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sexta-feira 25 de agosto de 2023 às 12:57h

Ministério de Carlos Fávaro pode ir para a bancada do PP

DESTAQUE, NOTÍCIAS, POLÍTICA


Em meio ao impasse da reforma ministerial, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), subiu nos últimos dias o tom das críticas ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. A postura alimentou rumores segundo Andrea Jubé, Rafael Walendorff e Fabio Murakawa , do jornal Valor, de que Fávaro estaria oscilando no cargo, que poderia passar ao grupo político de Lira na dança das cadeiras da Esplanada. Apesar da pressão de Lira, o governo não quer saber de atrito com o PSD, legenda do ministro.

A fritura a que Fávaro está exposto desponta num momento em que a demora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em tomar uma decisão sobre as mudanças no primeiro escalão irrita os aliados e eleva a temperatura no Congresso. Lula desembarca na noite deste domingo (27) em Brasília, após a viagem à África, em meio à expectativa de que conclua as negociações na próxima semana.

Há pelo menos um mês, Lira – que tem trânsito fluente na frente parlamentar da agropecuária (FPA) – vem reiterando críticas ao ministro da Agricultura. No dia 31 de julho, ao participar do programa “Roda Viva”, criticou o direcionamento de recursos de emendas a municípios de Mato Grosso, base eleitoral do ministro. Contudo, não citou Fávaro nominalmente.

“Não acho justo que um ministro que não teve um voto, não fez concurso público para ser ministro, mande R$ 150 milhões para sete municípios da cidade [estado] dele usando o mesmo orçamento que vocês [jornalistas] chamavam de secreto ontem”, afirmou.

Nesta semana, Lira reiterou as críticas em eventos públicos, e, desta vez, citou o nome de Fávaro, sugerindo que o ministro deveria deixar o cargo. Em rodas menores, Lira tem afirmado que Fávaro desrespeitou o Congresso ao concentrar os recursos das emendas em seu Estado, segundo relato ao Valor de uma fonte da bancada da agropecuária.

Objetivo seria elevar a pressão por um ministério relevante para a bancada do PP

Já no início da gestão, Fávaro indispôs-se com alas do agronegócio. Em abril, declarou ter sido “desconvidado” para a abertura da Agrishow, maior feira da agropecuária em Ribeirão Preto (SP), porque o ex-presidente Jair Bolsonaro compareceria ao evento, ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

Outro fator de insatisfação de alas do agronegócio seria a suposta inação do ministro para turbinar os recursos do seguro rural no Plano Safra 2023-2024.

Uma fonte da FPA disse ao Valor que representantes da bancada pleitearam diretamente ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que interviesse para elevar o orçamento do seguro rural.

Em julho, Haddad anunciou a inclusão do seguro rural na agenda de reformas financeiras. Fávaro também tem tratado do assunto em declarações públicas, afirmando que tem atuado para elevar o valor dos recursos, mas que acha difícil atingir os R$ 2 bilhões pleiteados.

Apesar da sucessão de críticas, Fávaro teve seu momento de lua de mel com o segmento quando anunciou no começo de julho um volume recorde de recursos para o Plano Safra 2023-2024: R$ 364 bilhões para médios e grandes produtores, e R$ 77 bilhões para a agricultura familiar.

Outro momento de demonstração de apoio de integrantes da FPA ao ministro foi a atuação do líder da bancada, Pedro Lupion (PP-PR) para evitar que ele fosse convocado pela CPI que investiga o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

O requerimento foi transformado em convite, e Fávaro compareceu ao colegiado no dia 17 de agosto, quando respondeu às perguntas dos deputados em uma sessão tumultuada. Fávaro deu brecha para uma discussão quando afirmou que é legítimo o direito dos manifestantes de reivindicar o direito à terra. Ele teve de reiterar, mais de uma vez, que considera crime a invasão de terras e de prédios públicos.

Procurado pela reportagem, por meio de sua assessoria, o ministro preferiu não se manifestar. Entretanto, o Valor ouviu aliados do ministro, que saíram em sua defesa, mas pediram anonimato.

Aliados de Fávaro asseguram que ele segue firme no cargo, respaldado por Lula, pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, e pelas bancadas do PSD nas duas Casas legislativas.

Sobre as queixas reiteradas por Lira – e pelos parlamentares, de modo geral – ao repasse de cerca de R$ 130 milhões em emendas para municípios de Mato Grosso, aliados do ministro alegam que o ato contou com aval da Casa Civil, e estaria seguindo um cronograma, pelo qual outros Estados serão contemplados em seguida.

Na avaliação de um correligionário de Fávaro, Lira estaria aproveitando uma fase de desgaste do ministro – com o episódio das emendas para Mato Grosso, e declarações desastradas na CPI – para fritá-lo, e elevar a pressão junto a Lula por um ministério relevante para a bancada do PP.

Mais de uma fonte do Palácio do Planalto confirmou ao Valor que Fávaro está sendo alvo de fritura liderada por Lira e pelos parlamentares, insatisfeitos com o favorecimento de Mato Grosso no repasse das emendas.

As mesmas fontes rechaçam, todavia, eventual saída do ministro do cargo, ou que o Ministério da Agricultura seja transferido para o grupo de Lira na reforma ministerial. O principal argumento é de que o PSD tem sido um aliado leal, e que Lula não entrará em atrito com a legenda.

Nesta terça-feira (29), o ministro da Agricultura tem uma ampla agenda com dezenas de entidades representativas do agronegócio, como Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e Organização das Cooperativas do Brasil (OCB). O índice de comparecimento das convidadas à reunião testará a força política do ministro neste momento.

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