Passada a tão esperada apresentação de uma nova âncora fiscal para o País, o projeto vai receber aplausos segundo Vera Rosa, do Estadão, do PT e críticas ferozes da oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Certo? Errado. A maior briga para afrouxar as medidas de ajuste das contas públicas será pela esquerda. E, além disso, a pressão sobre o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vai aumentar.
“Se na próxima reunião do Copom o camarada não anunciar a redução dos juros, precisa chamar um psiquiatra”, disse à coluna o ministro do Trabalho, Luiz Marinho. “Acabaram todos os argumentos. O dólar está caindo e a inflação recuou, como era previsível.”
O Comitê de Política Monetária (Copom) tem encontro marcado nos dias 2 e 3 de maio e, por enquanto, ninguém arrisca prever o seu resultado. Tudo vai depender da reação do mercado financeiro ao arcabouço fiscal.
Nos últimos dias, Campos Neto elogiou o esforço do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para conter a trajetória explosiva de gastos. Apesar de manter bom diálogo com Haddad, Campos Neto ainda é visto, porém, como o vilão da temporada pelo PT e também por Lula, que já o chamou várias vezes de “esse cidadão”.
“Não basta elogiar e jogar a bola no meio do mato”, insistiu Marinho, ex-presidente do PT de São Paulo. “É preciso cair a ficha do pessoal do Copom porque a economia só vai crescer com a queda dos juros. Não sei qual a bússola que esse povo está consultando.”
Ao bater na taxa Selic de 13,75% ao ano, nos altos juros do crédito rotativo e prometer ações para melhorar a vida dos endividados, o governo adota um discurso que dialoga com a classe média.
No Palácio do Planalto, esse tipo de comunicação é chamado de “estratégia da cebola”. É que, nos primeiros cem dias de governo, Lula falou e lançou programas para o “núcleo duro” do seu eleitorado, que ganha até dois salários mínimos. Agora, parte para a “segunda camada”.
O movimento não tem, obviamente, a pretensão de atrair o bolsonarista “raiz”, mas, sim, os eleitores que, mesmo não tendo votado em Lula, consideram sua gestão “regular”.
O problema é que os sinais no Congresso estão trocados: as bancadas do PT e do PSOL criticam o marco fiscal, sob o argumento de que o aperto nos gastos põe em risco os investimentos e a popularidade de Lula.
Enquanto isso, o Centrão – liderado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) –, elogia o projeto. Questionado ontem sobre o tiroteio do PT, Haddad respondeu outra coisa que nem cebola era. Talvez seja bom mesmo chamar um psiquiatra.