O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou neste domingo (17) segundo r Paola de Orte, GloboNews e g1, que há “atrocidades” na Faixa de Gaza e defendeu a concessão de ajuda humanitária ao povo palestino.
Vieira deu as declarações em entrevista exclusiva à repórter Paola de Orte, da GloboNews, em Ramala, na Cisjordânia. O chanceler cumpre agenda no território palestino neste domingo. Entre os compromissos, ele se reuniu com o chanceler da Palestina, Riyad al-Maliki. E também teve um encontro com Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina.
“Eu vim reafirmar, renovar o apoio do Brasil à cessação das hostilidades em Gaza, à libertação dos reféns, à ajuda humanitária, para pôr fim às atrocidades e às mortes e ao sofrimento do povo palestino em gaza”, declarou Mauro Vieira.
Ele também disse que agradeceu a al-Maliki pela “colaboração” da Palestina nas ações do governo brasileiro para repatriar, no ano passado, brasileiros que estavam na Cisjordânia e na Faixa de Gaza após o início da guerra entre o grupo terrorista Hamas e Israel.
Segundo o Itamaraty, Vieira também externou apoio do Brasil à entrada da Palestina como membro pleno da Organização das Nações Unidas (leia mais aqui).
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, desembarcou na Palestina, em meio à crise diplomática entre o Brasil e Israel.
A viagem faz parte de um giro de cinco dias que o chanceler brasileiro fará por quatro localidades do Oriente Médio: Palestina, Jordânia, Líbano e Arábia Saudita. Não está prevista uma visita do ministro brasileiro a Israel.
Segundo o Itamaraty, no encontro com Riyad al-Maliki, o palestino “descreveu a extrema gravidade da situação humanitária em Gaza”.
Na reunião, Vieira e al-Maliki discutiram a guerra entre Israel e o Hamas, que controla a Faixa de Gaza. Desde o início da guerra, segundo o Hamas, mais de 30 mil pessoas morreram em razão do conflito.
A reunião entre os dois chanceleres aconteceu no contexto da crise diplomática do Brasil com Israel, causada por declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem se referido ao que acontece em Gaza como um “genocídio”. Lula também tem enfatizado que mulheres e crianças inocentes estão entre as vítimas.
Em razão dessas e de outras declarações — como a que comparou as mortes na região ao que Adolf Hitler fez contra os judeus —, Lula foi declarado “persona non grata” pelo governo de Benjamin Netanyahu.
Em resposta a esse episódio e diante da avaliação de que o governo local quis “humilhar” o embaixador do Brasil em Tel Aviv, Frederico Meyer, Lula chamou o diplomata de volta ao Brasil para consultas. De caráter excepcional, a medida demonstrou, em linguagem diplomática, a insatisfação do Brasil com o governo israelense.
“[Durante a viagem, Mauro Vieira] tratará de questões regionais de relevância e interesse mútuo, em particular o conflito e a aguda crise humanitária que atingem a Faixa de Gaza e sua população, bem como as perspectivas para estabelecimento de um cessar-fogo e eventual retomada de negociações voltadas a alcançar paz duradoura para o Oriente Médio”, informou o governo brasileiro.
Apoio à Palestina como membro da ONU
Neste domingo, Vieira também representou Lula em uma cerimônia na qual foi concedido ao presidente do Brasil o título de membro honorário do Conselho dos Curadores da Fundação Yasser Arafat.
Segundo o Itamaraty, em discurso, Mauro Vieira fez um balanço de ações do Brasil por um cessar-fogo em Gaza.
E reiterou o apoio do Brasil ao reconhecimento do Estado Palestino e à admissão da Palestina como membro pleno da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Estamos firmes no apoio à admissão da Palestina nas Nações Unidas, como membro pleno. Reiteramos também o apoio do Brasil a uma paz duradoura para o Oriente Médio, com dois Estados, Palestina e Israel, vivendo lado a lado, em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e reconhecidas internacionalmente”, declarou.
O ministro também criticou ataques a hospitais e a comboios de ajuda humanitária em Gaza. E, de acordo com o Itamaraty, afirmou que o “atual sistema internacional de governança está debaixo dos escombros de Gaza”.
“É ilegal e imoral privar as pessoas de comida e água. É ilegal e imoral atacar comboios humanitários e pessoas que procuram ajuda. É ilegal e imoral impedir que doentes e feridos tenham acesso a suprimentos médicos essenciais. É ilegal e imoral destruir hospitais, locais religiosos e sagrados, cemitérios e abrigos”, declarou Vieira.
Mauro Vieira lembrou que Lula já condenou ataques do grupo terrorista Hamas a israelenses, mas também critica a resposta “desproporcional” do exército de Israel.
“A voz forte do Presidente Lula que pede o fim do conflito em Gaza é a de profunda indignação e de alguém que procura sinceramente preservar e valorizar a importância suprema da vida humana”, afirmou Vieira.
Conselho da ONU
Durante a presidência brasileira do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), em outubro do ano passado, o Brasil tentou aprovar resoluções que levassem a um cessar-fogo na região e também à manutenção de corredores humanitários para saída de civis.
Os textos, contudo, acabaram rejeitados — embora tivessem sido apoiados pela maioria dos integrantes do conselho.
Os Estados Unidos — país com direito a veto por ter direito a assento permanente no Conselho —, por exemplo, rejeitaram propostas argumentando que as redações não condenavam explicitamente o Hamas ou não deixavam claro o direito de Israel reagir ao ataque.
“[Na viagem ao Oriente Médio, Mauro Vieira] reiterará ainda o compromisso brasileiro com a solução de dois Estados, com Palestina e Israel convivendo em paz e em segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas”, informou o Ministério das Relações Exteriores.
Conforme o Itamaraty, Mauro Vieira também abordará na viagem temas como cooperação técnica, comércio e investimentos.