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sábado 15 de fevereiro de 2025 às 16:47h

Missão de Paz da ONU na República Democrática do Congo e atuação Brasileira

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A Missão das Nações Unidas para a Estabilização na República Democrática do Congo (MONUSCO) é uma operação de paz da ONU com o objetivo de proteger civis e apoiar a estabilização de um país devastado por conflitos armados prolongados e uma crise humanitária grave. Desde sua criação, em 2010, a MONUSCO tem desempenhado um papel essencial na implementação de acordos de paz, na desmobilização de grupos armados e na promoção dos direitos humanos.

Há quase um ano, o Coronel Felipe Drumond Moraes está em missão de paz na República Democrática do Congo, mais especificamente na cidade de Goma, situada na província do Kivu do Norte. Ao lado de sua equipe, composta por militares, ele enfrenta os desafios impostos pelo cenário de conflito, que inclui a crescente violência e uma crise humanitária que continua a afetar a região de forma devastadora.

Dentro deste contexto, o Cel Drumond compartilha relatos sobre a experiência vivida por ele e outros militares em uma área de conflito.

A Rotina na Base e a Atuação Brasileira

Em Goma, onde a presença brasileira é marcante, mais quatro militares brasileiros estão trabalhando há quase um ano. Além do Coronel Drumond, compõem a missão o Tenente Coronel Lucas, responsável pelo planejamento operacional, os Capitães Fagundes e Priscilla, integrantes das células de Inteligência e Assuntos Civis, e o 1º Sargento Vinícius Martins, encarregado da segurança pessoal do Comandante da Força. Esses militares fazem parte do Estado-Maior da MONUSCO e do Batalhão do Uruguai (URUBAT).

Em Beni, cidade localizada na província vizinha do Kivu do Norte, um total de 11 militares brasileiros integram a Equipe de Treinamento de Operações na Selva. Sua missão é capacitar tanto as tropas da MONUSCO quanto as Forças Armadas da República Democrática do Congo (FARDC), essenciais para o combate e a estabilização da região. A equipe é composta pelos seguintes militares: Tenente Coronel Sampaio, Major Coelho Neto, Major Tomazini, Capitão Gray, Capitão Pacheco, Capitão Germano, Subtenente da Silva, 1º Sargento Cislinsky, 1º Sargento Daullo, 1º Sargento Wallace Carvalho e 2º Sargento Douglas Araújo. Todos são formados no Curso de Guerra na Selva do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), reconhecido como um dos melhores e mais completos cursos da área.

Conflitos e Crise Humanitária

A atuação da MONUSCO no Congo tem sido constantemente desafiada pela intensificação dos conflitos, especialmente pelo avanço do M23, que tem conquistado grande parte do território no Kivú do Norte. A operação Springbok, iniciada em outubro de 2023, foi fundamental para garantir a proteção de cidades como Sake e Goma até o cessar-fogo de julho de 2024. Porém, com a violação do cessar-fogo em janeiro de 2025 e o avanço do M23, a situação se tornou ainda mais complexa. Após a tomada de Goma pelo grupo rebelde, os combates cessaram temporariamente, mas a estabilidade continua incerta.

O Coronel Drumond destaca a importância da MONUSCO para a proteção dos civis e apoio às instituições do país, que continuam a enfrentar graves desafios. Além da violência dos grupos armados, a crise humanitária se agrava a cada dia. A cidade de Goma e seus arredores abrigam mais de 500 mil refugiados que sofrem com a falta de água, alimentos, medicamentos e infraestrutura básica.

Preparação e suporte às famílias

Apesar das dificuldades impostas pelas condições de guerra, os militares brasileiros são altamente capacitados, tanto nas escolas e cursos de formação quanto na preparação para as operações de paz e o enfrentamento de desafios complexos. O Coronel Drumond destaca que a transição entre um ambiente de paz e a realidade de um conflito é facilitada pelo rigoroso treinamento e pela preparação das tropas brasileiras. O condicionamento físico e psicológico tem se mostrado crucial para lidar com os momentos de maior pressão.

O Exército Brasileiro conta com o Centro Conjunto de Operações de Paz (CCOPAB), que tem como objetivo capacitar recursos humanos das Forças Armadas, de outros órgãos e de nações amigas para missões de paz e desminagem humanitária.

Os militares mantêm contato regular com suas famílias por meio de celulares e internet, que, embora precários, proporcionam o suporte emocional necessário durante o período de missão. Além disso, o serviço social das Forças Armadas oferece apoio às famílias dos militares em missão, assegurando o acompanhamento adequado à distância.

A Segurança e os Desafios Logísticos

A segurança na região é considerada de alto risco. A MONUSCO implementou medidas de proteção rigorosas, como a ocupação de bunkers durante situações de risco e o uso constante de capacetes e coletes balísticos. O Coronel e seus colegas de missão têm enfrentado ataques com armas de fogo e artilharia que atingiram diversas bases, causando danos à infraestrutura. O racionamento de alimentos e água é uma realidade durante os combates, uma vez que o ressuprimento das bases não é possível enquanto a situação permanecer instável.

Um dos desafios é o suporte à população civil que busca refúgio nas bases da MONUSCO, somando-se ao atendimento a combatentes que se rendem. A infraestrutura das bases não foi planejada para receber tantas pessoas ao mesmo tempo, o que coloca em risco a saúde pública e pode gerar uma crise sanitária.

O Compromisso do Brasil na Missão de Paz

O Brasil tem contribuído com a MONUSCO há vários anos, e desde 2013, a maioria dos comandantes da força tem sido oficiais generais do Exército Brasileiro. Recentemente, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, anunciou a nomeação do General de Divisão Ulisses de Mesquita Gomes como o novo Comandante da Força da MONUSCO, reforçando o compromisso do Brasil com a missão de paz no Congo.
Embora o mandato da MONUSCO tenha sido renovado até dezembro de 2025, o cenário continua imprevisível e desafiador. A segurança da região permanece frágil, e a missão da ONU segue com a responsabilidade de garantir a proteção dos civis, o que exige coragem, resiliência e cooperação internacional. Contudo, enfrenta desafios significativos, como a violência de grupos insurgentes, a instabilidade política e as condições de segurança precárias em várias regiões do país. Apesar das dificuldades, a missão continua a ser um pilar vital para a busca de uma paz duradoura na República Democrática do Congo.

A presença do Brasil e das Forças Armadas brasileiras no Congo enaltece a nação perante a comunidade internacional e perante população local revelando-se como uma importante contribuição que o Brasil pode dar para a paz e o desenvolvimento no mundo.

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