Ministros do Centrão e de outras siglas fora da esquerda vão participar de campanhas adversárias do PT nas disputas pelas prefeituras, em movimento que preocupa o Palácio do Planalto pelo risco de associação ao bolsonarismo. O presidente Lula da Silva (PT) já orientou os auxiliares segundo Lauriberto Pompeu, do O Globo, a não entrarem em “bola dividida”, mas os integrantes do primeiro escalão vêm sendo pressionados internamente a embarcarem nos palanques, ainda que do lado oposto esteja um nome apoiado pelo chefe do Executivo.
Com três indicados em ministérios, o União Brasil encara como prioridade a reeleição de Bruno Reis à prefeitura de Salvador. O gestor vem liderando todas as pesquisas. O prefeito é próximo a ACM Neto, secretário-geral da legenda, e recepcionou os titulares do Turismo, Celso Sabino, e das Comunicações, Juscelino Filho, seus colegas de partido, em um evento de Réveillon. Também está na cota da legenda a chefia do Desenvolvimento Regional, com Waldez Góes, alçado ao posto pela influência do senador Davi Alcolumbre (União-AP).
Sabino e Juscelino são próximos da cúpula da sigla e vão participar da campanha em que Reis terá como principal rival o vice-governador Geraldo Júnior (MDB), que terá o PT na coligação.
— Em números, o União Brasil é o que mais entrega votos para pautas do governo. Mas ainda não paramos para falar sobre eleições municipais — desconversa Sabino.
No PSD, o ministro André de Paula (Pesca) não vai apoiar o prefeito de Recife, João Campos (PSB), que tentará a reeleição com o endosso do PT. O titular da pasta vai embarcar em uma candidatura organizada pela governadora Raquel Lyra (PSDB), que deve ser encabeçada por PSDB, MDB ou PSD, que está à frente ainda dos ministérios da Agricultura, com Carlos Fávaro; e de Minas e Energia, com Alexandre Silveira.
— A governadora (Raquel Lyra) tem estabelecido uma relação extraordinária com o presidente Lula (…) que tem uma situação de muito conforto no estado — disse André de Paula.
Cálculo em São Paulo
No caso do MDB, além das pressões do governo federal e do próprio comando da sigla, há o fator adicional das diversas correntes internas que caminham em direções opostas. A despeito de ocupar três ministérios centrais da gestão Lula — Planejamento, com Simone Tebet; Cidades, com Jader Filho; e Transportes, com Renan Filho —, a principal aposta eleitoral do partido está vinculada a Jair Bolsonaro.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), vai concorrer à reeleição ancorado nas obras que tem feito pela capital e na popularidade do ex-presidente. Do outro lado da disputa, estarão os deputados Guilherme Boulos (PSOL), nome de Lula, e Tabata Amaral (PSB), apoiada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.
— Não é para ter aliança com bolsonaristas em nenhuma cidade. O PL é o abrigo deles. Acho muito ruim (ter ministros em campanhas com candidatos próximos a Bolsonaro) — disse a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ressaltando que ainda não tratou do tema com Lula.
Em reunião ministerial no fim do ano passado, Lula orientou os ministros a evitarem campanhas que possam provocar constrangimentos. É justamente este cálculo que tem deixado em dúvida ainda as presenças de Tebet, Jader e Renan ao lado de Nunes. Há chance de engajamento, mas os prós e contras ainda estão sendo contabilizados. A ideia é esperar para ver até onde vai a associação dele com Bolsonaro. Neste contexto, a ida do prefeito ao ato em que o ex-presidente reuniu apoiadores em São Paulo, há três semanas, foi encarada de maneira negativa por ministros emedebistas. Por outro lado, há o entendimento entre os ministros do MDB de que São Paulo é prioridade para o partido.
Haverá também uma “bola dividida” em Belém, terra natal do ministro das Cidades. O PT vai apoiar a reeleição de Edmilson Rodrigues (PSOL), enquanto o MDB deve lançar o deputado estadual Igor Normando, que está de saída do Podemos. Presidente da legenda no Pará, Jader Filho deve ter participação ativa na campanha de 2024 e tem a presença esperada no ato de filiação de Normando.
Em Maceió, cidade do ministro Renan Filho, o MDB disputará a prefeitura com o deputado federal Rafael Britto. Já o PT lançou o ex-vereador Ricardo Barbosa .
Ainda que a presidente do PT externe preocupações, outros petistas minimizam as divergências. O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, diz não ver com preocupação o cenário. Mesma opinião do coordenador do grupo do PT que organiza as eleições, o senador Humberto Costa (PE):
— Já tivemos eleições em situações semelhantes, em que às vezes algum ministro em sua região adota uma posição de maior independência.