“Trabalho aqui há 37 anos e é a coisa mais emocionante em que já estive envolvido”. Rick LaBrode é diretor de voo da Nasa e, no final do mês, será responsável por uma missão espacial histórica: a primeira do programa a marcar o retorno dos norte-americanos à lua. Um dia antes da decolagem “não vou conseguir dormir muito, com certeza”, disse, diante das dezenas de telas da sala de controle de voo em Houston, Texas.
Pela primeira vez desde a última missão Apollo em 1972, um foguete – o mais poderoso do mundo – impulsionará uma cápsula habitável para orbitar ao redor da lua, antes de retornar à terra. A partir de 2024, os astronautas embarcarão para fazer a mesma jornada e, no ano seguinte (no mínimo), voltarão a pisar na lua, segundo os planos da Nasa, após a missão de 1969.
Para esta primeira missão de teste de 42 dias, chamada Artemis 1, 10 pessoas estarão o tempo todo na famosa sala “Mission Control Center”, modernizada para a ocasião. As equipes ensaiam o plano de voo há três anos. “É tudo completamente novo. Um foguete totalmente novo, uma nave totalmente nova, um centro de controle totalmente novo”, resume Brian Perry, que estará no console responsável pela trajetória logo após o lançamento.
“Posso dizer que meu coração vai acelerar, mas vou me certificar de manter o foco”, disse à AFP, dando um tapinha no peito. Ele já participou de muitos voos espaciais. Além da sala de controle, todo o Centro Espacial Johnson, em Houston, foi ajustado para a hora da lua.
No meio da enorme piscina de mais de 12 metros de profundidade onde os astronautas treinam, uma cortina preta foi colocada. De um lado ainda está a réplica submersa da Estação Espacial Internacional. Do outro, um ambiente lunar se desenvolve gradativamente no fundo, com gigantescos modelos de rochas, fabricados por uma empresa especializada em decoração de aquários.
“Começamos a colocar areia no fundo da piscina há apenas alguns meses. As pedras grandes chegaram há duas semanas”, diz Lisa Shore, vice-diretora deste Laboratório de Flutuabilidade (NBL) à AFP.
Aos 34 anos, a atrounalta americana Jessica Watkins é uma das principais candidatas na Nasa a ser tripulante da missão que vai para a lua, possivelmente em 2025.
“Tudo ainda está em desenvolvimento”.
Na água, os astronautas podem experimentar uma sensação próxima à ausência de peso. Para o treinamento lunar, são preparados para sentir apenas um sexto de seu peso. De uma sala acima da piscina, são guiados a distância, com o atraso de quatro segundos que enfrentarão na lua.
Seis astronautas já treinaram no local, e outros seis devem fazê-lo até o final de setembro, vestindo os novos trajes lunares desenvolvidos pela Nasa pela primeira vez. “O auge deste edifício foi quando ainda estávamos pilotando os ônibus espaciais e construindo a estação espacial”, explica o chefe da NBL, John Haas.
Na época, 400 sessões de treinamento eram realizadas por ano, em comparação com cerca de 150 hoje. Mas o programa Artemis traz um novo impulso. No momento da visita da AFP, engenheiros e mergulhadores estavam avaliando como empurrar um carrinho na lua.
Nova era de ouro
Os exercícios aquáticos podem durar até seis horas. “É como correr uma maratona, duas vezes, mas com as mãos”, comenta à AFP Victor Glover, astronauta da Nasa que voltou de seis meses no espaço. Hoje, ele trabalha em um prédio inteiramente dedicado a simuladores. Seu papel é ajudar a “verificar os procedimentos e o material”, para que quando aqueles que forem à lua (entre os quais Glover pode ser um) sejam finalmente escolhidos, possam se preparar intensivamente e estar rapidamente prontos para ir”.
Graças aos equipamentos de realidade virtual, eles poderão se acostumar a caminhar nas difíceis condições de luz do polo sul da Lua, onde as missões Artemis irão pousar. Lá, o Sol nasce muito pouco acima do horizonte, formando constantemente longas sombras muito escuras.
Também terão que se familiarizar com novas naves e seus softwares, como a cápsula Orion. Em um dos simuladores, sentado no assento do comandante, é preciso, com um joystick, acoplar-se com a futura estação espacial lunar, Gateway.
Em outros lugares, uma réplica da cápsula, com volume de 9 metros cúbicos para quatro passageiros, é usada para testes em escala real. Os astronautas “fazem muito treinamento de saída de emergência aqui”, mostra à AFP Debbie Korth, vice-gerente do projeto Orion, no qual trabalha há mais de dez anos. Em todo o centro espacial, “as pessoas estão animadas”, diz.
Para a Nasa, “certamente, acredito que é uma nova era de ouro” que está começando.