A ministra Nísia Trindade (Saúde) afirmou segundo a colunista Vera Magalhães, que não tem problema em enfrentar pressões políticas, mas que o tipo de investida que vem sendo feita sobre a pasta por setores do Centrão está atrapalhando seu trabalho. “”Já passei por muita pressão política, até porque fui presidente da principal instituição de saúde em um governo negacionista, lutei e consegui contribuir para que a população tivesse vacinas. Então, não me considero nem um pouco uma pessoa que não possa receber pressões. Só que essa pressão está dificultando o meu trabalho”, afirmou em entrevista ao Viva Voz, na rádio CBN.
Nísia vê conotações machistas no tipo de cobrança que é feita a sua gestão à frente da pasta. Segundo ela, as cobranças feitas a mulheres sempre incluem componentes sexistas, como a alegação de que não têm “pulso firme” ou não falam “grosso”. Ela confirmou que fez um desabafo a esse respeito na reunião ministerial da última segunda-feira, quando disse que não deixará de falar “fino” porque é uma mulher, mas que isso não significa que ela não tenha condições de gerir a pasta.
Na entrevista, Nísia reconheceu a crise dos hospitais federais, que classificou como um problema “histórico”. Ela atribuiu o agravamento da situação ao governo Bolsonaro, e chegou a lembrar que indicações feitas pelo senador Flávio Bolsonaro para os hospitais federais do Rio motivaram um capítulo específico no relatório final da CPI da Covid.
Em relação à gestão da crise de dengue, a ministra garantiu que as vacinas compradas pelo ministério não vão vencer sem ser aplicadas, mas ressaltou que a vacinação não é a “solução” para a atual epidemia, porque a imunização só se completa depois de alguns meses. A explicação evidencia a dificuldade de o governo comunicar corretamente nessa emergência sanitária: afinal, se não é “solução”, por que a inclusão da vacina no SUS foi anunciada como grande trunfo? E por que, depois de feito, a aplicação da vacina foi tão errática?
A ministra demonstrou estar disposta a fazer o que Lula recomendou: falar mais das realizações da pasta e responder às pressões. Ele também pediu atenção a como as políticas públicas chegam “na ponta”, ou seja, na população.
Nísia disse que falou nesta quarta-feira com o presidente da Câmara, Arthur Lira, para esclarecer a insatisfação da Casa com a resposta dada pelo ministério a um ofício cobrando a explicitação de critérios para a distribuição de recursos federais para municípios. Ela disse que ficou de mandar as informações de forma mais detalhada, mas repetiu que não houve favorecimento político a determinadas cidades em detrimento de outras.
Ela evitou comentar a ameaça de bastidores, relatada na minha coluna no GLOBO nesta quarta-feira, de que pode ser alvo de uma convocação no plenário da Casa. Disse que sempre teve uma relação cordial com Lira.