresentação nos estados está associada à falta de financiamento das campanhas, em comparação com candidatos brancos, e a um suposto ranking de prioridades nas disputas de poder em nichos de diversidade que, segundo ela, dão prioridade a mulheres na política, em detrimentos de negros e indígenas, que ficam em segundo plano.
Representação de candidatos negros por estados
UF | Candidatos negros | Percentual | População negra no estado |
RS | 268 | 18,9% | 18,90% |
RR | 441 | 73,3% | 74,40% |
SC | 155 | 16,0% | 18,10% |
BA | 1288 | 77,9% | 80,40% |
SP | 1199 | 33,2% | 40,00% |
RJ | 1274 | 46,5% | 54,50% |
MG | 1255 | 49,5% | 58,00% |
PB | 431 | 58,2% | 67,10% |
PR | 374 | 23,9% | 33,50% |
RN | 277 | 50,6% | 60,60% |
DF | 431 | 50,3% | 60,90% |
AC | 385 | 72,2% | 83,00% |
RO | 359 | 57,9% | 69,00% |
AL | 280 | 59,2% | 70,80% |
AP | 396 | 72,9% | 84,50% |
PE | 628 | 56,6% | 68,80% |
SE | 340 | 65,4% | 77,60% |
MA | 654 | 69,5% | 82,10% |
TO | 346 | 66,8% | 79,50% |
ES | 390 | 51,50% | 64,30% |
PA | 678 | 67,7% | 82,40% |
CE | 585 | 59,0% | 73,70% |
MS | 242 | 41,0% | 55,70% |
GO | 626 | 51,7% | 67,00% |
PI | 268 | 63,4% | 79,90% |
AM | 417 | 65,9% | 83,10% |
MT | 254 | 50,3% | 69,50% |
Tainah analisa ainda que, como estratégia de resposta ao resultado das eleições em 2018, partidos progressistas estão apostando em “puxadores de voto” — candidatos capazes de agregar muitos eleitores e, consequentemente, ajudar a eleger uma bancada maior para a legenda — em vez de investir em novas candidaturas.
— Com esse corte, muitas candidaturas de pessoas negras, mulheres e integrantes da comunidade LGBTQIA+ acabam ficando de fora (do páreo e dos investimentos) por uma interpretação equivocada. Isso limita as possibilidades para esses grupos — explica a coordenadora, que destaca que os “cortes” a candidaturas negras começaram cedo este ano, e prejudicaram principalmente mulheres.