As discussões sobre a formação de uma federação que já ocorrem dentro do PDT podem levar segundo Luísa Marzullo, do O Globo, à desfiliação de um de seus maiores quadros nacionais, o ex-presidenciável Ciro Gomes, que integra o partido desde 2015. De olho nas eleições de 2026, dirigentes da sigla têm mantido conversas com o PSDB e o PSB, como forma de tentar atingir a cláusula de barreira.
O cenário que pode culminar na saída de Ciro Gomes é uma eventual união com o PSB. Atualmente, a sigla abriga o irmão do ex-ministro, o senador Cid Gomes (CE), com quem ele rompeu no ano passado.
A origem da briga foi a postura a adotar em relação ao PT no Ceará, reduto eleitoral dos Ferreira Gomes. A ala do senador, na época filiada ao PDT, queria ser base do governo no estado. Desde a debandada, o partido é oposição ao governador Elmano de Freitas (PT).
A possibilidade de saída de Ciro Gomes do PDT foi inicialmente divulgada pela “CNN Brasil” e confirmada pelo jornal. Pessoas próximas do ex-presidenciável, contudo, negam e dizem desconhecer as tratativas do PSB com o PDT.
Após amargar uma derrota nas eleições municipais deste ano, o ex-ministro submergiu. O PDT viu a força que tinha no Ceará minguar. Depois de fazer 67 prefeitos na eleição de 2020, o partido conquistou agora apenas cinco municípios — nenhum deles com número expressivo de moradores.
O maior baque foi em Fortaleza, onde o prefeito José Sarto (PDT) ficou em terceiro. Trata-se da primeira vez na história da cidade que um prefeito não consegue se reeleger.
Integrantes da direção nacional confirmam as conversas a respeito da federação, mas ponderam que o martelo não está batido. Antes da debandada dos aliados de Cid, as condições para a união com outro partido eram melhores, uma vez que o PDT teria mais poder de decisão interna. Com a queda de representatividade, o PSB hoje sairia em vantagem.
Há a avaliação de que, dificilmente, o presidente licenciado da sigla, o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, aceitaria um acordo em que sua sigla não fosse a voz predominante. Também pesa contra a união as pressões das alas mais ideológicas do partido .
Em relação ao PSDB, os dirigentes têm boa interlocução com o núcleo cearense, representado pelo ex-senador Tasso Jereissati. Os tucanos também passam por uma crise interna e queda de representatividade.
Apoio a bolsonarista
Em Fortaleza, a escolha de quem apoiar neste segundo turno, que contrapõe Evandro Leitão (PT) e André Fernandes (PL), tem gerado rusgas da direção nacional com o grupo de Ciro. Após o partido orientar neutralidade, aliados do ex-ministro como o ex-prefeito Roberto Cláudio embarcaram na campanha de Fernandes.
Em comentário em uma postagem no Instagram que criticava o apoio de seus aliados ao bolsonarista, Ciro disse que o pior que poderia acontecer na capital cearense seria “a premiação do maior esquema de corrupção da história do Ceará”.
Até dezembro do ano passado, Leitão fazia parte do quadro pedetista. Ele foi o primeiro aliado de Cid a deixar a sigla.
Dos quatro deputados federais que hoje integram o PDT do Ceará, apenas o presidente interino, André Figueiredo, é aliado de Ciro. Os outros três aguardam a janela partidária, em 2026, para se desfiliar sem perderem seus mandatos.
— Parte do PDT vem agindo com o fígado. Algumas lideranças tiveram a postura lamentável de estar com um candidato que retrata o Bolsonaro. Agiram contra Camilo (Santana, ex-governador e ministro da Educação) e não pela coerência — diz o deputado Eduardo Bismarck (PDT-CE).
Articuladores afirmam que Ciro não seria o único a deixar o PDT e que Roberto Cláudio poderia vir a ser candidato pelo PL em 2026. A avaliação é que as maiores lideranças do partido de Bolsonaro, André Fernandes e o deputado estadual Carmelo Neto, não teriam idade para disputar o Senado. Fernandes tem 27 anos e Neto, 23. A legislação estabelece idade mínima de 35 anos.