Em sintonia com a nova postura do governo federal em relação à Comissão Mista Parlamentar de Inquérito (CPMI) sobre os ataques de 8 de janeiro, o ministro da Justiça Flávio Dino afirmou nesta terça-feira (25) segundo Kathlen Barbos, do O Globo, que a investigação a ser instalada no Congresso nesta semana é de “enorme importância” para que se cumpra aquilo “pelo que o governo está lutando”. Dino se referia à punição dos responsáveis pela invasão e depredação das sedes dos três Poderes em Brasília no início do ano.
Segundo o ministro, o posicionamento anterior do Planalto — contrário à investigação na esfera legislativa — partia de “uma orientação política do governo que sempre foi no sentido de preservar a pauta parlamentar: questão fiscal, emprego, economia e projetos para o país”:
— Mas a oposição fascista fez de tudo, exigia [a instalação da CPMI]. Tudo bem. Querem a CPI, façamos a CPI. A CPI nos termos da lei, nos termos da Constituição e fiel à verdade — ressaltou Dino em entrevista ao ICL Notícias.
Em entrevista ao lado do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reforçou neste sábado a independência do Legislativo ao ser questionado sobre a comissão:
— CPI é por conta do Congresso Nacional. Decida quando quiser decidir. Faça a hora que quiser fazer. O presidente da República não vota no Congresso Nacional — afirmou Lula.
Para Dino, as manifestações golpistas de 8 de janeiro foram conduzidas por três vertentes: o núcleo econômico — responsável por financiar os atos — que, segundo o ministro, não parece envolver grandes empresários: “Provavelmente uma rede descentralizada de empresários que são grandes em seus contextos regionais”; o núcleo político, cujo “personagem mais notável identificado e preso por ordem judicial é meu antecessor [Anderson Torres]”; e o núcleo militar: “Perto de 100 militares já foram ouvidos e o nível hierárquico deles está subindo”, salientou.
Ao ser questionado sobre o vazamento das primeiras imagens do interior do Palácio Planalto no 8 de janeiro, o ministro destacou a “alucinação bolsonarista” como justificativa:
— Esse vídeo é para tentar fortalecer essa alucinação: criar uma narrativa de que o general e o próprio governo de um modo geral participaram [das invasões]. Eu me preocupo muito até com a sanidade, pensando neles. É uma alucinação porque eles dizem que nós estávamos lá, nós sabíamos de tudo, nós participamos, planejamos, que havia infiltrados… Cadê os infiltrados? Nós já temos milhares de horas de gravações reveladas em diversos momentos: no Planalto, no Supremo, no Congresso. Cadê os infiltrados? Um nome! Cadê? — argumentou.
Dino afirmou ainda que gostaria de poder “se duplicar” para compor a CPI como senador, mas considera que tem “uma tarefa a cumprir no ministério”. Eleito senador pelo Maranhão, do qual foi governador entre 2015 e 2022, o ministro comentou sobre as acusações que a oposição bolsonarista tem feito, de que o governo teria planejado ou participado das invasões que aconteceram na capital uma semana após a posse de Lula:
— Eu sinceramente até vejo com um certo tom anedótico a ideia, quando ela é propalada, de que eu sou um dos alvos da CPI. Eu vejo isso quase como que uma tentativa caricatural e desesperada de inverter os termos do debate. E sinceramente não tenho nenhum receio para o governo e para o país de qualquer composição da CPI porque é muito simples: é verdade versus mentira. Quaisquer que sejam os deputados e senadores que lá estejam, é impossível criar base material para as fantasias que eles põem na internet — declarou o maranhense.