A menos de um ano da eleição municipal, o presidente Lula (PT) tem um cenário em que partidos de seus ministros devem estar aliados a Jair Bolsonaro (PL) em ao menos cinco capitais.
Esse número ainda pode aumentar, segundo Marianna Holanda, Renato Machado e João Pedro Pitombo, da Folhapress, na medida em que as corridas pelas prefeituras vão se afunilar, com partidos retirando pré-candidaturas e formando alianças.
Por outro lado, Lula busca acertar arestas com a legenda do seu vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), porque há hoje oito capitais em que eles devem estar em palanques distintos.
PT e PL apostam nas eleições municipais do próximo ano para dar uma demonstração de força, em uma espécie de segundo round da eleição presidencial em que Lula venceu Bolsonaro. A expectativa é que a polarização seja reeditada.
Os pleitos são importantes para os petistas, primeiro, para poder reverter a derrota histórica de 2020, quando o partido do presidente não conseguiu eleger nenhum prefeito de capital brasileira.
Também, o partido ainda busca controlar máquinas locais e pavimentar o caminho para uma reeleição no Planalto em 2026 –ou eleição de um nome escolhido por Lula.
A nível federal, o governo Lula construiu uma grande base no Congresso Nacional para garantir a aprovação da sua pauta prioritária, atraindo para o seu lado partidos do centro e do bloco chamado centrão.
No entanto, poucos são os casos em que essas siglas deverão estar do lado petista ou do candidato que será apoiado por Lula, nas capitais. Isso porque esses partidos têm uma configuração que obedece mais aos critérios regionais de afinidade política do que nacional.
E uma das consequências será o governo ver essas siglas, em alguns casos, do lado bolsonarista. Esse cenário pode se dar em São Paulo, Salvador, Porto Alegre, Florianópolis e Maceió.
O PL quer lançar mais de mil candidatos próprios a prefeituras, e estar presente na cabeça de chapa na maioria das capitais, como no Rio de Janeiro, com o deputado Alexandre Ramagem. Mas nas capitais em que isso não for possível, se aliará aos outros partidos.
Em Porto Alegre, por exemplo, o prefeito Sebastião Melo (MDB) se juntou ao bolsonarismo na última campanha e deve dobrar a aposta para a reeleição, com seu vice do PL. O mesmo caso deve ocorrer nas outras capitais.
Na capital baiana, o partido de Bolsonaro chegou a lançar o ex-ministro João Roma como candidato à prefeitura. Mas hoje a tendência é de que se concretize uma aliança com o atual prefeito, Bruno Reis (União).
Já em Maceió, o PP, partido de André Fufuca (Esportes), deve indicar a vice na campanha de reeleição de João Henrique Caldas, hoje filiado ao PL de Bolsonaro.
No estado, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é aliado do prefeito e adversário de longa data do ministro Renan Filho, que também terá seu candidato em Maceió.
Hoje o caso mais emblemático desse nó eleitoral envolvendo a Esplanada é o de São Paulo. Por um lado, aliados de Bolsonaro buscam consolidar apoio do ex-presidente ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), que pertence ao partido de dois ministros do petista.
No estado governado pelo ex-ministro bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), é importante que o candidato se posicione mais à direita, sobretudo, para se contrapor à campanha de Guilherme Boulos (PSOL).
A relação de Bolsonaro e Nunes passa por percalços. E aliados querem um gesto mais contundente da parte do prefeito para o ex-presidente. Apesar das turbulências, Bolsonaro já disse a aliados que o atual prefeito seria o seu candidato, mas que só indicaria a vice para a chapa dele em março.
A vitória de Boulos é um dos maiores temores de bolsonaristas hoje.
Também na capital paulista, Lula verá Geraldo Alckmin em outro palanque, no da deputada Tabata Amaral (PSB), enquanto ele apoia Boulos.
De acordo com integrantes da legenda, Alckmin é puxador de votos entre eleitores mais moderados, sobretudo entre os paulistas. O vice-presidente foi governador do estado e tem apresentado a parlamentar a presidentes de entidades, sindicatos, etc.
São Paulo é um dos casos em que tanto integrantes do PT, quanto do PSB já dão como certo que estarão em palanques distintos. O cenário pode se repetir em outras capitais, caso as pré-candidaturas se mantenham até o dia 6 de outubro de 2024.
Os candidatos de Lula e Alckmin se enfrentam em Vitória (ES), Curitiba (PR), Natal (RN), Porto Velho (RO), Florianópolis (SC), Belém (PSB) e Palmas (TO).
Em Belém, por exemplo, o candidato de Lula deve ser um político de outra legenda aliada, o atual prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL), enquanto o PSB deve ir com Cássio Andrade.
Nesta semana, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o senador Humberto Costa (PT-CE), estiveram no PSB, com o presidente Carlos Siqueira, o ministro Márcio França (Micro e Pequena Empresa) e o prefeito João Campos (Recife), no que foi considerada a primeira reunião mais concreta sobre as municipais.
O caso de Recife é um exemplo das dificuldades, mesmo quando PT e PSB não se enxergam com outros parceiros. Campos vai buscar a reeleição, mas uma definição sobre a composição da chapa ainda não está no horizonte.
O PT não abre mão de indicar o vice. Mas João Campos resiste em aceitar entregar o cargo para os petistas ou alguém que não seja de sua confiança, considerando a possibilidade de que esse nome assuma a prefeitura com menos de dois anos de mandato, caso o pessedista opte por um voo mais alto em 2026.
O partido de Lula, por sua vez, já tem um nome também de olho na disputa de governador em três anos: o do senador Humberto Costa. A arbitragem final, dizem interlocutores, deve ficar a cargo do próprio presidente, se necessário for.
A base heterogênea de Lula em Brasília também deve resultar em um cenário em que em todas as capitais deve haver ao menos um nome de um partido de ministro ou aliado. As convenções partidárias que darão o desenho final da disputa ocorrem entre julho e agosto do ano que vem.