O que no Centro-Oeste seria um impulso na eleição é tratado quase como ofensa no Nordeste, e vice-versa.
Candidatos aos governos têm vindo a público para fazer desmentidos, ou mesmo recorrem à Justiça Eleitoral, e rechaçam montagens e peças que os associam aos presidenciáveis Lula (PT) ou Jair Bolsonaro (PL).
A depender da região do país, esse tipo de ligação com um ou outro é visto como um golpe baixo eleitoral.
A Folha de S. Paulo informa que localizou casos do tipo nesta eleição no Nordeste, região de predomínio lulista, mas também no Norte, no Centro-Oeste e no Sul, em áreas de tendência bolsonarista e antipetista.
Em Rondônia, o governador Marcos Rocha (União Brasil) publicou em seu site oficial, ainda no início da campanha, uma nota criticando “mentiras grosseiras” publicadas nas redes sociais.
Abaixo, constava montagem do governador, sorridente, com Lula ao lado. “Está circulando, em grupos de WhatsApp, uma fotomontagem em que Rocha aparece cumprimentando o ex-presidente Lula. Esta imagem não é verdadeira.”
A aproximação com Lula seria, para suas pretensões, prejudicial em um estado no qual Bolsonaro obteve 72% dos votos no segundo turno de 2018.
Rocha chegou a disputar o uso da imagem do atual presidente com seu principal rival, Marcos Rogério (PL), que se tornou conhecido pela defesa persistente do governo federal na CPI da Covid, em 2021.
Além da nota, o governador conseguiu ordem para retirada do conteúdo em uma página no Facebook, citando o risco de “impactos negativos no eleitorado” local.
O juiz eleitoral responsável afirmou que a peça “ofende a imagem” do candidato à reeleição e pode afetar “de forma negativa a formação de juízo de valor” dos eleitores.
Situação parecida ocorreu em Mato Grosso do Sul, onde o segundo turno também é disputado por dois apoiadores de Bolsonaro: Capitão Contar (PRTB) e Eduardo Riedel, do PSDB.
O tucano gravou vídeo na semana passada sobre questionamentos acerca de possível “aliança com o PT” e criticou “imagens que tentam confundir o eleitor”. Após comparecer a agenda no sindicato dos trabalhadores da educação, filiado à CUT, foram compartilhadas imagens dele ao lado de material de campanha de Lula e do PT.
O candidato afirmou que só foi ao evento para discutir propostas com os profissionais da área e que um governante precisa saber dialogar.
Ainda no primeiro turno, o governador catarinense, Carlos Moisés (Republicanos), também reclamou em rede social de imagem falsa em que aparecia em um evento à frente da foto de Lula estampada em um telão. “Começou o vale-tudo eleitoral”, escreveu Moisés à época, que chamou a montagem de desespero.
Santa Catarina teve no primeiro turno uma das disputas mais emboladas do país, com 4 dos 5 principais candidatos declarando apoio a Bolsonaro. Moisés acabou apenas em terceiro lugar.
No Nordeste, a tarefa de alguns dos participantes do segundo turno é se desvincular do bolsonarismo.
Em Pernambuco, a candidata tucana, Raquel Lyra, republicou postagem de um jornal local desmentindo montagem que afirmava que ela e sua candidata a vice participariam de evento de Bolsonaro no estado. Ela concorre com Marília Arraes, do Solidariedade, que recebeu apoio do PT no segundo turno.
Além disso, a regional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) divulgou nota no último dia 11 afirmando que foto do presidente da instituição com a candidata tucana tinha sido manipulada. Uma montagem usou foto verídica de um encontro do dirigente da entidade com a candidata em julho e o substituiu por Bolsonaro.
A OAB-PE disse repudiar a “produção de materiais falsos com a intenção de atrapalhar processo democrático”. Também afirmou que denunciou o conteúdo às autoridades.
Outro incidente foi decisão da Justiça Eleitoral que puniu com perda de tempo de TV a candidatura de Marília por afirmar que Raquel e sua vice seriam “contra Lula e a favor de Bolsonaro”. A tucana se mantém neutra sobre a disputa presidencial.
Em Sergipe, estado onde o PT há anos vence o pleito presidencial com folga, a polêmica gira em torno de um vídeo antigo de um dos candidatos com Bolsonaro.
Fábio Mitidieri, do PSD, pediu ainda no primeiro turno ordem judicial para que seu principal adversário parasse de veicular no horário eleitoral um vídeo gravado no plenário da Câmara em 2018, quando ambos eram deputados.
Fábio comentava na gravação frase depreciativa contra o estado falsamente atribuída ao hoje presidente. “Estou do lado aqui do meu amigo Bolsonaro”, dizia ele.
O vídeo foi usado na propaganda eleitoral do petista Rogério Carvalho, que foi o mais votado no último dia 2 e que disputa o segundo turno com o candidato do PSD.
A coligação do PSD argumentou que se tratava de desinformação, já que o candidato ao governo declarou voto neste ano em Lula, o que é “público e notório”.
“[Os partidos rivais] utilizaram de montagens para distorcer a realidade dos fatos e criar no eleitorado de que existe apoio político mútuo entre o candidato Fábio e o candidato Bolsonaro, posto que este último não desfruta da mesma popularidade que o candidato Lula detém entre os sergipanos”, dizia o pedido.
O petista se apresenta como o “candidato de Lula” no estado. Os advogados da coligação do PT negaram que houvesse desinformação e disseram que o Supremo Tribunal Federal recomenda “maleabilidade acerca da veiculação de informações das pessoas públicas”.
Uma liminar mandando tirar do ar inserção que exibia a peça foi expedida ainda antes do primeiro turno. O juiz responsável considerou que a forma como a propaganda em vídeo foi montada pode criar “artificialmente, na opinião pública, estados mentais, emocionais ou passionais”.
No segundo turno, o candidato do PSD novamente recorreu à Justiça Eleitoral contra o uso do vídeo.