Agência da ONU para Refugiados, Acnur, registra número recorde de pessoas forçadas a abandonar seus lares; guerra na Ucrânia levou mais de 5,7 milhões de pessoas a fugirem do país; Américas tem três dos cinco países que mais receberam pedidos de refúgio.
Mais de 108,4 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar suas casas em 2022. O número recorde foi registrado pela Agência da ONU para Refugiados, Acnur.
Em maio, deste ano, o número chegou a 110 milhões, principalmente devido ao grande número de pessoas que tiveram que fugir da violência do conflito no Sudão, na África. Os números constam do relatório “Tendências Globais do Deslocamento Forçado”, divulgado nesta quarta-feira.
Maior fluxo desde a segunda guerra mundial
O assessor de comunicação do Acnur nas Américas, Luiz Fernando Godinho, diz que os fatores que forçam as pessoas a saírem de seu país incluem não só conflitos e guerras, mas também impactos das mudanças climáticas, pobreza e instabilidade política. E na América Latina, não é diferente.
“Três dos cinco países que mais receberam solicitações de refúgio em 2022 estão na América Latina, nas Américas, na região das Américas. Estados Unidos, Costa Rica e México. Ou seja, os movimentos que a gente vê na América Latina hoje refletem essa complexidade do cenário internacional”.
Do Panamá, Godinho contou à ONU News que a guerra na Ucrânia foi o “grande vetor” da enorme quantidade de refugiados registrada no ano passado. Mais de 5,7 milhões de pessoas deixaram o país. Um fluxo de refugiados dessa magnitude “não era visto desde a Segunda Guerra Mundial”.
Uma mulher deslocada interna vendendo palitos de mandioca, o principal alimento básico na República Centro-Africana, em um local para deslocados em Batangafo
Venezuela
Godinho explicou que o movimento de refugiados e imigrantes da Venezuela define a situação na América do Sul. A movimentação ali acontece principalmente na região do Darien, que faz a divisa da Colômbia com o Panamá. A rota em direção à América Central é considerada “muito perigosa e inóspita”.
Já na América Central, muitas pessoas se deslocam por causa de “conflitos internos, devido à violência e aos efeitos do clima.”
“É importante desmistificar um pouco a discussão de que toda a população que se move na América Latina e em outras regiões das Américas vai em direção aos Estados Unidos. Há sim esse movimento, mas um grande número dessas pessoas, a maioria dessas pessoas, permanece nos países da América Latina. Então um desafio grande, e a gente tem reforçado muito isso, é que essas pessoas tenham soluções, como por exemplo, documentação, registro, para que possam se estabelecer nos países em que elas se encontram e não necessitem fazer novos movimentos em busca dessa proteção que elas estão almejando.”
Retorno voluntário
O especialista do Acnur destacou que o retorno voluntário, é uma das soluções previstas nas convenções que orientam o trabalho da agência. Segundo ele, quando existem condições de retorno, a maioria das pessoas opta por voltar para casa. E ao falar de um outro país de língua portuguesa, Godinho lembrou Moçambique.
“O caso de Moçambique é bastante simbólico e bastante ilustrativo sobre essa complexidade que a gente vive hoje no mundo. Por um lado, existem e continua havendo deslocamentos internos no país, principalmente na região norte de Moçambique, onde há uma ação muito forte de milícias, de grupos armados que têm causado deslocamento interno. Por outro lado, a gente vê pessoas retornando, principalmente aquelas que foram vítimas de eventos climáticos extremos, como furacões que atingem Moçambique, retornando para casa porque consideram que existem essas condições de retorno.”
Ele afirmou que, acima de tudo, as crises humanitárias precisam de “solução política”.
“Se as causas pelas quais esses deslocamentos acontecem não são enfrentadas, nós vamos continuar reportando, infelizmente, um número cada vez maior de pessoas refugiadas no mundo.”