O ex-juiz Sérgio Moro disse que não tem problema pessoal com o ex-presidente Lula (PT), a quem chegou a condenar à prisão no âmbito da Operação Lava Jato. O presidenciável do Podemos foi entrevistado ontem pela Rádio Metrópole, onde fez um balanço da carreira e a relação com o presidente Jair Bolsonaro.
“Não existe ninguém acima da lei. Se a gente não der um passo civilizatório, a gente não anda como país. Por que o Brasil não se desenvolve? Por que tem essa percepção que tem gente acima da lei. Esse desmonte progressivo da Lava Jato é um retrocesso. Como é difícil que pessoas poderosas respondam por seus crimes. Pessoas que foram presidentes. Deputados ricos ou donos de empreiteira. E esse desmonte da Lava Jato é isso. Isso é frustrante para a população brasileira que é honesta”, declarou conforme a Tribuna da Bahia.
Ele negou que a Operação Lava Jato tenha sido responsável pela eleição do atual governo. “A corrupção no Brasil era muito grande, mas não tinha ideia da envergadura. O sistema político no Brasil é envolvido em corrupção. Em 2018, o sistema não conseguiu empunhar essa bandeira da integridade, da seriedade. Em certa maneira, o atual presidente se aproveitou disso. Mas, antes das eleições, eu nem conhecia ele. No fundo, a responsabilidade não foi da Lava Jato. Foi do sistema político que não conseguiu apresentar um candidato. O grande eleitor foi a frustração das pessoas com o mundo político”, garantiu.
Questionado sobre o vazamento do áudio da presidente Dilma, em 2016, na conversa para nomear Lula como Ministro da Casa Civil, Moro rechaçou a tese de que errou. “[A nomeação] Era uma manobra para a questão subir para o STF, aproveitando o foro privilegiado. Não podia guardar isso para mim. Temos que terminar com esse privilégio. Isso é um erro que protege políticos. Falta um presidente chegar e terminar com isso. A Justiça precisa funcionar como deve”.
O ex-magistrado também contou porque aceitou ser ministro da Justiça de Bolsonaro por um ano e quatro meses: “Não fui pelo cargo. Fui pelo projeto. […] As pessoas tão me representando em Brasília ou não tão me representando? Eu fui. E até a prova que não fui pelo cargo de Minsitro foi que saí. Fiquei um ano e 4 meses. Quando percebi que o projeto de combate à corrupção não estava sendo protegido pelo presidente, eu saí. Meu compromisso maior era com a população brasileira. Quando chegou o momento que vi isto estava sendo sabotado, eu saí. A gota d’água foi a troca da Polícia Federal”.
Ele também disse entrou no governo Bolsonaro, como ministro da Justiça, para evitar o que chamou “as maluquices” do presidente. “Eu entrei no governo até para evitar essas maluquices. Quando entrei, ouvi pessoas dizendo: ‘quem bom que você entrou. vai dar equilíbrio’. Nunca imaginei que isso seria política pública. Não entrei no governo pelo poder. Se tivesse entrado pelo poder, estaria lá até hoje. Fui por um projeto de combate à corrupção. E isso Bolsonaro não seguiu”.
O ex-juiz também foi questionado sobre sua atuação com a empresa Alvarez & Marsal, empresa que o contratou como consultor e trabalhava para a Odebrecht. “Quando eu era juiz o salário era bom. Não vou mentir. Era melhor que a realidade que a gente vê das pessoas do Brasil. Mas não enriqueci. Não enriqueci como juiz e nem como ministro. Fui contratado por uma empresa e e fui trabalhar no exterior. Qual era meu trabalho. Compliance e anti-corrupção. No setor privado. Ensinar os dirigentes em como não se envolver em corrupção”, garantiu, negando ainda que tenha prestado consultoria à Odebrecht.