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sexta-feira 25 de setembro de 2020 às 13:27h

“Não suporto corrupção”, diz novo secretário de Saúde do RJ

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O médico Carlos Alberto Chaves é o novo secretário de Saúde do Rio. Ex-diretor de hospitais estaduais e da central de regulação de leitos, ele já havia demonstrado interesse no cargo quando chegou, em um carro de aplicativo, na manhã desta sexta-feira, para o encontro com o governador em exercício Cláudio Castro, no Palácio Guanabara, Laranjeiras, Zona Sul do Rio.

De acordo com o jornal Extra. logo na saída, o novo secretário disse que “não suporta corrupção” e que reconhece o valor da saúde pública para a população.

— O problema na saúde não é de agora. Vamos saber o que aconteceu de errado e ir nos controles sociais, no Ministério Público, na Defensoria para conversar de uma maneira correta para poder saber o que deve ser feito. E vamos resolvê-los (os problemas), se Deus quiser. E quem me conhece sabe que eu eu não admito e não suporto a corrupção na Saúde. Eu venho de família muito humilde e sei onde dói, sei o valor do SUS para o cidadão da ponta. Saúde é uma área muito perigosa, o dinheiro rola lá dentro — afirmou.

Ele disse que vai continuar acompanhando a situação dos hospitais do Rio durante a pandemia.

— Eu já estava acompanhando a realidade dos hospitais como médico e cidadão. Já sei que os hospitais não estão com a capacidade totalmente preeenchida. O problema é só de gestão, é como chegar, com regulação correta e transparente, que não é só do estado, é do município e também da União. É um desafio, mas acho que será feito. Queria que fosse pelo amor, mas se não der, vai ser pela dor também.

Chaves chegou ao encontro às 10h15m usando um carro de aplicativo e não sabia onde era a entrada do Palácio:

— Eu ainda estou me familiarizando — brincou.

Na saída, usou novamente o aplicativo de celular para pedir outro carro para ir embora:

— É muito mais prático, até mais econômico. Às vezes, não tem onde estacionar. Uber é “pá pum” — disse o secretário enquanto pedia um carro pelo aplicativo para ir embora do Palácio.

Enquanto aguardava o carro, o médico reclamou do calor e da roupa social usada para a reunião. Para ele, o vestuário será uma desafio a mais, já que passou os últimos meses usando apenas bermuda e camiseta.

— Vocês não vão me ver engravatado, não. Só se for evento oficial em Brasília. Meu lugar vai ser na rua, que é onde estão os problemas. Nada de ficar em gabinete. Aí camisa social e um agasalho, no máximo.

Chaves é piloto de helicóptero e corre todo dia de manhã. Costumava dar uma volta completa na Lagoa Rodrigo de Freitas, mas hoje corre cerca de seis quilômetros — atividade que não deixou cumprir nem antes da reunião desta sexta-feira.

Agora que assumiu a responsabilidade de comandar a Saúde estadual após escândalos e em meio a uma pandemia, o médico disse que está com medo do divórcio.

— Se a minha mulher me largar, mas espero que isso não aconteça, vou ter que ir morar com um dos meus filhos.

Carlos Alberto Chaves nasceu no hospital do Iapetec (Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas) fundado em janeiro de 1948, hoje Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), Zona Norte do Rio. Na unidade, também precisou fazer uma cirurgia ainda quando criança. Há dois anos, passou por outro procedimento, quando precisou operar uma hérnia na região abdominal.

Quatro secretários em seis meses

Desde o início da pandemia de Covid-19, três secretários já passaram pela Saúde. Edmar Santos, o primeiro deles, acabou sendo preso em 10 de julho. Oficial da PM e médico da Uerj, ele é acusado de integrar um esquema que fraudou a compra de respiradores para cuidar de pacientes com Covid-19. No início de agosto, Edmar foi solto após acordo de delação premiada, onde revelou como funciona o esquema de pagamentos de propina no governo.

No seu lugar, entrou o também médico Fernando Ferry, então diretor do Hospital Universitário Gaffrée Guinle, vinculado à UniRio. Ele ficou apenas 36 dias no cargo. Ao anunciar sua saída, afirmou que nunca tinha visto “um descalabro administrativo” tão grande e que “o poço era mais fundo”.

