Após dois dias sem revelar detalhes de seu paradeiro, o ministro Sergio Moro (Justiça) finalmente divulgou sua agenda nos Estados Unidos. A publicação dos compromissos foi feita na noite desta última terça-feira (25), depois que o jornal Folha de SP publicar que, mesmo sob solicitação formal, o ministro não dava acesso à agenda oficial que cumpria no país desde o fim de semana.
Como ministro de Estado, ele deve informar via assessoria ou no site do ministério qual é -com horário e local definidos- o roteiro oficial ao longo de cada dia. Das outras vezes que esteve nos EUA neste ano, já como integrante do governo de Jair Bolsonaro (PSL), sua agenda foi divulgada previamente aos jornalistas.
Segundo o que foi repassado à imprensa nesta terça, Moro esteve no domingo (23) e na segunda (24) na cidade de El Paso, no Texas, fazendo uma visita técnica às instalações do centro de inteligência do governo americano na fronteira dos EUA com o México.
Depois, participou de reunião na Agência Antidrogas, foi ao Centro Internacional de Operações e Inteligência Anticrime Organizado e ao Departamento de Estado americano, em Washington, entre outros encontros nesta terça.
Na quarta (26), a previsão é que o ministro vá para o estado de Virgínia, em visita à sessão de antiterrorismo do FBI e ao National Targeting Center.
Pressionado pela crise causada com a divulgação de trocas de mensagens com o procurador Deltan Dallagnon, chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Moro resistiu em divulgar sua agenda oficial nos EUA até a última hora.
Ele chegou ao país no sábado (22) e, desde terça-feira (18), a Folha solicita o roteiro da visita do ministro via sua assessoria.
No início da noite desta segunda (24), o Ministério da Justiça afirmou, em e-mail encaminhado após pedido da reportagem, que Moro visitaria “agências encarregadas da aplicação da lei nos EUA” e que, por questões de segurança, os detalhes só seriam divulgados ao final de cada dia.
Inicialmente, a assessoria havia informado que estava esperando fechar o roteiro completo para passá-lo à imprensa; depois, que não tinha conhecimento da logística do ministro nos EUA e, por fim, alegou segurança. Agora, após a reportagem da Folha, divulgou a íntegra dos eventos.
Moro adiou participação em audiência na Câmara -prevista para quarta-feira (26)- em decorrência da viagem oficial aos EUA. Durante a sessão, o ministro daria esclarecimentos sobre os diálogos com os procuradores da força-tarefa da Lava Jato revelados nas últimas semanas pelo site The Intercept Brasil.
As mensagens aumentaram a pressão e as suspeitas sobre sua atuação como juiz das investigações do esquema da Petrobras. Na quarta (19), Moro prestou esclarecimentos no Senado.
Em março, quando o ministro viajou a Washington para acompanhar Bolsonaro em visita de Estado, sua agenda foi divulgada com antecedência, incluindo uma reunião com a então secretária de Segurança Nacional, Kirstjen Nielsen, e com o diretor do FBI, Christopher A. Wray.
Na semana passada, um texto sobre a missão de Moro nos EUA foi publicado no site ministério. Segundo a publicação, a viagem tinha “o intuito de reunir experiências e boas práticas para fortalecer operações integradas no Brasil”.
Entre os compromissos, apareciam uma patrulha na fronteira entre EUA e México em El Paso, no Texas, e visitas à Divisão de Operações Especiais da DEA (Drug Enforcement Administration) e ao Centro Internacional de Operações e Inteligência Anti Crime Organizado (IOC-2), entre outros. A versão inicial do texto dizia que os órgãos estão localizados no estado de Virgínia, mas as referências foram suprimidas e já não apareciam no que estava publicado no portal nesta segunda.
Nesta segunda, com Moro no país há pelo menos dois dias, a assessoria disse que não tinha conhecimento da logística de deslocamento do ministro. Segundo a embaixada do Brasil em Washington, somente os auxiliares de Moro em Brasília poderiam informar a agenda.
Junto com Moro estão o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, o diretor-executivo da Polícia Rodoviária Federal, José Lopes Hott Junior, e o diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado, Igor Romário de Paula.
Procurada, a assessoria da PF diz que a agenda de Valeixo só é divulgada sob orientação do gabinete e que não houve nenhum encaminhamento nesse sentido em relação à viagem aos EUA.