O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reúne, na manhã deste domingo (16), apoiadores na praia de Copacabana em ato pela anistia dos envolvidos no 8 de janeiro de 2023. Entre os presentes estão os filhos do ex-mandatário, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), deputados, senadores e governadores, entre eles os de Rio e São Paulo, Cláudio Castro (PL) e Tarcísio de Freitas (Republicanos).

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro se ausentou por ter passado por uma cirurgia estética há duas semanas e ainda estar com pontos. Apesar de ausente, a filha mais velha de Michelle, Letícia, e seu irmão de consideração, Eduardo Torres, foram à manifestação. A vice do PL Mulher, Priscila Costa, puxou coro de “Michelle, Michelle” ao discursar. A ex-primeira-dama é citada como opção à Presidência diante da inelegibilidade de Bolsonaro, que prefere lançá-la ao Senado.
Além de inelegível por oito anos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro pode se tornar este mês réu por uma trama golpista para permanecer no poder. Ele e outras 33 pessoas foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por cinco crimes. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) julga a denúncia a partir de 25 de março.
A lista de oradores incluiu o próprio Bolsonaro, seu filho Flávio, o líder nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, o pastor Silas Malafaia e a vice-presidente do PL Mulher, Priscila Costa, que representa Michelle no evento. Entre os parlamentares, discursarão o senador Magno Malta (PL-ES) e os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG), Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e Rodrigo Valadares (União-SE), relator do PL da anistia. Além de Tarcísio e Castro, foram ao ato os governadores Mauro Mendes (União-MT) e Jorginho Mello (PL-SC), que não discursaram. Ao jornal O Globo, Carlos Bolsonaro evitou criticar os ausentes.
Os discursos foram rápidos. Nikolas criticou o ministro do STF, Alexandre de Moraes. Flávio Bolsonaro também o criticou, falou em derrotar o “Alexandrismo” e finalizou pedindo anistia:
— Nós vamos aprovar anistia muito em breve. O próximo presidente da República é Jair Bolsonaro, sim — afirmou Flávio.
Já o governador Cláudio Castro destacou que o estado do Rio deu mais de 60% de votos a Bolsonaro, a quem tratou como “seu único candidato”. Tarcísio de Freitas, que desponta como provável nome para 2026, destacou feitos da gestão Bolsonaro, como Pix, e afirmou em “libertar o país da esquerda”:
—Qual razão de afastar Jair Messias das urnas? Medo de perder eleição? — questionou Tarcísio, que tratou de pautas nacionais, como anistia ao 8/1 e inflação. — Ninguém aguenta arroz caro, feijão caro, ovo caro. Volta Bolsonaro.
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A movimentação no bairro, em função da manifestação, começou logo cedo. Comerciantes posicionados nas ruas próximas ao evento oferecem, principalmente, bandeiras do Brasil e roupas verdes e amarelas. As cores também aparecem nos leques vendidos por ambulantes, que aproveitam a atual mania nacional e chamam atenção através do som produzido com eles. Apoiadores de Bolsonaro, que chegam a pé, saem do metrô ou em excursões de ônibus, também trazem seus próprios apetrechos.
Organizador do ato, o pastor SIlas Malafaia foi, mais uma vez responsável pelos ataques mais ríspidos a Moraes, a quem tratou como “criminoso”. Criticou o inquérito das Fake News, a delação premiada do ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, e provas coletadas que embasaram a denúncia da tentativa de golpe de Estado. Criticou ainda o que vê como celeridade do Judiciário ao julgar o caso.
Pedidos de Anistia
A anistia para os réus do oito de janeiro é o principal mote da manifestação, que reúne familiares dos envolvidos, à exemplo dos parentes de Cleriston Pereira da Cunha, conhecido como “Clezão”. Ele faleceu em novembro de 2023, após um mal súbito no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Sua defesa havia pedido a conversão da pena em prisão domiciliar, mas a análise ainda não havia sido feita pelo STF. Com tom religioso, louvores bolsonaristas são tocadas junto a comparações dos réus com Jesus Cristo, que foi crucificado.
Pouco antes do ato, em entrevista à imprensa, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) subiu o tom contra o ministro Alexandre de Moraes.
— Não tenho dúvida que esse é um passo importante (a manifestação) para nós começarmos a derrotar o alexandrismo, que é o que ele está fazendo. Algo inimaginável há poucos anos no Brasil, que um ministro da Suprema Corte fosse rasgar a Constituição desse jeito, fosse inventar o seu próprio o seu próprio Código Penal e condenar as pessoas injustamente por vinganças.
Já no trio elétrico, antes do início do ato, o líder da oposição, Zucco (PL-RS), puxou gritos de “Lula ladrão”.
— Não tem STF, esquerda, nós somos a maioria — disse o deputado, entre aplausos.
Também antes do ato, o ex-ministro do Turismo, Gilson Machado, tocou os jingles de Bolsonaro das eleições de 2022 na sanfona.
Cartazes com os nomes dos condenados são exibidos, com pedidos de liberdade. No caso de Nubia Tavares, sentenciada a 17 anos, a frase escolhida foi “Ainda estou aqui”, em alusão ao filme sobre o período da ditadura militar que ganhou o Oscar de melhor longa estrangeiro este ano.
Apesar da concentração em torno da anistia, referências ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e Elon Musk também foram feitas pelos apoiadores.
A manifestação em Copacabana é a quarta convocada por Bolsonaro desde que deixou a presidência e a quarta organizada pelo pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. No ano passado, Malafaia realizou outras passeatas em apoio ao ex-mandatário.
A estrutura do ato de hoje é a mesma da manifestação de abril do ano passado: os carros de som estão na altura da rua Bolívar com a Avenida Atlântica e até o tema se repete. O pedido de anistia para os envolvidos no 8 de janeiro também fez parte do discurso de Bolsonaro em 2024.
Ao lado de Valdemar
A manifestação deste domingo é o primeiro grande evento com Bolsonaro e o dirigente nacional do PL, Valdemar Costa Neto.
— Estamos muito animados (com o reencontro). Hoje mesmo vou para Brasília para fazermos uma reunião e discutir tudo — afirmou Valdemar.
Em seu discurso, Valdemar afirmou que “tem fé” na participação de Bolsonaro nas próximas eleições e focou na questão econômica.
— A gasolina está cara? A carne está cara? Então, volta Bolsonaro!
Por serem investigados no inquérito da trama do golpe, os dois passaram um ano e um mês sem contato, por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Moraes revogou as medidas cautelares contra Valdemar na última terça-feira, permitindo sua ida à manifestação, uma vez que ele não foi denunciado pela PGR.
Em abril do ano passado, o presidente do PL veio ao Rio, mas discursou antes do início do ato e ficou em um hotel diferente do Bolsonaro.