O compromisso de António Costa de subir 20% os salários durante os próximos quatro anos foi repetidamente questionada durante a primeira CNN Portugal Summit. O Primeiro-ministro de Portugal não só defendeu a medida como considera-a inevitável no caminho de convergência com a União Europeia.
O primeiro-ministro, António Costa, confessou-se “surpreendido com a surpresa” causada pelo seu apelo ao aumento dos salários em 20% nos próximos quatro anos, quando o salário médio subiu 22% nos últimos anos.
“Eu fico surpreendido com a surpresa que a minha afirmação constituiu. O salário médio nos últimos anos subiu precisamente 22%. Aquilo que é necessário é manter o ritmo de crescimento salarial que temos tido nos últimos anos”, afirmou.
Os salários vão subir 20%? “Não há outro remédio”, diz Costa. Em causa está a necessidade de captar e reter talento. “Esta nova geração não está disponível para as cargas horárias que as empresas estão habituadas a praticar. Os jovens não querem o estilo de gestão autoritário e pouco criativo. Os jovens podem ter alternativas. As empresas não têm”, afirmou.
“Pela primeira vez desde o século XVI temos uma geração com qualificações acima da média europeia”, sublinhou António Costa, lembrando que nos últimos anos tem sido feito um esforço para diminuir o abandono escolar e apostar nas qualificações dos jovens portugueses. “Diminuímos de 13,9 para 5% o abandono escolar. Esta é a maior reforma em Portugal. O maior défice estrutural que o país tem, está relacionado com qualificações”, afirmou Costa.
Afirmações realizadas durante a emissão especial do “Princípio da Incerteza” na primeira CNN Portugal Summit, programa moderado pelo jornalista Carlos Andrade e que, para além dos comentadores residentes José Pacheco Pereira e Alexandra Leitão, contou com a participação especial do Primeiro-ministro.
Perante o otimismo de António Costa, Pacheco Pereira ripostou que o país não está preparado para absorver os jovens qualificados. “Depois vão trabalhar para caixas de supermercado”, lamentou. “Tem razão que existe um risco de frustração e de desaproveitamento do talento. É o maior risco civilizacional que esta geração tem”, respondeu o chefe de Governo.
O ceticismo de Pacheco Pereira e o otimismo de António Costa
Pacheco Pereira recordou que, apesar de vários progressos, o país continua a ser “um país de pobres” onde parte “significativa da população” vive na pobreza e dependente de subsídios do Estado.
“É muito bom falar de turismo e depois ter os aeroportos em que as pessoas demoram horas para entrar no país. A desigualdade social não tem diminuído significativamente. Se retirarmos os subsídios do Estado, uma parte do país fica pobre”, afirmou.
Na CNN Portugal argumentou que se fala “muito para um país que não existe” e que fora de Lisboa, os serviços têm sofrido uma forte degradação.
“Correios, serviços médicos, escolas. Há fatores que agravam esta situação de desigualdade mas que também agravam a condição das pessoas com mais desigualdades. Têm a vida muito mais complicada. O passado é pior, mas o presente também é mau”, sublinhou.
Em resposta a Pacheco Pereira, o primeiro-ministro afirmou que retrato feito pelo comentador ignora o passado e o facto de o país ter vindo a melhorar bastante nos últimos anos.
“Não podemos estar sempre a automartirizar-nos como se tivéssemos sido um país rico e de repente estamos pobres. Há muita pobreza, há. Sem transferências sociais, 43% da população seria pobre. Os dois anos de pandemia agravaram a situação, mas antes disso melhorou”, considerou António Costa. “E vai continuar a melhorar.”
“De 2015 até agora, o PIB per capita subiu 20%. Nós não andámos para trás, enriquecemos. Mas não enriquecemos todos, mas é por isso que é fundamental corrigir as desigualdades”, referiu, salientando as conquistas dos últimos anos.
Num momento de boa disposição no auditório da Culturgest, o Primeiro-ministro afirmou que existe “uma doença nacional que é o ceticismo” e brincou com Pacheco Pereira: “você não sabe o que é o otimismo”.
“Eu sigo uma boa regra que é ser otimista na vontade e cético na inteligência”, respondeu o social-democrata.