A demora de quatro meses e 17 dias entre a indicação do presidente Jair Bolsonaro e a realização da sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, acabou funcionando a favor de André Mendonça, registra Dora Kramer em sua coluna, na Veja.
Aprovado na comissão e no plenário, o novo ministro do Supremo Tribunal Federal teve, como candidato, tempo para se preparar, para estreitar relações com os senadores e para esquadrinhar junto a eles as questões mais sensíveis que lhe seriam apresentadas.
Chegou para a sabatina preparadíssimo para o exercício do equilibrismo entre suas convicções religiosas _ principal fator de contestação ao nome dele _ e os posicionamentos a serem assumidos como ministro do Supremo.
Se alguém saiu desgastado foi o mentor da postergação, o presidente da CCJ, Davi Alcolumbre. Na sessão afinal realizada, fez mesuras a Mendonça que, calçado em pelica, agradeceu a “gentileza e imparcialidade” daquele que não apenas atrasou a sabatina como sequer atendeu as tentativas do agora magistrado de visitá-lo no gabinete.
André Mendonça teve tempo de aprender as manhas da Casa e adequar suas respostas ao que a audiência interna e externa gostaria de ouvir. Acendeu velas a Deus _aqui como sinônimo da questão da religiosidade ao fazer profissão da fé evangélica, e ao diabo _ aqui compreendido como tradução dos pontos repudiados por seus pares de crença e por bolsonaristas convictos_ como a defesa da igualdade social em todos os níveis: racial, de gênero e condição sexual.
Teve o cuidado, inclusive, de repetir várias vezes o lema da valorização da política e da importância dos políticos. Como indicado ao STF Mendonça saiu-se melhor que a encomenda. A conferir se entrega a mercadoria prometida no exercício da nova função como integrante de um colegiado cuja entidade merecedora de reverência e obediência é a Constituição Federal.