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domingo 6 de dezembro de 2020 às 11:54h

Moro perde força mas ainda está no jogo para 2022

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Depois de abandonar a magistratura para assumir um cargo político dentro do governo do presidente Jair Bolsonaro, a atitude do ex-juiz federal Sergio Moro foi amplamente criticada. Afinal, conforme o jornal Correio Braziliense, havia sido ele o responsável pela ordem de prisão que deixou um dos maiores líderes políticos do Brasil, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), atrás das grades durante o pleito de 2018, de onde Bolsonaro saiu vitorioso. Hoje, a imagem de Moro perdeu a força que tinha em 2018, quando colhia resultados da Operação Lava-Jato, a maior ação anticorrupção do país, e que ajudou a eleger o presidente, e outros tantos políticos que se apoiaram neste discurso.

Após deixar o governo disparando contra Bolsonaro, em 24 abril, acusando o chefe do Executivo de tentar interferir politicamente na Polícia Federal (PF), o ex-juiz coleciona desgastes devido a decisões equivocadas que podem prejudicar uma possível candidatura em 2022. A última delas foi de integrar a equipe da empresa de consultoria Alvarez & Marsal, que tem entre os clientes as construtoras Odebrecht e OAS, ambas alvos do escândalo de corrupção da Operação Lava-Jato. A avaliação de cientistas políticos, entretanto, é de que, apesar de Moro ter enfraquecido, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública permanece no jogo político e não pode ser visto como carta fora do baralho para as próximas eleições presidenciais.

Quarentena

Marco Antônio Carvalho Teixeira, cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, vê esse último passo de Moro como uma “quarentena” e depois um retorno, do que abandono da política pelo ex-ministro. “Mas o retorno poderá ser numa condição mais fraca e com pouco poder de barganha”, diz. De acordo com ele, a decisão não elimina o Moro da política, visto que ele tem popularidade elevada e é lembrado nas pesquisas eleitorais.

“Mas, obviamente, para o eleitor que vê o Moro com a imagem de paladino da Justiça. Isso soa estranho, ainda que uma explicação tenha sido dada”, ressalta Teixeira. Entretanto, ele reconhece que a decisão do ex-ministro pode inviabilizá-lo para um projeto presidencial, mas não o impede de tentar o Senado pelo Paraná — algo que, neste caso, frustraria o senador Álvaro Dias (Podemos), grande apoiador de Moro e da Lava-Jato. No próximo pleito, apenas um senador será eleito por estado, e o ex-juiz seria um adversário forte de Álvaro na disputa pela cadeira.

“Moro não tem mais o que produzir em termos de novidade política. Não tem cargo ou atuação que permita isso”, diz o professor da FGV. De acordo com ele, se a investigação aberta contra Bolsonaro sobre possível interferência política na Polícia Federal for arquivada, o cenário será ainda pior ao ex-juiz. A investigação foi aberta depois que Moro, ao pedir demissão, acusou o chefe do Executivo de tentar interferir na corporação para fins pessoais. “Ele vai voltar como alguém que produziu um fato que não se comprovou depois”, pontua. Para ele, o ex-ministro pode não ter vocação para a política. “Se ele tivesse vocação, ele não teria ido para o governo. Qualquer pessoa que tivesse análise de cenário político mais estruturada saberia que ele estava indo para uma fria. Aspiração ele tem, talvez erre nos caminhos”, afirma.

Capital político

Professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), Lucio Rennó avalia que Moro começou a perder capital político quando abandonou a magistratura para assumir o cargo no ministério de Bolsonaro, ainda mais depois de ter condenado Lula. Em seguida, os vazamentos de conversas entre ele e integrantes da força-tarefa da Operação, dentre eles o então coordenador Deltan Dallagnol, em um episódio conhecido como “Vaza Jato”, complicou ainda mais a imagem. “Foram passos equivocados tomados pelo ex-ministro que fragilizaram a sua reputação. E esse último agora (quando passou a integrar a consultoria) me parece ser algo que o prejudica, porque, de certa forma, as pessoas começam a colocar questões de conflito de interesse, embora ele seja hoje um profissional liberal”, aponta.

É fato que todas essas questões serão usadas contra Moro no caso de uma possível candidatura presidencial, seja ele cabeça de chapa ou candidato a vice. “Ele vem, ao longo desses últimos anos, criando arsenal para os seus inimigos, a partir das suas escolhas que podem ser questionadas publicamente”, diz Rennó.

Para o professor da UnB considera que o ex-juiz não pode ser descartado do cenário político para 2022 e que a entrada na consultoria pode ser, além de uma oportunidade profissional, um momento em que ele poderá se distanciar dos holofotes, pois, ao fim do primeiro semestre deste ano, Moro aparecia bem nas pesquisas de avaliação popular. Suas chances, no entanto, para o Executivo nacional, enfraquecem quando ele dá munição aos opositores. Pensando para a vice-presidência, por exemplo, Rennó pontua que “é difícil dizer o que ele agrega em uma chapa nacional competitiva”.

Emerson Urizzi Cervi, professor do departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), ressalta que há ainda o desgaste do discurso anticorrupção que Moro fomentou. Bolsonaro chegou como um “outsider” (de fora da política) —apesar de ter estado na Câmara dos Deputados por mais de 20 anos — com a promessa de combate à corrupção e de antipolítica. Esse discurso, entretanto, perdeu força, algo que ficou claro nas eleições de 2020, quando candidatos com histórico político (pessoal ou familiar) tiveram preponderância sobre os que vieram de fora e os que era apoiados pelo presidente. “E sem isso, não tem Moro”, pontua. Ele frisa que o ex-ministro só existe com força em um cenário de visão negativa da política (a chamada antipolítica), e que isso perdeu impulso nacionalmente. O professor relata, ainda, que a entrada de Moro na consultoria de empresas envolvidas na Lava-Jato é um “contrasenso”, mas ainda é preciso ver se a opinião pública observará desta forma também.

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