O cargo acabou sobrando para o coronel do Corpo de Bombeiros Alex Bousquet, escolhido em junho. Coube a ele anunciar que o estado tinha desistido de cinco hospitais de campanha e que outros dois seriam desativados gradativamente. Logo após o afastamento de Wilson Witzel pela Justiça, Bousquet procurou Cláudio Castro para pedir exoneração. Alegou motivos pessoais, mas se comprometeu a ficar no cargo até a nomeação de seu substituto.

Fama de xerife

No Rio, além de ter sido gestor de unidades públicas, onde ficou conhecido por fazer “choques de gestão”, esteve nos últimos dez anos no Grupo de Apoio Técnico do Ministério Público do Rio (MPRJ), na área da saúde. Ele também fez fama de xerife no serviço público. O pneumologista já dirigiu grandes hospitais, como o Getúlio Vargas, na Penha, e o Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, onde era considerado um chefe linha-dura.

Covid-19: aumento na média móvel

Segundo dados do próprio estado, nesta quinta-feira foram registradas 126 mortes e 3.100 novos casos do coronavírus. Com a última atualização, há aumento pelo sétimo dia seguido na média móvel de mortes, o que aponta para uma preocupante tendência de crescimento no contágio da doença.

As médias móveis desta quinta eram de 83 óbitos e 1.591 casos por dia. Há um alta de 40% na média de mortes na comparação com as duas semanas anteriores, o que, por estar bem acima dos 15%, indica um cenário de crescimento. A ocupação de leitos, considerando as unidades da rede estadual destinadas a pacientes com novo coronavírus, está em 18% em enfermarias e 48% nas UTIs.

Pneumologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Margareth Dalcomo diz que as autoridades precisam voltar a informar a população sobre o risco ainda alto de contaminação, além de ampliar políticas de testagem.

— O alerta de que a transmissão ainda está alta tinha que estar sendo feito pelas autoridades, e não só por médicos e pesquisadores como uma voz no deserto. É preciso dar a informação correta. Passamos pelo pico, mas estacionamos num platô muito alto, com muita transmissão e pouca gente sendo testada — diz.

Gastos para conter o avanço da pandemia no Estado do Rio estão no centro de investigações do Ministério Público Federal. As denúncias levaram à prisão autoridades do setor e empresários, que fornecem equipamentos e serviços para o governo. Diante desse quadro, a maior preocupação do governador em exercício hoje é fazer uma mudança na secretaria sem gerar uma paralisia na área, o que coloca Chaves como a principal opção do Palácio Guanabara. Além de ter sido gestor de unidades públicas, onde ficou conhecido por fazer “choques de gestão”, ele esteve nos últimos dez anos no Grupo de Apoio Técnico do Ministério Público do Rio (MPRJ), na área da saúde.

— Ele conhece todas as unidade estaduais e municipais, fiscalizou todas elas. E o principal, todos sabem que é honesto — disse um deputado que defende a nomeação do médico.

Autonomia para mudar

Segundo integrantes do governo, o novo secretário teria autonomia total para fazer mudanças na pasta. Mas antes de chegar ao nome de Chaves, Castro cogitou nomear um coronel do Exército para o cargo, repetindo no estado estratégia adotada por Bolsonaro, que recentemente efetivou o general Eduardo Pazuello como ministro da Saúde. Caso optasse pela militarização da pasta, daria mais um sinal de sintonia com o presidente, com quem já esteve em três agendas públicas desde que assumiu o comando do estado no fim de agosto.

Castro, que era vice-governador, deve continuar na chefia do Executivo por pelo menos seis meses. Isso porque Witzel foi afastado do cargo por 180 dias na quarta-feira por uma decisão da Alerj. Por 69 votos a zero, os deputados decidiram encaminhar o processo de impeachmente para o Tribunal de Justiça, onde uma comissão mista tem esse prazo para decidir se cassa ou não mandato de Witzel. Há ainda uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que mantém o governador eleito longe do Palácio Guanabara por 180 dias.

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