O navio de guerra Gribshunden, que liderava a frota do rei dinamarquês-norueguês Hans, afundou em 1495, na costa de Ronneby, na Suécia. Escavações subaquáticas agora mostram que o barco serviu para o monarca como um “castelo flutuante”, equipado com artilharia, armas de mão, bestas e canhões.
O rei Hans queria unificar toda a região nórdica sob sua coroa. A sua embarcação Gribshunden, de 35 metros de comprimento, está entre os primeiros navios de guerra construídos especificamente para transportar artilharia.
O navio serviu também como centro administrativo por meses a fio, sendo muitas vezes o núcleo da frota marinha real. Em 1486, a bordo de dezenas de navios, mais de 600 nobres dinamarqueses e clérigos seniores acompanharam Hans à Noruega, onde ele estabeleceu uma nova casa da moeda.
Em 1495, o rei embarcou em direção a uma cúpula política em Kalmar, na Suécia, onde seria eleito governante da Suécia e realizaria a sua desejada união escandinava. O Gribshunden estava carregado com mercadorias de prestígio para impressionar o conselho sueco, mas muitos desses itens ainda não foram descobertos pelos arqueólogos.
O motivo do naufrágio é até hoje um mistério, mas acredita-se que teria ocorrido um incêndio em um ancoradouro perto da costa da cidade sueca de Ronneby. O rei e sua comitiva estavam em terra firme no momento, mas uma testemunha disse que muitos dos cerca de 150 homens a bordo morreram.
Entre agosto e setembro de 2022, pesquisadores da Universidade de Lund e do Museu Blekinge, na Suécia, e do Museu Dinamarquês do Navio Viking escavaram partes do naufrágio. A equipe encontrou as armas e, por meio de modelos 3D de componentes estruturais, reconstruíram digitalmente a embarcação.
O naufrágio é considerado o mais bem preservado da Era da Exploração, sendo um representante dos navios de Cristóvão Colombo e Vasco da Gama, construídos na mesma época e nunca encontrados.“Nenhum outro navio da época da exploração sobreviveu intacto”, afirma Brendan Foley, pesquisador da Universidade de Lund, em comunicado.
Na popa do navio, o rei e os nobres ficavam provavelmente junto de artilheiros e timoneiros. As comparações desta seção confinada com os castelos medievais em terra sugerem que as divisões hierárquicas do espaço eram relaxadas enquanto o rei estava no mar. Enquanto isso, na proa não havia artilharia, mas apenas a acomodação da tripulação, o manuseio do navio e fortificação.
Como o Mar Báltico oriental é muito frio para haver infestações de moluscos, a madeira do naufrágio permaneceu intacta, embora armas de ferro tenham enferrujado. Não há sinal de fogo, o que sugere que o navio afundou rapidamente após ser furado abaixo da linha d’água e alguns estoques de pólvora terem explodido.
“É um dos primeiros navios que transportam pólvora, então eles provavelmente não haviam elaborado os procedimentos operacionais padrão de segurança”, explica Foley, ao site Live Science.
Ainda assim, o pesquisador destaca que o que causou o naufrágio permanece como um grande quebra-cabeça. “Documentos medievais afirmam que houve incêndio e explosão, mas não vimos nenhum sinal disso. Talvez a escavação do ano que vem traga evidências da catástrofe”, espera.