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sexta-feira 21 de setembro de 2018 às 14:46h

MPF investiga a aplicação de metodologia militar nas escolas da Bahia

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O Ministério Público Federal instaurou inquérito civil para apurar a suposta aplicação da “metodologia e filosofia” de colégios militares em escolas públicas na Bahia. O órgão quer que o secretário estadual de Educação, Walter Pinheiro, se manifeste sobre o assunto.

Segundo o procurador regional dos Direitos do Cidadão, Gabriel Pimenta Alves, o site da União dos Municípios da Bahia divulgou que têm sido celebrados convênios entre municípios e a Polícia Militar, com a finalidade de “aplicar metodologia de ensino dos Colégios Militares nas escolas dos municípios em combate ao avanço da violência”, com a previsão de contratação de PMs da reserva para atuar no projeto.

O argumento do governo é de que as escolas militares têm desempenho no Ideb superiores aos demais. Já o procurador diz entender, mas no entanto, diz haver outros fatores para desempenho escolar ser melhor, mas não explicou quais seriam estes.

6 lições que podemos aprender com as escolas militares

Segundo pesquisa informal, a maioria da população baiana não concorda com o procurador, por perceber que a disciplina colabora com o aprendizado dos alunos.

Apesar de muitos educadores – e estudantes – torcerem o nariz para a disciplina rígida das escolas de orientação militar, o bom desempenho em avaliações nacionais e o ambiente acadêmico com foco na formação completa do estudante tornam essas escolas verdadeiras ilhas de excelência em meio à educação pública brasileira.

“1) Disciplina e estudo 

Apesar de criticada por alguns especialistas em educação, a disciplina militar focada no estudo parece ter seus pontos positivos. “Não existe processo educacional sem disciplina”, resume o comandante do CPM, major Marcelo Toniolo de Oliveira.

“Os pais quando matriculam o filho aqui têm que ter a consciência de que o aluno está submetido à disciplina militar”, afirma.

Essa disciplina se manifesta em uma série de pequenas regras para evitar a perda do foco no estudo. Quando o aluno é suspenso por indisciplina, por exemplo, ele cumpre a “suspensão” no próprio colégio, estudando, e não em casa, onde ficaria à toa.

Em sala de aula, o uso do celular é proibido, para não criar distração. Os aparelhos são deixados desligados em um porta-celular na parede da sala e só podem ser retirados ao final da aula ou no caso de o professor solicitá-los para uma atividade de pesquisa. Segundo Toniolo, as pessoas de sucesso são invariavelmente disciplinadas. “A disciplina traz concentração e senso de responsabilidade”, frisa.

2) Contraturno forte 

 
Outro destaque comum às escolas militares é o contraturno escolar com muitas opções à disposição dos alunos, desde aulas de reforço em alguma disciplina que o estudante não esteja indo bem até atividades extracurriculares de esporte, lazer e cultura. No Colégio da Polícia Militar do Paraná, por exemplo, basta dar uma caminhada pela escola para perceber que o movimento de estudantes não para. São 500 alunos por turno, mas há bem mais gente do que isso nos pátios, ginásios, salas e laboratórios. Das 6h30 às 23h sempre há o que fazer na escola, que é a mais bem avaliada do Enem entre as estaduais.

“Nosso contraturno é muito forte, e não só em conteúdo de reforço (matemática, física, história), mas também oferecemos aulas de pintura em tela, arteterapia, teatro, coro cênico, triatlo, natação, fotografia e uma série de outras atividades”, conta o major Toniolo.

Manter o aluno por mais tempo no colégio, com atividades educacionais, aumenta as chances de sucesso na sua aprendizagem, conforme explica o professor Ocimar Alavarse. E o resultado se reflete no desempenho da escola. No caso do CPM, o Ideb da escola foi de 6,4 pontos, enquanto que a média das escolas brasileiras foi de 5,5.

3) Preparo dos docentes  

Outra característica dos colégios militares é a preocupação com o preparo dos seus professores. Apesar de não ser uma exigência, muitos docentes têm mestrado e doutorado e dominam perfeitamente o conteúdo que lecionam. No caso dos professores militares, muitos deles têm formação acadêmica em outras áreas do conhecimento.

“Esse é um traço que se busca para a educação de um modo em geral. Os países desenvolvidos se destacam justamente pela boa preparação dos seus professores”, observa Alavarse.

No CPM, por exemplo, que trabalha com docentes civis e militares, além de ter profundo conhecimento da matéria que leciona, o professor precisa se adequar às características peculiares da cultura militar. “Caso a gente perceba que ele não domine o conteúdo ou não consiga se adaptar, nós o afastamos”, explica o major Toniolo.

4) Dedicação ao estudo 

Para Alavarse, o estudo contínuo é um dos pontos necessários para que os processos de aprendizagem sejam bem-sucedidos.

De acordo com o major Toniolo, o que se busca é a formação do aluno na sua integralidade, não deixando para trás nenhuma matéria ou área do conhecimento. “Uma coisa que prejudica, por exemplo, é hierarquizar as disciplinas: ‘ah, arte não precisa estudar, educação física ou filosofia não são importantes’. São importantes sim, e reprovam do mesmo jeito que as outras disciplinas”, diz.

“Nesse ponto, a participação da família é essencial. Nós divulgamos o calendário de provas desde o início do ano, então eles sabem quando terá a prova e podem se preparar”, explica o major. Inclusive o desempenho de cada estudante pode ser acompanhado on-line pelos pais.

5) Boa estrutura  

Escolas de alto desempenho costumam ter outra característica em comum, e que é bem visível: a boa estrutura à disposição dos alunos. No Colégio da Polícia Militar isso inclui uma piscina semiolímpica, salas de aula exclusivas para reforço escolar, ginásio, quadra de esportes coberta, laboratórios de informática, sala de musculação, sala de jogos, espaço para música, teatro, arteterapia, biblioteca, cantina, centro de apoio pedagógico e três ágoras – espécies de salas de aula ao ar livre inspiradas no modelo grego de praças.

Além disso, o asseio dos espaços chama a atenção. Afinal, são os próprios alunos os responsáveis pela limpeza das suas salas de aula. O colégio parece estar em constante reforma e melhoria de suas estruturas.

Para Alavarse, essas escolas têm uma vantagem sobre outras instituições públicas no ponto de vista financeiro e por isso conseguem manter estruturas dignas de escolas particulares ou universidades.

“Elas possuem recursos adicionais porque estão vinculadas a orçamentos militares, o que acaba um pouco com a dependência de verba dos governos que uma escola pública em geral costuma ter”, pondera.

6) Envolvimento da comunidade  

A aproximação de uma instituição de ensino, especialmente se for pública, com a sua comunidade (pais, alunos e professores) é um dos segredos para o sucesso. De acordo com os educadores, a troca de conhecimentos e cidadania entre a escola e as famílias dos alunos é um passo adiante no caminho do bom desempenho escolar, na valorização da cidadania e no processo de socialização.

Este modelo de abrir o colégio para as famílias dos alunos faz com que elas vejam na escola algo mais do que um simples local para ensinar seus filhos. É o caso do Colégio da Polícia Militar.

 

Por Rodrigo Daniel Silva e Mila Ester

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