Com a antecipação da disputa pela sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara dos Deputados, que ocorrerá em fevereiro do próximo ano, ministros do governo Lula já embarcaram segundo Lauriberto Pompeu, do O Globo, a campanha para ajudar aliados. Os deputados Elmar Nascimento (União Brasil-BA), Marcos Pereira (Republicanos-SP), Antonio Brito (PSD-BA) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL) são hoje os principais cotados para concorrer ao posto e tentam o apoio do Palácio do Planalto ou ao menos minimizar os efeitos de eventuais resistências.
Correligionários dos pré-candidatos têm atuado para fortalecer os colegas e angariar a simpatia do Executivo. Há ainda um outro eixo de atuação: ministros do MDB, Republicanos e PSD tentam impedir que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoie Elmar, hoje o preferido de Lira. O objetivo é evitar o União Brasil à frente das duas Casas, já que Davi Alcolumbre (União-AP) é favorito para suceder a Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na presidência do Senado.
Esforços
Deputado licenciado do Republicanos e apoiador de Lula em 2022, quando a legenda ainda estava ao lado de Jair Bolsonaro, o ministro Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) concentra esforços para aproximar o deputado Marcos Pereira (SP), presidente do partido, do Planalto. Costa Filho, que tem boa relação com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já esteve em jantares com a presença de Pereira e do chefe da equipe econômica. O titular de Portos e Aeroportos também participou de encontros em Brasília entre Pereira e deputados do PT de São Paulo.
Recentemente, foi Costa Filho quem articulou a presença do aliado em um evento em São Paulo, que contou com a participação de Lula e também do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) — Pereira viajou com a comitiva no avião presidencial. Defensores desta candidatura também lembram que o deputado apoiou a reforma tributária e outras medidas econômicas defendidas pelo Planalto.
Já Elmar Nascimento, que enfrenta resistências de uma ala do governo, também conta com o empenho de ministros de seu partido, principalmente de Celso Sabino (Turismo) e Juscelino Filho (Comunicações). A pré-candidatura do deputado do União Brasil preocupa parte do Planalto, que considera sua forma de atuar semelhante à de Lira. O presidente da Câmara iniciou este ano legislativo com um discurso cheio de recados ao Executivo.
Aliado e amigo de Elmar, Sabino afirma que o deputado tem conseguido minar as resistências e ampliar o leque de apoio.
— A minha participação é a de menor importância, porque ele já construiu o caminho dele, com o plenário, com os deputados, com as lideranças e com o presidente da Câmara — disse o ministro do Turismo.
Da mesma forma, Juscelino minimiza o próprio papel na corrida do líder do União Brasil por apoios, mas ressalta o desejo de que ele tenha aval do Executivo:
— Claro que é nosso desejo que o PT e o governo o apoiem, mas não tratei disso com ninguém.
A relação entre o deputado e os ministros extrapola Brasília. Eles já estiveram juntos no carnaval de Salvador e em festas na Bahia no réveillon. Em outubro do ano passado, Juscelino, que é do Maranhão, esteve com Elmar em uma reunião com o ex-presidente José Sarney, em São Luís.
O ministro da Integração Nacional, Waldez Góes, indicado por Alcolumbre, também tem proximidade com o deputado. A principal estrutura do ministério de Waldez, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), é comandada por Marcelo Moreira, apadrinhado do líder partidário.
Além disso, o União Brasil da Câmara conseguiu expandir a influência na indicação das emendas parlamentares da área depois de Elmar garantir à legenda o comando da Comissão de Integração da Casa, que terá o controle de R$ 1,2 bilhão, a segunda maior quantia entre os colegiados.
Com história de embate com o PT e Lula, Elmar procura ter hoje uma relação amigável com o Planalto e, a aliados, nega que haja resistência dentro do governo a seu nome como opção para presidente da Câmara. Integrantes do União Brasil, no entanto, admitem que consideram difícil um cenário em que Elmar seja apoiado pelo PT.
Com atuação mais discreta por parte dos ministros de seu partido, o líder do PSD na Câmara, Antonio Brito, também tem procurado o apoio do governo. Ele tem uma participação ativa nos eventos do PSD ao redor do país e tem dialogado com os ministros Carlos Fávaro (Agricultura), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e André de Paula (Pesca) nesses espaços.
Já um eventual endosso do Planalto ao nome do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), representaria uma ruptura com Lira, uma vez que eles estão em lados opostos em Alagoas. A candidatura do emedebista é incentivada pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), rival do presidente da Câmara, e os movimentos de Isnaldo são acompanhados pelos ministros que são seus colegas de partido.
Pelo fato de serem aliados regionais, o ministro Renan Filho (Transportes) tem ficado a par com mais regularidade das ações. Apesar disso, mesmo os colegas de seu partido avaliam que é preciso aguardar se Isnaldo vai mesmo conseguir viabilizar sua candidatura.
A intenção do MDB é unir forças com PSD e Republicanos. Se Pereira ou Brito se mostrarem mais viáveis, a ideia é que o partido apoie um deles. No Republicanos, há ainda quem cite a hipótese de lançar o líder da sigla, Hugo Motta (PB), caso Pereira não se viabilize. Esse cenário, no entanto, não é admitido formalmente pelo partido.
Cálculos de Lula
Lira já disse ter recebido de Lula o recado de que não vai interferir na disputa e apoiará o nome escolhido pelo aliado, mas uma ala do governo trabalha para que o presidente da República tenha uma participação mais ativa e que influencie no nome de quem será o candidato, e que não seja Elmar.
Rivais do líder do União Brasil avaliam que ele entra com algumas fraquezas na disputa. Além do histórico ruim com o governo, há a falta de coesão interna no partido. Além disso, outros nomes do Centrão, como Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e Doutor Luizinho (PP-RJ), são apontados como alternativas ao estilo considerado mais contundente de Elmar.
A participação dos ministros também vai depender do nível de engajamento de Lula. Auxiliares do presidente apontam que em 2023 o chefe do Executivo praticamente abriu mão de participar do processo e deixou os deputados seguirem com o acordo de reeleger Lira.
Agora, integrantes do governo veem Lula com mais disposição de tentar influenciar a escolha e também avaliam que o poder de Lira está em processo de esvaziamento. A pulverização das candidaturas e a falta de um candidato considerado franco favorito é um indício disso.