O presidente Lula da Silva (PT) pediu ao ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, conforme registra Vera Rosa, do Estadão, para “segurar a onda” e continuar no governo. Múcio tem dito há algum tempo que está cansado e quer cuidar dos netos, mas decidiu aproveitar o momento em que o tema da reforma ministerial voltou à mesa para discutir essa possibilidade com o presidente.
Lula não quer que o titular da Defesa deixe a equipe, apesar da forte pressão do PT para que isso ocorra. Sua avaliação é a de que Múcio conseguiu apaziguar as Forças Armadas em uma época de tensão política, após os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, e deve continuar esse trabalho na segunda metade de seu mandato.
O governo enviou para o Congresso nesta terça-feira, 17, um projeto de lei que fixa a idade mínima de 55 anos para a aposentadoria dos militares, a partir de 2032. Atualmente, integrantes das Forças Armadas podem passar para a reserva com salário integral após 35 anos de serviço. A medida faz parte do pacote de corte de gastos para o ajuste das contas públicas.
No mesmo dia em que o projeto foi encaminhado para o Congresso, Múcio se reuniu com Lula, em São Paulo. O presidente chamou o ministro para saber como estava o ambiente na caserna após a prisão do general Braga Netto.
Indiciado pela Polícia Federal por tentativa de golpe, Braga Netto foi ministro da Casa Civil e da Defesa e, em 2022, concorreu como candidato a vice-presidente na chapa liderada por Jair Bolsonaro (PL). De acordo com Múcio, a punição a Braga Netto já era dada como certa entre comandantes militares.
Ao aventar a possibilidade de deixar a Esplanada, o ministro da Defesa – conhecido por construir pontes políticas – também tem observado que militares estão preocupados com os sucessivos cortes de despesas. Com a tesourada, não haverá dinheiro para investimentos, nem mesmo para a compra de novo avião presidencial.
Desde que começaram a circular rumores sobre uma eventual saída de Múcio, alguns nomes têm aparecido para ocupar sua cadeira. Na lista estão o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, e até o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que deixará o cargo em fevereiro.
A possibilidade de Alckmin ir para a Defesa já havia sido aventada no governo de transição, no fim de 2022, pelo fato de ele ter bom relacionamento com a caserna. Alckmin é amigo do comandante do Exército, Tomás Paiva, desde os tempos em que era governador de São Paulo.
Pacheco, por sua vez, também é mencionado para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, hoje comandado por Alckmin. O Estadão apurou que o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, fica onde está, apesar da rota de colisão com o chefe da Casa Civil, Rui Costa.
Nas últimas semanas, no entanto, eram tanto os rumores de que Lewandowski substituiria Múcio ou deixaria o governo que ele chegou a pedir para amigos o ajudarem a desmentir os boatos. O presidente é amigo de Múcio há mais de duas décadas. Em seu segundo mandato, o atual titular da Defesa foi ministro da Secretaria responsável pela articulação política do Palácio do Planalto com o Congresso.