A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, lançou na manhã deste último sábado (2) o seu aliado, o deputado federal Túlio Gadêlha (Rede-PE), como pré-candidato à prefeitura de Recife, capital pernambucana. A cerimônia não teve a presença de sua correligionária e ex-aliada, a ex-senadora Heloísa Helena, que preside o partido e encabeça uma ala que disputa internamente com o grupo da ministra.
Durante a solenidade, Marina pregou contra a polarização política e teceu elogios a Túlio:
— Uma liderança política jovem tem uma contribuição a dar sobre como é fazer uma prefeitura resiliente (…) Tem uma contribuição que a gente pode fazer agora, que é destensionar este ambiente polarizado. A política se tornou um ambiente tóxico, onde as pessoas estão agredindo umas às outras, dentro de suas casas, até nas igrejas. A gente pode fazer uma campanha bonita, um movimento para que você seja prefeito de Recife — disse a ministra.
A viabilidade da candidatura de Túlio, todavia, tem um impasse. Atualmente, a Rede está em federação com o PSOL, partido que já lançou a deputada estadual Dani Portela na disputa, com um pré-acordo já costurado com Heloísa Helena. Nesta manhã, a ex-senadora esteve presente em evento no Rio, de apoio ao pré-candidato Tarcísio Motta (PSOL-RJ).
Dirigentes apontam que, até a data das convenções partidárias, um dos dois nomes será escolhido para representar a federação. A tendência é de que Túlio Gadêlha seja preterido, a não ser que o PSOL abra mão de lançar sua parlamentar.
Em Recife, o prefeito João Campos (PSB) disputará a reeleição com o apoio do PT, que quer indicar seu vice. O partido dá como certa a aliança e já se debruça sobre três nomes para a composição; por outro lado, aliados de Campos avaliam que a parceria não está definida, já que, com a intenção do prefeito de tentar o governo de Pernambuco em 2026, o PT herdaria o comando da capital, caso ele fosse eleito.
Impasses em outras capitais
Além de Pernambuco, as alas de Marina Silva e Heloísa Helena têm outros impasses em outras capitais. Em Belo Horizonte, na semana passada, a sigla lançou dois pré-candidatos, um de cada ala.
Tudo começou quando o grupo da ex-senadora lançou o porta-voz da legenda e ex-vice-prefeito, Paulo Lamac. No final de semana seguinte, contudo, a ministra esteve na capital mineira para fazer um anúncio semelhante, mas sobre o nome da deputada estadual Ana Paula Siqueira.
Natal é outra capital em que os grupos de Marina e Heloísa não se entendem. O apoio da Rede a Natália Bonavides (PT) tem gerado desconforto. A ala ligada à ministra do Meio Ambiente, representada pelo porta-voz estadual, João Gentil, defende que o partido esteja no palanque da deputada. No entanto, o PSOL ainda não descartou a possibilidade de lançar um nome próprio, o que é avaliado como uma melhor opção pelo grupo da ex-senadora.
Divisão interna
Os grupos de Marina e Heloísa polarizaram a Rede Sustentabilidade. Na executiva nacional, 53% dos integrantes fazem parte do ala da ex-senadora, enquanto 47% estão com a ministra. O impasse entre os grupos tem um viés ideológico por trás: enquanto a ministra se declara sustentabilista, a ex-senadora defende o ecossocialismo, que associa a preservação do meio ambiente à mudança do sistema econômico.
No ano passado, a tensão entre os grupos chegou, inclusive, à Justiça. Isso porque, em agosto, a tesoureira Juliana de Sá, aliada de Marina, foi afastada de seu cargo. Após uma liminar, o grupo da ministra restabeleceu o cargo. Nos bastidores, seus aliados acusam Heloísa Helena de fazer uma gestão autoritária.
Além das brigas internas, outro ponto de diferença entre as alas é o alinhamento ao governo federal. De um lado, o grupo de Marina, junto com a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, Túlio Gadêlha e a deputada estadual Marina Helou são aliados do presidente Lula. Do outro, a ala de Heloísa mantém críticas à gestão petista.