Em dezembro de 2021, o governo da Hungria, país de 9,7 milhões de pessoas na Europa Central, anunciou que aumentaria as aposentadorias em 5%. E mais: instituiria um 13º salário aos aposentados. “E não vamos parar por aí”, disse o primeiro-ministro Viktor Orbán. Meses mais tarde, o governo declarou nesta semana que seguirá reajustando os salários se a guerra na vizinha Ucrânia tornar a inflação húngara muito alta.
Anúncios como esses se tornaram rotina na campanha eleitoral da Hungria, que vai às urnas neste domingo, 3, para eleger o próximo Parlamento. O partido de Orbán, o nacionalista-conservador Fidesz, disputa contra uma “frente ampla” da oposição, um bolo dos seis maiores partidos do país que vai da esquerda à direita e tem o conservador Péter Márki-Zay como candidato.
Como a Hungria é um regime parlamentarista, em situações normais, os partidos húngaros de diversos matizes ideológicos brigariam entre si para conseguir maioria no Parlamento de 199 cadeiras.
Mas esta não é considerada uma eleição normal.
No cargo por quatro mandatos (desde 2010 e, antes disso, entre 1998 e 2002), Orbán tem sido questionado a cada ano por enfraquecer instituições, sequestrar o sistema judiciário a seu favor e usar a máquina pública e a imprensa alinhada ao governo para esmagar o espaço da oposição.
A oposição húngara vive um sentimento de “agora ou nunca” — se Orbán for eleito novamente, há o temor de que seu poder seja ainda mais ampliado.
“É o maior esforço da oposição em 12 anos. Ficou claro que nenhum partido teria chance de conseguir maioria se disputassem separados”, diz Petra Bárd, pesquisadora do Instituto da Democracia da Universidade da Europa Central e professora da Universidade Eötvös Loránd em Budapeste.
“Geralmente, toda guerra é em favor do governo no poder, porque as pessoas preferem ter estabilidade em vez de mudanças”, diz András Gero, historiador e diretor do Instituto Habsburg em Budapeste. “As pessoas têm o sentimento de que suas vidas como são estão em perigo e que é preciso mantê-las.”