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terça-feira 6 de setembro de 2022 às 05:53h

Moradores do Sudeste são os que mais afirmam sentir falta de médicos na saúde pública

NOTÍCIAS, SAÚDE


Pesquisa feito pelo Ipec a pedido do jornal O Globo revelou que o Sudeste é a região em que a população mais se incomoda com a falta de médicos na saúde pública. O tema foi apontado por 22% dos entrevistados da região como o principal problema de saúde pública do Brasil. Para fator de comparação, o índice foi de 22% no Sul, 20% no Norte/Centro-Oeste e 16% no Nordeste. O levantamento ouviu 2 mil internautas entre os dias 20 e 27 de julho para identificar a percepção dos brasileiros acerca dos principais problemas do país.

Esse resultado representa um paradoxo, dado que o Sudeste não apenas concentra o maior número absoluto de médicos, como também proporcional. Dados do Atlas da Demografia Médica no Brasil, feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) mostram que 53,2% de todos os médicos do Brasil estão no Sudeste. Isso corresponde a 278.325 profissionais e a 3,15 médicos por habitante da região. Na região Sul, a razão é de 2,68 médicos por habitante versus 2,74 no Centro-Oeste, 1,69 no Nordeste e 1,3 no Norte.

Para a médica Ligia Bahia, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, não faltam médicos, falta coordenação.

— Esses problemas acontecem no Rio e São Paulo, que é onde há mais médicos — afirma Bahia.

A falta de médicos no Sistema Único de Saúde (SUS) fica mais evidente em especialidades específicas, como cardiologia, ortopedia e oftalmologia. Para a professora da UFRJ, isso está associado à remuneração, reconhecimento e condições de trabalho.

— Tem especialistas que nem trabalham no SUS. Eles trabalham fundamentalmente no setor privado e preferem os planos melhores — afirma.

Entre as regiões brasileiras, o Sudeste é a que tem maior concentração de usuários de planos de saúde, seguido do Sul, Norte/Centro-Oeste e Nordeste.

Alta proporção de médicos por habitantes

O médico Cesar Fernandes, presidente da Associação Médica Brasileira (AMB) concorda que o problema não é a falta de médicos e sim sua má distribuição não só entre as regiões brasileiras, mas também entre os tipos de serviços.

— Temos aproximadamente 600 mil médicos. Se dividirmos esse número pela população, temos aproximadamente 2,7 médicos para cada mil habitantes. Esse dado é muito próximo dos números europeus e americanos. Apenas por ele parece que o Brasil está muito bem, quando na realidade não está. O médico não quer ficar em lugares distantes, com condições precárias de atendimento então existem áreas carentes de médicos mesmo nas grandes cidades, que tem maior poder econômico e são mais organizadas — pontua Fernandes.

Ele acredita que a remuneração precarizada e a falta de incentivo para que os médicos sigam carreira pública, como acontece com profissionais do sistema judiciário, por exemplo, está por trás dessa precária distribuição de médicos.

O presidente da AMB aponta ainda outro problema: a qualificação dos médicos recém-formados.

— De 2013 para cá mais do que dobramos o número de escolas médicas, mas elas são carentes de corpo docente e campos de ensino. Esse médico com formação deficiente, em geral, vai trabalhar onde deveria ter o médico mais competente, que é na Unidade Básica de Saúde (UBS). O médico da UBS pode resolver 95% dos problemas que lá chegam. Mas médicos mal qualificados começam a empurrar esses pacientes para instâncias de complexidade maior, o que prejudica a resolutividade do sistema de saúde — afirma Fernandes.

A presença de médicos despreparados foi apontada como o principal problema de saúde pública por 16% dos respondentes do Sudeste, 14% do Norte/Centro-Oeste, 12% do Sul e 11% do Nordeste.

Leia aqui os outros temas da série Tem Solução, que investiga os principais problemas do país a partir de dois levantamentos inéditos do Ipec. A primeira pesquisa foi feita de forma presencial com 2 mil eleitores com 16 anos ou mais, entre 1 e 5 de julho em 128 cidades brasileiras. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos. A segunda, feita com 2 mil pessoas na internet com 16 anos ou mais das classes A, B e C, entre 20 e 27 de julho, com margem a mesma margem de erro em um intervalo de confiança de 95%.

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